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Ace do Acioly: Game, Set, Match! Acabou a temporada de grama!

Para a grande maioria do mundo, o verdadeiro templo do tênis é Wimbledon

Grama apadara em uma quadra no primeiro dia de Wimbledon (foto: Glyn KIRK / AFP)
imagem cameraGrama aparada em uma quadra antes do primeiro dia de Wimbledon (foto: Glyn KIRK / AFP)
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 17/07/2025
11:38

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Antes de falar das finais masculina e feminina, precisamos entender o que o torneio jogado em SW19 (o CEP de Wimbledon) representa para o tênis mundial. Por conta dos três títulos de Guga em Roland Garros e dos bons resultados de Bia Haddad e Fernando Meligeni por lá (semifinalistas), nós brasileiros temos uma conexão maior com o saibro francês. Mas para a grande maioria do mundo, o verdadeiro templo do tênis é Wimbledon, na grama sagrada de Londres.

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➡️ Ace do Acioly: Roland Garros 2025 – emoção, drama e protagonistas do futuro

A tradição, a estrutura e a gestão do evento fazem dele algo único. Wimbledon é disputado no All England Lawn Tennis and Croquet Club, fundado em 1868, com pouquíssimos sócios — muitos deles membros da realeza. O torneio é fiel às suas raízes, mesmo inovando quando necessário.

Quem joga lá sente isso logo de cara: uniforme branco obrigatório, 3 vestiários separados, quadras de treino diferentes das de jogo, tênis com travas especiais para não danificar a grama… e muito mais. Sem contar que os campeões de simples se tornam membros honorários do clube — um privilégio raro.

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Pra ilustrar: uma vez, fui aquecer na última quadra de treino, meio escondida, usando um colete colorido porque estava frio. Em menos de cinco minutos, a senhora responsável pelas quadras veio até mim e disse: “My dear, ou você tira o colete e fica todo de branco, ou sai da quadra!”
Minha resposta: “Of course, madam!”

Na gestão do evento, tudo é igualmente rigoroso. A Royal Box da quadra central é exclusiva para VIPs e membros da realeza, com traje obrigatório de terno e gravata para os homens. Antigamente, os jogadores tinham que saudar o Box ao entrar e sair da quadra — algo que hoje foi abolido. Você acha que deveriam ter mantido?

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Conseguir ingresso não é fácil nem barato. Em 2024, foram 526.455 ingressos vendidos — número que deve ser ainda maior este ano. Há sorteio aberto ao público oito meses antes, com menos de 3% de sorteados que terão direito a comprar 2 ingressos. Existe também a tradicional fila para compra no dia — The Queue — com valores acessíveis — onde torcedores chegam a passar a noite acampados para garantir entrada.

Os patrocinadores? Poucos e extremamente seletivos. O uso da marca Wimbledon é altamente restrito e não há marcas expostas nas lonas ao fundo das quadras — um espaço caríssimo em qualquer outro torneio.

Enquanto o mundo busca formatos rápidos, experiências curtas e retornos imediatas, Wimbledon segue na contramão: ritmo próprio, respeito às tradições e decisões que valorizam a sua marca e o seu valor no largo prazo.
Estar lá é algo mágico. Eu vivi.
E você, já foi?

O espanhol Carlos Alcaraz e o italiano Jannik Sinner posam antes do início da final de Wimbledon (Foto: HENRY NICHOLLS / AFP)
O espanhol Carlos Alcaraz e o italiano Jannik Sinner posam antes do início da final de Wimbledon (Foto: HENRY NICHOLLS / AFP)

FINAL MASCULINA: SINNER X ALCARAZ!

A final que todos esperavam: Sinner contra Alcaraz! Depois do jogaço em Roland Garros, a expectativa era enorme.

Sinner teve uma campanha dura. Nas oitavas, perdia por dois sets a zero para Dimitrov, que precisou abandonar por lesão. O Italiano deu sorte! Ganhar jogos assim dá muita moral e tira pressão. Depois, passou fácil por Shelton nas quartas e bateu Djokovic na semi. Chegava voando e com muita confiança.

Alcaraz teve um susto contra Fognini na estreia (cinco sets), mas navegou tranquilo nas fases seguintes. Chegou à final sem precisar mostrar o seu melhor tênis com consistência, mas mesmo assim todo jogo dele tem uma série de highlights.

Alguns pontos importantes:

  • Alcaraz vinha de cinco vitórias seguidas sobre Sinner.
  • Estava invicto na grama há 20 jogos.
  • A última derrota dele na grama? Justamente para Sinner, em 2022.

Na final, Alcaraz levou o primeiro set, mas depois Sinner dominou. Foi mais firme nas trocas de bolas, sacou muito bem e impediu o espanhol de variar.
Em certo momento, Alcaraz disse ao seu box: “Ele é melhor do que eu no fundo, muito melhor.”
É Sério? Eu nunca vi um jogador deste nível falar isso num jogo desse porte. Alcaraz parecia perdido, sem cabeça para encontrar uma solução.

Sinner campeão!
Fico pensando: e se ele tivesse vencido um daqueles três match points em Paris…? Estaria agora com três Slams no ano e sonhando com o Grand Slam em Nova York.

Fato é: os dois estão dominando o Tour e os Slams.
Dos últimos sete, só deu eles.
O novo “Big Two” está formado.

Mas… já começam a perguntar: quem pode entrar nesse grupo e fazer virar um “Big Three”?
Shelton? Draper? Mensik? Fritz?
Ou será que o João Fonseca vem aí?
E você, o que acha?

A emoção da polonesa Iga Swiatek com a inédita vaga às semifinais de Wimbledon (Foto: HENRY NICHOLLS / AFP)
A emoção da polonesa Iga Swiatek com a inédita vaga às semifinais de Wimbledon (Foto: HENRY NICHOLLS / AFP)

FINAL FEMININA: SWIATEK X ANISIMOVA

A final feminina foi inédita: a primeira vez de Iga Swiatek e Amanda Anisimova na decisão de Wimbledon.

Swiatek, ex-número 1 do mundo e campeã de vários Slams, nunca teve acilidade na grama. Não ganhava um título desde Roland Garros 2024 e vinha sendo muito questionada. Chegou como cabeça 8, sem grandes expectativas — o que talvez tenha ajudado a não criar grandes expectativas. Passou tranquila pelas fases anteriores.

Anisimova tem uma história singular.

  1. Aos 17 anos, foi semifinalista em Roland Garros 2019.
  2. Três meses depois, perdeu o pai (que também era seu treinador).
  3. Ficou oito meses fora do circuito por questões de saúde mental.
  4. Em 2024, nem passou do qualifying de Wimbledon!

Mas se reergueu, entrou no torneio deste ano como cabeça 11 e venceu Sabalenka, a número 1 do mundo, na semi.

Na final, infelizmente, travou. Gelou!
Swiatek estava solta e aplicada.
O resultado? 6/0 6/0 — a primeira final com esse placar em 114 anos.
Um verdadeiro balde de água fria pra quem torcia pela americana.

DUPLAS MISTAS – O BRASIL NA FINAL!

Luisa Stefani representa — e muito!

  1. Primeira brasileira top 10 da WTA em duplas na “Era Aberta”.
  2. Medalhista olímpica em Tóquio (bronze com Laura Pigossi)
  3. Campeã do Australian Open nas mistas com Rafael Matos

Pra mim, Luisa é uma das melhores duplistas do mundo.
Tem leitura de jogo, cobre a quadra como poucas e é parceiraça.
Esse vice-campeonato em Wimbledon vale muito e acredito que tem muito mais pela frente.
Vai com tudo, Luisa!

O holandês ' Sem Verbeek (e) a tcheca Katerina Siniakova , Luisa Stefani e o britânico Joe Salisbury na premiação em Wimbledon (Foto: Glyn KIRK / AFP)
O holandês ' Sem Verbeek (e) a tcheca Katerina Siniakova , Luisa Stefani e o britânico Joe Salisbury na premiação em Wimbledon (Foto: Glyn KIRK / AFP)

E O JOÃO FONSECA?

Grama é um piso diferente. Bola pica mais baixa, apoio instável, mudanças de direção difíceis de executar e tática muito específica para sacar e devolver. João não brilhou nos torneios preparatórios, mas evoluiu a cada partida. Foi entendendo o jogo, fazendo ajustes, encontrando seu ritmo e chegou preparado em Wimbledon.

Poucos sul-americanos vencem na grama logo de cara.
O Chileno Marcelo Rios, meu ex-pupilo e ex N1 do mundo dizia que a grama era boa pra vaca!
Ter chegado na 3ª rodada foi um ótimo resultado para o João. A grama deixa mais evidente que a sua movimentação tem que melhorar, e estou certo de que vai.
Seu treinador Guilherme Teixeira sabe disso e deve estar de olho nos ajustes.
Pau na bola, Gui e João!

ALGUNS ASSUNTOS PRA PONTUAR:

Djokovic – Será que essa foi a última chance dele ganhar um Slam? Chegou à semi com o corpo desgastado e admitiu estar difícil competir em alto nível após tantos jogos de 5 sets. O fim está próximo?

Tênis universitário – Este ano, 26 jogadores das chaves de simples passaram pelo College Tennis. Um caminho cada vez mais viável pro profissionalismo — ainda pouco seguido por brasileiros.
Eu sou exceção: me formei na University of South Carolina antes de virar profissional.

Multas – Pela primeira vez, as mulheres (8) receberam mais multas que os homens (7).
Mas em valores, os homens ainda lideram.

Fusão ATP/WTA – As negociações para unir os direitos comerciais das duas associações avançam.
Fala-se numa divisão 25% WTA / 75% ATP.
Tem muita gente da ATP não curtindo…

Agora é hora de trocar a grama pela quadra dura!

Vêm aí os Masters 1000 do Canadá e Cincinnati, antes do US Open em Nova York.

É isso, pessoal.
Até a próxima.

Abs,
Pardal.

Ricardo Acioly escreve mensalmente no Lance! abordando o tênis. Leia mais publicações do colunista:

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