Flamengo começa janela 'à la Bayern' com movimentos que impactam o Brasileirão
Com entrevistas exclusivas, Lance! compara a lógica de mercado das duas potências

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Há pouco mais de uma semana, o novo CEO do Grêmio, Alex Leitão, afirmou que o presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, deseja transformar o clube no Bayern de Munique brasileiro. A ideia é que o Rubro-Negro alcance no cenário nacional um domínio semelhante ao exercido pelo clube alemão na Bundesliga, especialmente na área de direitos comerciais. Além disso, o início da atual janela de transferências dos cariocas também permite comparações com a postura bávara no mercado.
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A diretoria rubro-negra deve fechar a contratação do zagueiro Vitão, de 25 anos, do Internacional, como o primeiro reforço para 2026. Na mesma linha, apresentou ao Cruzeiro uma proposta de 30 milhões de euros (cerca de R$ 186 milhões) pelo centroavante Kaio Jorge, de 23 anos. Os movimentos se assemelham à prática recorrente do Munique, que prioriza a busca por jovens destaques no mercado interno.
Com essa estratégia, o gigante europeu passou a enfraquecer os rivais e assegurar em seu elenco os principais jogadores do país. Os vermelhos se beneficiam do trabalho de prospecção de outros clubes e contratam atletas já consolidados e testados no território local. Entidade de maior receita do futebol brasileiro, o Flamengo inicia a janela com ideal semelhante, apesar do êxito ainda incerto. Assim, o movimento sinaliza uma mudança de paradigma no cenário nacional, ao indicar que o Mais Querido não pretende atuar como formador para a Europa, mas manter um elenco capaz de sustentar resultados de alto nível nas competições que disputa.
Na última janela de transferências, o Flamengo não realizou contratações definitivas de jogadores do Brasileirão. Ainda assim, a lógica não é inédita, e o elenco multicampeão em 2025 carrega heranças de movimentos semelhantes em períodos anteriores. Na temporada passada, o clube acertou a contratação de Léo Ortiz, do Bragantino, e, no início do ano histórico de 2019, fechou com Giorgian de Arrascaeta, então no Cruzeiro; Rodrigo Caio, do São Paulo; e Bruno Henrique, do Santos.
Reforços de rivais do Brasileirão do Flamengo desde 2019 🔴⚫
Léo Ortiz (do Bragantino — R$ 43 milhões)
Allan (do Atlético-MG — R$ 35 milhões)
Fabrício Bruno (do Bragantino — R$ 15 milhões)
Marinho (do Santos — R$ 7 milhões)
Santos (do Athletico-PR — R$ 15,5 milhões)
Léo Pereira (do Athletico-PR — R$ 32 milhões)
Michael (do Goiás — R$ 34,5 milhões)
Gustavo Henrique (do Santos — sem custos)
Bruno Henrique (do Santos — R$ 23 milhões)
Arrascaeta (do Cruzeiro — R$ 55 milhões)
Rodrigo Caio (do São Paulo — R$ 22 milhões)
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A base do elenco do Bayern, por sua vez, é tradicionalmente formada por uma combinação de atletas revelados em suas categorias de base, contratações de destaques da Bundesliga e, de forma pontual, reforços provenientes do exterior. No mercado interno, o clube construiu pilares de sua história recente ao contratar jogadores como Manuel Neuer, Robert Lewandowski e Joshua Kimmich.
Reforços de rivais da Bundesliga do Bayern desde 2010 🔴🔵
2009/10:
Mario Gómez (Stuttgart — € 30 milhões)
Ivica Olic (Hamburgo — sem custos)
Alexander Baumjohann (Borussia Mönchengladbach — sem custos)
2010/11:
Luiz Gustavo (Hoffenheim — € 17 milhões)
2011/12:
Manuel Neuer (Schalke — € 30 milhões)
2012/13:
Mario Mandžukić (Wolfsburg — € 13 milhões)
Dante (Borussia Mönchengladbach — € 4,7 milhões)
Tom Starke (Hoffenheim — sem custos)
Claudio Pizarro (Werder Bremen — sem custos)
2013/14:
Mario Götze (Borussia Dortmund — € 37 milhões)
Jan Kirchhoff (Mainz — sem custos)
Sinan Kurt (Borussia Mönchengladbach — € 300 mil)
Sebastian Rode (Eintracht Frankfurt — sem custos)
2014/15:
Robert Lewandowski (Borussia Dortmund — sem custos)
2015/16:
Joshua Kimmich (Stuttgart — € 8,5 milhões)
Sven Ulreich (Stuttgart — € 3,5 milhões)
2016/17:
Mats Hummels (Borussia Dortmund — € 35 milhões)
2017/18:
Niklas Süle (Hoffenheim — € 20 milhões)
Sandro Wagner (Hoffenheim — € 13 milhões)
Serge Gnabry (Werder Bremen — € 8 milhões)
Sebastian Rudy (Hoffenheim — sem custos)
2018/19:
Leon Goretzka (Schalke — sem custos)
2019/20:
Benjamin Pavard (Stuttgart — € 35 milhões)
Michaël Cuisance (Borussia Mönchengladbach — € 8 milhões)
Jann-Fiete Arp (Hamburgo — € 3 milhões)
2020/21:
Nenhum
2021/22:
Dayot Upamecano (RB Leipzig — € 42,5 milhões)
Marcel Sabitzer (RB Leipzig — € 15 milhões)
Sven Ulreich (Hamburgo — sem custos)
2022/23:
Yann Sommer (Borussia Mönchengladbach — € 9 milhões)
2023/24:
Konrad Laimer (RB Leipzig — sem custos)
Raphaël Guerreiro (Borussia Dortmund — sem custos)
2024/25:
Hiroki Ito (Stuttgart — € 23,5 milhões)
Jonas Urbig (Köln — € 7 milhões)
2025/26:
Jonathan Tah (Bayer Leverkusen — € 2 milhões)
Tom Bischof (Hoffenheim — € 300 mil)
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A estratégia do Bayern no mercado de transferências só se alimenta em razão da ampla disparidade financeira em relação aos demais clubes. No Brasil, jamais houve um cenário de soberania semelhante, o que levou as principais equipes a recorrerem historicamente a apostas em outras ligas sul-americanas ou a jogadores em baixa no futebol europeu. Com a reestruturação financeira de Flamengo e Palmeiras, esse panorama começou a mudar, o que possibilitou que ambos passassem a contratar atletas de rivais em pleno auge por meio de propostas competitivas.
Para Cesar Grafietti, consultor de gestão e finanças do esporte, existe a possibilidade de o Rubro-Negro construir uma superioridade relevante no contexto doméstico. Na avaliação do especialista, a tendência é de ampliação da distância em relação ao principal rival do momento, o Verdão:
O adversário de maior potencial, o Corinthians, atravessa uma crise financeira e institucional profunda. O São Paulo seria um adversário que incomodaria, mas padece do mesmo problema do rival paulista, e o Palmeiras parece ter atingido seu limite.
Cesar Grafietti, sobre o domínio financeiro rubro-negro

Saudável à concorrência? 🏥
Embora a possível soberania rubro-negra cause apreensão, a mudança de postura pode beneficiar o Brasileirão, com maior movimentação financeira entre os clubes do país — ao mesmo tempo que enfraquece concorrentes diretos — e a possibilidade de manter os principais jogadores da liga no Brasil, em vez de exportar talentos. Essa dinâmica ocorre na Alemanha e também em ligas mais equilibradas, como a inglesa, onde os clubes da Premier League costumam priorizar negociações internas de valores elevados.
— Pode ser positivo para o mercado, uma espécie de transferência de renda. É algo que acontece nos principais mercados europeus: os maiores contratando atletas dos menores, e esse dinheiro permitindo que esses clubes se sustentem e sigam descobrindo atletas. Cabe aos vendedores saberem usar esse dinheiro, investindo em atletas jovens e com bom potencial, e não em nomes que não entregam nada há anos — analisou Grafietti.
Receitas do sucesso 💰
Ao analisar a Alemanha, onde está inserido o Bayern, percebe-se que a supremacia do clube no cenário nacional não é necessariamente um fator positivo, mas pode ser compreendida. Para explicar esse fenômeno, nada melhor do que recorrer a quem acompanha diariamente o futebol local, como o jornalista argentino Ezequiel Daray, que deixou seu país natal e vive na Germânia há mais de 15 anos.
Ao Lance!, ele explica que o processo de reestruturação financeira da instituição não começou recentemente, mas remonta à década de 1970, especialmente após o clube conquistar uma sequência de títulos nacionais e europeus. Mesmo sendo vitoriosa em campo, a equipe enfrentava limitações organizacionais fora dele. A estabilidade só foi alcançada quando um profissional deixou os gramados para se destacar no escritório: Uli Hoeneß, ex-parceiro de ataque do eterno Gerd Müller.
— Era um Bayern que tinha muito sucesso nos anos 70 e que havia vencido a Copa da Europa três vezes seguidas, mas que não tinha um centavo. O clube estava quebrado, e Uli Hoeneß inventou o marketing no futebol copiando o modelo do futebol americano. Foi o primeiro time da Alemanha a fazer turnês. Foi também o pioneiro na publicidade em camisas, na venda de merchandising e na realização de transferências de jogadores que eram impensáveis na época — explicou.

Assim como é possível observar no Flamengo, que vem colhendo os frutos do processo de reestruturação iniciado em 2013 na gestão do presidente Eduardo Bandeira de Mello — marcado pela conquista da Copa do Brasil daquele ano — o Bayern continua a colher os resultados de medidas organizacionais iniciadas daquela época.
No século XXI, a entidade aprimorou ainda mais sua estrutura e, embora a Bundesliga seja uma liga que favoreça a igualdade entre os clubes financeiramente, a equipe da região sudeste alemã mantém-se à frente, principalmente devido ao potencial de receita de sua marca, tanto no mercado interno quanto internacional, não apenas pelo tamanho de sua torcida, mas também pelo consumo associado a ela.
A vantagem competitiva está no marketing, pois enquanto muitos clubes são patrocinados por empresas locais, o Bayern tem investidores como Allianz, Audi e Adidas, além de patrocinadores como a Deutsche Telekom, uma das maiores empresas da Alemanha. Devido à importância e à transcendência do Bayern, o marketing e o patrocínio são muito superiores, e é aí que eles se distanciam de todos os outros.
Ezequiel Daray, sobre a disparidade de renda do Bayern na Alemanha.
A comparação com o Flamengo evidencia semelhanças: o Rubro-Negro possui o maior número de torcedores do país, lidera a arrecadação de bilheteria, conta com os patrocinadores mais rentáveis e recebe uma das cotas de televisão mais elevadas. No entanto, o contexto histórico difere do europeu, já que o Brasil apresenta maior rotatividade no topo do futebol e em suas competições.
No caso do Munique, a tendência de dominância deve se intensificar devido à lógica de gestão adotada pela Uefa e pela Fifa nas últimas temporadas, que privilegia os grandes clubes e as premiações das principais competições, como a Champions League, com a nova fase de liga, e a Copa do Mundo de Clubes. Dessa forma, o predador alemão terá ainda mais facilidade para se impor sobre as presas nacionais.
— Essa desigualdade vai piorar e, na Alemanha, como não é permitida a entrada de grandes investidores porque os torcedores não aceitam e a legislação não permite — impedindo que um investidor coloque dinheiro em um clube como o Werder Bremen, por exemplo —, não é provável que a situação mude no futuro. Pelo contrário, a tendência é piorar — completou.
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