Ace do Acioly: Game, Set, Match! Acabou a temporada de grama!
Para a grande maioria do mundo, o verdadeiro templo do tênis é Wimbledon

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Antes de falar das finais masculina e feminina, precisamos entender o que o torneio jogado em SW19 (o CEP de Wimbledon) representa para o tênis mundial. Por conta dos três títulos de Guga em Roland Garros e dos bons resultados de Bia Haddad e Fernando Meligeni por lá (semifinalistas), nós brasileiros temos uma conexão maior com o saibro francês. Mas para a grande maioria do mundo, o verdadeiro templo do tênis é Wimbledon, na grama sagrada de Londres.
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A tradição, a estrutura e a gestão do evento fazem dele algo único. Wimbledon é disputado no All England Lawn Tennis and Croquet Club, fundado em 1868, com pouquíssimos sócios — muitos deles membros da realeza. O torneio é fiel às suas raízes, mesmo inovando quando necessário.
Quem joga lá sente isso logo de cara: uniforme branco obrigatório, 3 vestiários separados, quadras de treino diferentes das de jogo, tênis com travas especiais para não danificar a grama… e muito mais. Sem contar que os campeões de simples se tornam membros honorários do clube — um privilégio raro.
Pra ilustrar: uma vez, fui aquecer na última quadra de treino, meio escondida, usando um colete colorido porque estava frio. Em menos de cinco minutos, a senhora responsável pelas quadras veio até mim e disse: “My dear, ou você tira o colete e fica todo de branco, ou sai da quadra!” Minha resposta: “Of course, madam!”
Na gestão do evento, tudo é igualmente rigoroso. A Royal Box da quadra central é exclusiva para VIPs e membros da realeza, com traje obrigatório de terno e gravata para os homens. Antigamente, os jogadores tinham que saudar o Box ao entrar e sair da quadra — algo que hoje foi abolido. Você acha que deveriam ter mantido?
Conseguir ingresso não é fácil nem barato. Em 2024, foram 526.455 ingressos vendidos — número que deve ser ainda maior este ano. Há sorteio aberto ao público oito meses antes, com menos de 3% de sorteados que terão direito a comprar 2 ingressos. Existe também a tradicional fila para compra no dia — The Queue — com valores acessíveis — onde torcedores chegam a passar a noite acampados para garantir entrada.
Os patrocinadores? Poucos e extremamente seletivos. O uso da marca Wimbledon é altamente restrito e não há marcas expostas nas lonas ao fundo das quadras — um espaço caríssimo em qualquer outro torneio.
Enquanto o mundo busca formatos rápidos, experiências curtas e retornos imediatas, Wimbledon segue na contramão: ritmo próprio, respeito às tradições e decisões que valorizam a sua marca e o seu valor no largo prazo. Estar lá é algo mágico. Eu vivi. E você, já foi?

FINAL MASCULINA: SINNER X ALCARAZ!
A final que todos esperavam: Sinner contra Alcaraz! Depois do jogaço em Roland Garros, a expectativa era enorme.
Sinner teve uma campanha dura. Nas oitavas, perdia por dois sets a zero para Dimitrov, que precisou abandonar por lesão. O Italiano deu sorte! Ganhar jogos assim dá muita moral e tira pressão. Depois, passou fácil por Shelton nas quartas e bateu Djokovic na semi. Chegava voando e com muita confiança.
Alcaraz teve um susto contra Fognini na estreia (cinco sets), mas navegou tranquilo nas fases seguintes. Chegou à final sem precisar mostrar o seu melhor tênis com consistência, mas mesmo assim todo jogo dele tem uma série de highlights.
Alguns pontos importantes:
- Alcaraz vinha de cinco vitórias seguidas sobre Sinner.
- Estava invicto na grama há 20 jogos.
- A última derrota dele na grama? Justamente para Sinner, em 2022.
Na final, Alcaraz levou o primeiro set, mas depois Sinner dominou. Foi mais firme nas trocas de bolas, sacou muito bem e impediu o espanhol de variar. Em certo momento, Alcaraz disse ao seu box: “Ele é melhor do que eu no fundo, muito melhor.” É Sério? Eu nunca vi um jogador deste nível falar isso num jogo desse porte. Alcaraz parecia perdido, sem cabeça para encontrar uma solução.
Sinner campeão! Fico pensando: e se ele tivesse vencido um daqueles três match points em Paris…? Estaria agora com três Slams no ano e sonhando com o Grand Slam em Nova York.
Fato é: os dois estão dominando o Tour e os Slams. Dos últimos sete, só deu eles. O novo “Big Two” está formado.
Mas… já começam a perguntar: quem pode entrar nesse grupo e fazer virar um “Big Three”? Shelton? Draper? Mensik? Fritz? Ou será que o João Fonseca vem aí? E você, o que acha?

FINAL FEMININA: SWIATEK X ANISIMOVA
A final feminina foi inédita: a primeira vez de Iga Swiatek e Amanda Anisimova na decisão de Wimbledon.
Swiatek, ex-número 1 do mundo e campeã de vários Slams, nunca teve acilidade na grama. Não ganhava um título desde Roland Garros 2024 e vinha sendo muito questionada. Chegou como cabeça 8, sem grandes expectativas — o que talvez tenha ajudado a não criar grandes expectativas. Passou tranquila pelas fases anteriores.
Já Anisimova tem uma história singular.
- Aos 17 anos, foi semifinalista em Roland Garros 2019.
- Três meses depois, perdeu o pai (que também era seu treinador).
- Ficou oito meses fora do circuito por questões de saúde mental.
- Em 2024, nem passou do qualifying de Wimbledon!
Mas se reergueu, entrou no torneio deste ano como cabeça 11 e venceu Sabalenka, a número 1 do mundo, na semi.
Na final, infelizmente, travou. Gelou! Swiatek estava solta e aplicada. O resultado? 6/0 6/0 — a primeira final com esse placar em 114 anos. Um verdadeiro balde de água fria pra quem torcia pela americana.
DUPLAS MISTAS – O BRASIL NA FINAL!
Luisa Stefani representa — e muito!
- Primeira brasileira top 10 da WTA em duplas na “Era Aberta”.
- Medalhista olímpica em Tóquio (bronze com Laura Pigossi)
- Campeã do Australian Open nas mistas com Rafael Matos
Pra mim, Luisa é uma das melhores duplistas do mundo. Tem leitura de jogo, cobre a quadra como poucas e é parceiraça. Esse vice-campeonato em Wimbledon vale muito e acredito que tem muito mais pela frente. Vai com tudo, Luisa!

E O JOÃO FONSECA?
Grama é um piso diferente. Bola pica mais baixa, apoio instável, mudanças de direção difíceis de executar e tática muito específica para sacar e devolver. João não brilhou nos torneios preparatórios, mas evoluiu a cada partida. Foi entendendo o jogo, fazendo ajustes, encontrando seu ritmo e chegou preparado em Wimbledon.
Poucos sul-americanos vencem na grama logo de cara. O Chileno Marcelo Rios, meu ex-pupilo e ex N1 do mundo dizia que a grama era boa pra vaca! Ter chegado na 3ª rodada foi um ótimo resultado para o João. A grama deixa mais evidente que a sua movimentação tem que melhorar, e estou certo de que vai. Seu treinador Guilherme Teixeira sabe disso e deve estar de olho nos ajustes. Pau na bola, Gui e João!
ALGUNS ASSUNTOS PRA PONTUAR:
Djokovic – Será que essa foi a última chance dele ganhar um Slam? Chegou à semi com o corpo desgastado e admitiu estar difícil competir em alto nível após tantos jogos de 5 sets. O fim está próximo?
Tênis universitário – Este ano, 26 jogadores das chaves de simples passaram pelo College Tennis. Um caminho cada vez mais viável pro profissionalismo — ainda pouco seguido por brasileiros. Eu sou exceção: me formei na University of South Carolina antes de virar profissional.
Multas – Pela primeira vez, as mulheres (8) receberam mais multas que os homens (7). Mas em valores, os homens ainda lideram.
Fusão ATP/WTA – As negociações para unir os direitos comerciais das duas associações avançam. Fala-se numa divisão 25% WTA / 75% ATP. Tem muita gente da ATP não curtindo…
Agora é hora de trocar a grama pela quadra dura!
Vêm aí os Masters 1000 do Canadá e Cincinnati, antes do US Open em Nova York.
É isso, pessoal.
Até a próxima.
Abs,
Pardal.
Ricardo Acioly escreve mensalmente no Lance! abordando o tênis. Leia mais publicações do colunista:
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