‘Jogo da Vergonha’: Atlético de Madrid iguala feito solitário de seleção no Mundial de Clubes
Colchoneros triunfaram sobre o Botafogo em placar insuficiente para avançar no intercontinental

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"Há coisas que só acontecem com o Atlético de Madrid". O mantra, costumeiramente repetido pela torcida colchonera, se faz verdade em diversos aspectos. A equipe foi eliminada de maneira precoce no Grupo B do Mundial de Clubes, vendo o favorito PSG e o guerreiro Botafogo avançarem ao mata-mata da pioneira edição.
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Mas o time de Diego Simeone não é o primeiro a sofrer a decepção de cair no torneio desta maneira. Ao traçar um paralelo do Mundial com a Copa do Mundo de seleções, em apenas uma oportunidade uma seleção triunfou em dois compromissos e, ainda assim, deu adeus ao torneio quando duas vagas estavam em jogo, em história que mudou completamente o rumo das disputas posteriores. Entenda com o Lance! a história.
⚽ O Jogo da Vergonha
Voltemos no tempo por mais de 40 anos. Copa do Mundo de 1982. A Espanha era o palco de nomes como Zico, Paolo Rossi, Maradona e Platini. Mas foi no grupo B que uma polêmica estourou. Alemanha Ocidental, Áustria, Argélia e Chile disputariam duas vagas no mata-mata mundial.
Na última rodada, os austríacos lideravam o grupo com quatro pontos; alemães e argelinos estavam empatados com dois; e os chilenos, na lanterna, tinham zero - à época, a vitória valia apenas dois pontos. Argélia e Chile entraram em campo pela terceira rodada no dia 24 de junho (exatos 43 anos atrás), e os africanos venceram por 3 a 2.
No dia seguinte, Alemanha e Áustria se enfrentaram sabendo dos resultados necessários para o avanço. Havia um possível sentimento de revanchismo, enraizado nos aficionados, devido a um ocorrido na Copa anterior, em 1978, na Argentina: mesmo eliminados, os austríacos venceram por 3 a 2 e impediram a classificação germânica, em jogo apelidado de "Milagre de Córdoba".
Voltemos à Espanha. Gijón foi a casa de uma possível vingança alemã, que poderia detonar os adversários e os eliminar. Os indícios do desejo pareciam ser claros: Horst Hrubesch, com apenas dez minutos de jogo, abriu o placar. Mas o que se viu no restante do encontro foi outra coisa.
A Alemanha controlou a bola de um lado para o outro. A Áustria olhava. Dremmler teve ótima oportunidade, mas não quis finalizar para a meta adversária. A Mannschäft parecia desinteressada. E logo, os torcedores caíram na real. As duas seleções não queriam se atacar. O resultado classificava ambas, com +3 e +2 de saldo, respectivamente, enquanto a Argélia tinha saldo nulo. Duas vitórias para as três seleções, mas o critério de desempate puniu os africanos.
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Robert Seeger, comentarista do Mundial, lamentou o ocorrido entre as duas seleções e chegou a solicitar aos telespectadores que não assistissem ao restante do duelo. Torcedores nas tribunas de El Molinón vaiaram os atletas; um germânico, inclusive, queimou a bandeira de sua nação. A revanche do Milagre de Córdoba virou um "pacto de não-agressão", eternizado com o apelido "Jogo da Vergonha".

Apatia e prostração. Assim foi o pós-jogo. O destino da bola, porém, tratou de trazer a punição: a Áustria não passou da segunda fase de grupos, enquanto a Alemanha amargou o vice-campeonato diante da Itália de Rossi, Tardelli e Altobelli, autores dos gols do título.
A Fifa também agiu. Como não podia provar que houve um combinado para que ambas avançassem, escolheu mudar o legado do torneio. De 1986 até hoje, os jogos da última rodada de um mesmo grupo aconteceriam de maneira simultânea, independente de já haver definição dos classificados ou não.
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Curiosamente, a Copa do Mundo de 1994 teve três empates largos na fase de grupos, em uma das edições mais equilibradas da história. No grupo D, Nigéria, Bulgária e Argentina terminaram com seis pontos cada - a Grécia foi o saco de pancadas. Já na chave F, Holanda, Arábia Saudita e Bélgica se equilibraram da mesma maneira, deixando o Marrocos em último. Porém, como previsto no regulamento do torneio com 24 seleções, as quatro melhores terceiras colocadas avançariam às oitavas de final, favorecendo os argentinos e os belgas.
No grupo E, a situação foi ainda mais inusitava. México, Irlanda, Itália e Noruega terminaram todas com quatro pontos e zero gols de saldo, já que todos os triunfos da chave foram por um gol de diferença. A definição coube aos gols pró: o México liderou por ter marcado três gols; a Irlanda empatou com a Itália, com dois tentos anotados, mas ficou em segundo por ter vencido o confronto direto; e a Noruega, que fez apenas um gol na vitória sobre os mexicanos e não marcou nos outros dois compromissos, amargou a eliminação.
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Em 1950, uma situação semelhante aconteceu. No grupo 1, a Iugoslávia venceu seus compromissos diante de México e Suíça, e ficou em segundo, com quatro pontos, atrás apenas do Brasil, com cinco. Porém, na ocasião, só o primeiro colocado passava ao mata-mata, o que beneficiou a Seleção e eliminou a já extinta seleção europeia, diferente das situações de Atlético e Argélia, que tinham duas vagas disponíveis.
O modelo do Mundial de Clubes, com 32 equipes, foi usado pela Fifa nas Copas a partir de 1998. Desde então, nenhuma seleção venceu dois jogos e foi eliminada, a exemplo do Atleti. Para 2026, a entidade decidiu inovar: serão 48 seleções, divididas em doze grupos com quatro cada. Avançarão para a fase seguinte todas as duas melhores equipes de cada chave, assim como as oito melhores terceiras colocadas, o que deve dificultar ainda mais a repetição de coincidências como estas.
👀 Como o Atlético de Madrid repetiu feito da Argélia no Mundial de Clubes?
O Atlético de Madrid estreou no Mundial perdendo para o PSG por 4 a 0, mas deu a volta por cima e venceu o Seattle Sounders por 3 a 1. Na última rodada, previa-se uma vitória dos parisienses sobre os estadunidenses, o que se confirmou com um 2 a 0 simultâneo. Os Colchoneros precisavam vencer o Botafogo por três gols de diferença, mas construíram apenas o mínimo triunfo.

A necessidade se dava pelo desempate da Fifa: em caso de igualdade tripla - o que aconteceu entre Atleti, Paris e Botafogo -, o primeiro critério era o confronto direto entre os três. Porém, cada um venceu um rival uma vez. No critério seguinte, observaria-se o saldo de gols nos confrontos entre os três, ignorando-se os jogos contra o Seattle. Por terem sido goleados pelo Paris, os espanhóis deram adeus com -3 de saldo no critério, enquanto o Glorioso teve zero e os franceses +3.
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