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Ace do Acioly – João Fonseca e o xadrez do circuito: aprendizados, atalhos e armadilhas

O calendário é peça-chave na trajetória de um tenista profissional

João Fonseca comemora ponto na vitória sobre Bergs em Eastbourne (Divulgação)
imagem cameraJoão Fonseca comemora ponto na vitória sobre Bergs em Eastbourne (Divulgação)
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 07/08/2025
11:31
Atualizado há 2 minutos

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Muito se tem falado sobre o calendário de torneios do João Fonseca — e, sinceramente, acho ótimo. É sinal de que o tênis brasileiro está vibrando, discutindo, prestando atenção. Só lamento quando as críticas são feitas com pouco embasamento, mas entendo que no Brasil todo mundo gosta de dar seu “pitaco” — e está no direito.

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Foi pensando nisso que resolvi trazer à tona alguns dados, comparativos, bastidores e, claro, a minha visão. Não só como ex-jogador, mas principalmente como treinador que já montou calendários para diversos atletas no circuito ATP. E acredite: o calendário é peça-chave na trajetória de um tenista profissional.

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🎯 O objetivo inicial: entrar no Top 100

É o primeiro grande marco. Estando entre os 100 melhores, o jogador começa a montar um calendário com mais previsibilidade: consegue entrar direto nos torneios maiores, incluindo os Grand Slams. Já quem está fora, vive em constante incerteza, esperando listas de entrada, escolhendo entre Challengers e qualificatórios de ATPs.

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E uma vez dentro do Top 100, o jogo muda de figura. O caminho natural é a evolução rumo ao Top 50, onde o tenista praticamente “é obrigado” a disputar todos os Grand Slams, os Masters 1000, alguns ATP 500 e poucos ATP 250. A partir daí, entender o sistema, as regras de entrada e as possibilidades se torna fundamental — e decisivo para a carreira.

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👥 Casos de sucesso: Guga e Djokovic

Dois grandes exemplos ajudam a ilustrar o impacto de um calendário bem (ou mal) executado. 

Vamos usar como ponto de partida o momento em que Guga e Djokovic entraram no Top 100 — exatamente onde o João está agora.

📊 GUSTAVO KUERTEN – GUGA

1996            25              188 → 88

1997

            28

                87 → 14

1998

            29

                14 → 23

1999

            27

                23 → 5

TOTAL

DE TORNEIOS EM 4 ANOS: 109

📊 NOVAK DJOKOVIC

2005            15*                186 → 78

2006

            22

                  78 → 16

2007

            24

                  16 → 3

2008

            21

                    3 → 3

TOTAL 

DE TORNEIOS EM 4 ANOS: 82

*Em 2005, jogou apenas dois torneios após o US Open, possivelmente por lesão.

Diferenças entre Guga e Djokovic

A diferença salta aos olhos: Guga jogou bem mais torneios nesse período. Naquela época, montar calendário era um verdadeiro quebra-cabeça, principalmente por causa da variação extrema dos pisos. Saibro lento, grama super rápida, quadras duras instáveis… Era quase um novo esporte em cada gira.

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Essa variação fazia os jogadores se dividirem entre duas estratégias: jogar de tudo, sabendo que os pisos desfavoráveis trariam derrotas, ou focar apenas nos mais adequados ao seu estilo. Mais torneios significava menos tempo de treino, menos descanso, pré-temporada mais curta e maior desgaste físico e mental.

Acredito que isso impactou diretamente na carreira do Guga, que sofreu com uma grande lesão e não conseguiu jogar tantos anos quanto poderia. Uma pena, pois ele certamente iria ter ganho muitos mais se tivesse tido mais tempo de circuito.

Já Djokovic chegou ao circuito num momento de mudança. Em 2002, Wimbledon trocou a grama por um tipo mais firme e lenta. A tendência se espalhou. Quadras duras e cobertas também ficaram mais lentas. As bolas? Mais pesadas e lentas também.

Isso uniformizou o jogo, facilitando o planejamento dos torneios. Era possível jogar o ano todo e ser competitive com ajustes mínimos. Para um jogador versátil como Djokovic, isso foi ouro. E é uma das razões da sua longevidade e sucesso — que o mantém brigando por títulos aos 38 anos.

João Fonseca na vitória sobre Brooksby em Wimbledon (Divulgação/AELTC/Florian Eisele)
João Fonseca na vitória sobre Brooksby em Wimbledon (Divulgação/AELTC/Florian Eisele)

E o calendário do João Fonseca?

🧱 A fase de construção

João Fonseca está em um momento único: jogando os maiores torneios ainda muito jovem. É tentador mirar apenas o curto prazo, mas o ideal é pensar grande e com visão de médio a longo prazo.

Sempre planejei meus jogadores para chegar ao “limite” — e quando isso acontecia, já tínhamos o próximo passo desenhado. Isso vale para o João: o caminho ao topo precisa ser construído com base no que funciona para ele — eliminando rapidamente o que não traz resultado. 

O número de torneios que ele jogar nestes primeiros anos de Tour pode ser determinante para o sucesso no decorrer de sua carreira.

🔧 Estilo de jogo e adaptação

A boa notícia: hoje os pisos são mais uniformes, o que ajuda muito. Sacar bem, bater forte do fundo, ser consistente e se mover com eficiência virou o padrão — e João tem tudo isso.

Ele é técnico, completo e adaptável. Os ajustes entre pisos são o maior desafio — e até nisso ele vem mostrando evolução. A tendência é melhorar ainda mais com o tempo.

🧠 Desenvolvimento contínuo

Todo tenista precisa estar em constante evolução. Ficar igual de um ano para o outro é sinônimo de retrocesso. Melhorar saque, direita, devolução, voleios, movimentação, defesa, transição… tudo isso faz parte da construção de um jogador top.

E o calendário precisa estar alinhado a esse processo. Pré-temporada é sagrada. É nela que se corrigem falhas e se adicionam novas armas. Ano após ano!

No caso do João, vejo progresso tanto nos torneios quanto após os períodos de treino. O trabalho do Guilherme (treinador) mostra consciência disso.

💼 Compromissos fora da quadra

A carreira de um tenista também se parece com o crescimento de uma empresa. João deixou de ser um “Microempreendedor” e virou rapidamente uma empresa grande — a caminho de se tornar uma multinacional.

Com o crescimento vêm os compromissos comerciais: patrocínios, garantias financeiras para jogar certos torneios, aparições em eventos… Isso tudo precisa ser considerado no planejamento.

Minha torcida é para que o que mais pese sempre seja o que acontece dentro da quadra. Que o Gui tenha liberdade para fazer o que é melhor tecnicamente — e que o calendário seja o grande aliado rumo ao topo.

Vamos aos dados do brasileiro:

📊 João Fonseca 2024/2025

2024                26                730 → 145

2025

                20**

                145 → 47

** Inclui torneios até a Laver Cup em setembro.

Com 16 torneios já disputados até agora, João tem mais 4 eventos confirmados: Cincinnati, US Open, Copa Davis e Laver Cup. Isso totaliza 20 torneios. Aina há a possibilidade de ir a Shanghai (Masters 1000) — mas aqui vai meu “pitaco” (com todo respeito, Gui!):

👉 Shanghai é tentador, mas o desgaste da viagem e do fuso horário após a gira americana pode prejudicar o final da temporada.

Minha sugestão: três semanas de treino pós-Laver Cup e fechar o ano com quatro torneios em quadra coberta na Europa. Isso levaria o total de 2025 para 24 torneios, um número excelente para sua primeira temporada completa no ATP Tour.

Cincinnati começa hoje.

Vai com tudo, João!! 

Muita sorte e Pau na Bola!!!

Abraços,
Pardal

Ace do Acioly no Lance!:

Ricardo Acioly escreve mensalmente no Lance! abordando o tênis. Leia mais publicações do colunista:

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