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Brasil x Chile: saiba como um rojão quase tirou a Seleção da Copa do Mundo

Em 1989, seleção chilena tentou forjar situação para ir ao Mundial

imagem cameraRojas caído no gramado do Maracanã (Foto: Reprodução)
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Thiago Braga
São Paulo (SP)
Dia 04/09/2025
06:50

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Brasil e Chile se reencontram no Maracanã nesta quinta-feira (4), em duelo válido pelas Eliminatórias Sul-Americanas. A Seleção Brasileira, já garantida na Copa do Mundo e agora sob o comando de Carlo Ancelotti, pretende usar o jogo como oportunidade para observar novos nomes e ajustar variações táticas. O contexto, no entanto, remete a uma lembrança bem diferente: em 3 de setembro de 1989, no mesmo estádio e também pelas Eliminatórias, as duas seleções protagonizaram uma das partidas mais controversas e lembradas da história do futebol mundial.

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Ancelotti: 'Quero jogadores de equipe, e não que joguem bem individualmente'

Diante de 141.072 pagantes, Brasil e Chile se enfrentaram pela última rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo da Itália, em um duelo que valia vaga direta no Mundial de 1990. A Seleção Brasileira precisava apenas de um empate para se classificar. O Chile só se garantiria se vencesse.

O primeiro jogo entre as seleções, em Santiago, havia terminado empatado em 1 a 1, deixando tudo aberto para a rodada final no Rio de Janeiro. Logo aos três minutos de partida, Careca abriu o placar para o Brasil. A vantagem parecia deixar a classificação encaminhada, mas o destino daquela noite reservava um episódio de fraude que ficaria conhecido como “a farsa do Maracanã”.

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Aos 24 minutos do segundo tempo, um sinalizador foi disparado da arquibancada e caiu na área chilena. A autora era Rosenery Mello, uma jovem de 24 anos, funcionária da Light, que mais tarde ficaria conhecida como a “Fogueteira do Maracanã”. O rojão caiu distante do goleiro Roberto Rojas, mas o arqueiro desabou no gramado, rolando até próximo ao artefato.

— Eu lembro sempre com muita tristeza deste jogo. Sabíamos que era um jogo de risco, a própria Fifa considerou. Por todo ambiente que criaram desde a partida no Chile (empate em 1 a 1). Lá, teve uma verdadeira "batalha campal", o Romário foi expulso, eles fizeram jogo sujo desde o início. E aqui no Maracanã, quando veio o “foguete”, vi claramente que não atingiu o Rojas. Aquilo ali pareceu programado, foi doloroso — recordou o técnico Sebastião Lazaroni, ao LANCE!, em entrevista em 2019.

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A cena inicial sugeria que ele havia sido atingido. Porém, a verdade era outra: dentro da luva, Rojas escondia uma pequena navalha. Com ela, cortou o próprio supercílio e ainda recebeu mercúrio no rosto para aumentar o efeito de sangue. A simulação buscava forçar a Fifa a considerar o estádio inseguro, anular o jogo e conseguir a classificação para o Chile.

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Ensanguentado, o goleiro foi amparado por companheiros e membros da comissão técnica. Liderados pelo zagueiro Fernando Astengo, os chilenos decidiram abandonar o gramado sob alegação de falta de segurança. O árbitro argentino Juan Lostau aguardou os 20 minutos previstos no regulamento e encerrou a partida, registrando na súmula o abandono de campo.

A primeira impressão foi de que o Brasil poderia perder a vaga no Mundial por conta do incidente. Porém, as investigações mudaram o rumo da história. Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, recebeu do argentino Julio Grondona, dirigente da AFA, uma foto feita pelo repórter Ricardo Alfieri que mostrava o exato momento em que o rojão caía no gramado — longe de Rojas, que ainda estava com o rosto limpo.

Teixeira comprou a foto por US$ 6 mil e a apresentou à Fifa, em Zurique, como prova de que o goleiro havia forjado o ferimento. As imagens, somadas ao relatório da arbitragem e à súmula do árbitro, foram decisivas. Uma semana depois, no dia 10 de setembro, a Fifa confirmou a vitória brasileira por 2 a 0 e a classificação para a Copa da Itália.

As consequências foram duras. O goleiro Roberto Rojas foi banido do futebol. O zagueiro Fernando Astengo, que liderou a retirada da equipe, pegou quatro anos de suspensão. O técnico Orlando Aravena, o médico Daniel Rodríguez e o dirigente Sergio Stoppel também foram punidos e afastados do esporte.

— Ele era meu companheiro de São Paulo, e tinha deixado um violão dele comigo, mas fiquei de entregar no Maracanã. Só que, depois daquela situação toda, o violão sumiu! Até vou aproveitar para pedir, né?! Quem pegou, devolve, porque se não aprendeu até agora, desiste – brincou Silas, ao Lance!, em 2019.

— A gente queria ganhar em campo. Estava “mordido” pelo jogo no Chile, pela catimba deles. Quando veio a história da “fogueteira” pensei: “pô, não vamos ganhar em campo?” (risos). Eu queria jogar até o fim — completou Silas.

A Federação Chilena recebeu como punição ficar fora da Copa de 1990, e também foi proibido de disputar as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994.

Rojas, no entanto, seria anistiado em 2001. Retornou ao São Paulo, clube no qual atuava quando ocorreu a farsa, para trabalhar como preparador de goleiros, auxiliar técnico e até treinador principal em 2003, quando, ao lado do também auxiliar Milton Cruz, levou o time à Libertadores.

Já Rosenery Mello, autora do disparo do sinalizador, passou de vilã a celebridade. Depois de ser presa em flagrante e passar uma noite na delegacia, tornou-se assunto nacional. Poucos dias após o episódio, posou para a capa da revista Playboy, em novembro de 1989, recebendo um cachê de cerca de 40 mil dólares. Ficaria para sempre conhecida como a “Fogueteira do Maracanã”.

Brasil e Chile no Maracanã, em 1989 (Foto: Reprodução)
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