menu hamburguer
imagem topo menu
logo Lance!X
Logo Lance!

Esporte no xadrez político: orçamento, liderança e futuro da pasta

Enquanto o Brasil coleciona pódios, Ministério do Esporte luta por espaço no Orçamento

Marcus Deois
Rio de Janeiro (RJ)
Gabrielle de Castro
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 27/10/2025
07:01
Fachada do Ministério do Esporte
imagem cameraFachada do Ministério do Esporte (Foto: Roberto Castro/ME)

  • Matéria
  • Mais Notícias

Enquanto atletas se preparam para a Copa do Mundo de Futebol (2026), a Copa do Mundo Feminina (2027) e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos (2028), outro jogo — mais silencioso e mais longo, igualmente determinante — acontece nos corredores do Congresso: o jogo do orçamento federal para o esporte.

continua após a publicidade

Nos últimos anos, o Brasil tem conquistado feitos inéditos em diferentes modalidades, acumulando títulos e pódios históricos. Mas fora das quadras, dos tatames e das pistas, o Ministério do Esporte luta por espaço em um cenário político onde não figura entre as prioridades orçamentárias da União. Em 2024, a proposta inicial do governo na Lei Orçamentária Anual (LOA) destinava R$ 607,8 milhões ao ministério, mas, com o apoio do então relator setorial, deputado Marx Beltrão (PP/AL), o montante subiu para R$ 2,29 bilhões. Para este ano, a previsão inicial foi de R$ 863,8 milhões, mas foi com o trabalho do relator do esporte, deputado Paulão (PT/AL), que o valor chegou a R$ 1,6 bilhão, ainda significativamente abaixo do ano anterior. Na prática, isso significa menos recursos para programas como o Bolsa Atleta, entre outros, que garantem que jovens talentos não abandonem o esporte por falta de apoio. 

O cenário para 2026 aponta para um contexto orçamentário mais favorável. Além do calendário eleitoral, que tende a elevar investimentos em áreas estratégicas, fatores como a aprovação permanente da Lei de Incentivo ao Esporte (PLP 234/2024) e os resultados esportivos recentes — incluindo o título no Mundial de Atletismo Paralímpico, seis pódios no Mundial de Halterofilismo Paralímpico e o histórico primeiro lugar do Mr. Olympia (Classic Physique) — reforçam a relevância da pasta. A proposta inicial de orçamento do governo federal para a pasta em 2026 prevê R$ 1,15 bilhão, mas o valor ainda deverá crescer por meio das emendas parlamentares, coordenadas pelo atual relator setorial, deputado Vicentinho Júnior (PP/TO).

continua após a publicidade

Ao assumir o posto, o parlamentar já sinalizou a intenção de destinar recursos a projetos esportivos no Tocantins, construir e reformar arenas públicas e ampliar o alcance da política esportiva no interior, garantindo que os investimentos cheguem a comunidades que historicamente tiveram acesso limitado a oportunidades esportivas.

➡️ Siga o Lance! no WhatsApp e acompanhe em tempo real as principais notícias do esporte

Fachada do Ministério do Esporte (1)
Fachada do Ministério do Esporte (Foto: Roberto Castro/ME)

Jogo de xadrez na política

Nesse tabuleiro, a execução orçamentária se torna um jogo estratégico e cada movimentação no Ministério do Esporte pode impactar diretamente o futuro do esporte brasileiro, desde a base até o alto rendimento. Nesse contexto, a pressão para a demissão do ministro André Fufuca (PP/MA) — indicado em 2023 para acomodar o Centrão na base do governo — e sua provável saída em março para concorrer às eleições de 2026, levanta o debate sobre a politização de cargos técnicos e seus reflexos na continuidade de programas. 

continua após a publicidade

Desde sua recomposição em 2023, a pasta já teve duas lideranças — Ana Moser, ex-atleta olímpica, com perfil técnico e amplo conhecimento prático sobre esporte, e atualmente o deputado maranhense, indicado em setembro do mesmo ano. Médico por formação e político desde os 21 anos, quando foi eleito o deputado estadual mais jovem do país em 2010. Mas, a necessidade de desincompatibilização para disputar as próximas eleições forçará uma nova nomeação, provocando reorganizações nas equipes técnicas, impactando secretarias e diretorias e, sobretudo, interferindo na execução de programas estruturantes, fundamentais para a construção dos futuros campeões que veremos em Los Angeles 2028. 

A rotatividade no comando do Ministério do Esporte traz o risco de descontinuidade em um setor que demanda estabilidade e visão de longo prazo para planejar ciclos olímpicos e desenvolver o esporte de base. Se, nas arenas, o Brasil compete movido por talento e disciplina inatos, na gestão pública é preciso adotar uma estratégia à altura. No jogo do orçamento para o esporte, cada alocação precisa ser vista não como gasto, mas como investimento em potencial humano e futuro social, capaz de transformar a realidade de centenas de brasileiros pelo país. 

A eficácia do orçamento é diretamente proporcional à capacidade de gestão da pasta em executar os recursos de forma estratégica e eficiente a longo prazo. É nesse ponto que a lógica política colide com as necessidades técnicas do esporte, tornando a execução orçamentária um desafio que vai além da obtenção de verbas. Enquanto o Congresso negocia diretrizes e emendas, o Ministério do Esporte precisa equilibrar política e gestão para assegurar a continuidade de programas essenciais. O sucesso dessa e de outras políticas depende não apenas de recursos, mas de estabilidade administrativa e planejamento estratégico. Não basta ter um orçamento farto, é preciso gestão técnica e estável para transformá-lo em resultados. 

No final, o que se joga em Brasília é tão importante quanto os torneios internacionais: a capacidade do país de transformar investimentos em resultados concretos, garantir oportunidades desde a base ao alto rendimento e consolidar o esporte como uma política pública capaz de gerar impacto social e projeção global.

Leia também:

➡️ Esporte como política de Estado: Congresso torna a Lei de Incentivo permanente
➡️ Política e Esporte: A política em campo e o esporte no banco

Os autores apresentam e defendem suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!.

  • Matéria
  • Mais Notícias