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Ao Mestre, com carinho!

Seja construindo grandes atletas, ou lutando por caminhos corretos, ele dedicou a vida ao atletismo.

Luiz Alberto de Oliveira morre no Qatar (Foto: Arquivo pessoal)
imagem cameraLuiz Alberto de Oliveira morre no Qatar (Foto: Arquivo pessoal)
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 20/05/2025
12:39

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Corria (gosto muito de começar desta forma, crônicas agudas) o sinistro ano de 2021, onde o mundo atravessava uma sombria pandemia ainda descontrolada, de um vírus cruel e, até então, pouquíssimo conhecido. Eu ainda me recuperava de um enorme e quase fatal episódio grave cardíaco que, de teimoso, sobrevivi, recebo uma mensagem, das muitas que com ele, eu trocava nos últimos meses, o cara da foto acima, Luiz Alberto de Oliveira, um dos melhores treinadores de atletismo do mundo, que, do outro lado do planeta, também penava e brigava heroicamente, com uma doença crônica renal, que batia, e abatia, como boxeador argentino traído, mas não o levava à lona.

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Resgato, com um nó no peito as últimas, de muitas, mensagens, daquele fevereiro sufocante de 2021, onde conversávamos sobre a vida no Qatar, que ele teria que ficar por lá mais, talvez, dois anos, para tentar completar o tratamento médico no Qatar, já que aqui no Brasil seria impossível, pelo custo altíssimo e pela precariedade de hospitais capacitados. Mas a conversa sempre acabava desviando para as mazelas do atletismo brasileiro. Enquanto conversávamos, até o cansaço e a tristeza tomarem conta da gente, eu ficava lembrando dos bons momentos em que nos encontrávamos, na maioria das vezes em competições internacionais de atletismo.

Lembro da sua fala calma e pausada, mas carregada de certezas, de ideias e convicções filosóficas, científicas e até políticas. Ele carregava mágoas desde muito tempo. Era quase um desconhecido em seu país, e uma unanimidade no mundo do atletismo. Esse era Luiz Alberto de Oliveira.

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Já o conhecia de nome, quando o encontrei pela primeira vez, em 1981, no Troféu Brasil de Atletismo, no “meu” Estádio Célio de Barros. Desculpem a intimidade, mas passava mais tempo nele (hoje um futuro-ex-estacionamento do Maracanã) do que em casa, longe uns, sei lá, 25 quilômetros dali. Além de ser meu local de treino, era também sala de aula, em meu curso de Educação Física na UERJ, ali ao lado. E foi em sua sala de imprensa que acompanhei atento a entrevista coletiva dada por ele e Cruz, que entrou mudo e saiu calado, como de hábito na época. Sua timidez era do tamanho de suas pernas! Após esta entrevista, um dia antes da final dos 800 metros, ele e alguns organizadores, discutiam que seria necessária a presença de uma cronometragem oficial, pois ele, Luiz Alberto, tinha certeza de que seu pupilo calado deveria quebrar o recorde mundial juvenil, lá. E só seria referendado caso houvesse uma cronometragem oficial (com cronometristas certificados pela CBAt e IAAF).

Caso resolvido, cronometragem pronta, público pequeno, mas barulhento. E lá foi o menino de Taguatinga para suas duas voltas solo! Os adultos iam ficando para trás, e Quinca seguia firme, com passagens intermediárias fortíssimas. E Luiz Alberto, da sombra, assistia com a tranquilidade de quem saboreia uma fruta, plantada e colhida por ele. Era a hora da primeira colheita!

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E aconteceu ali, diante de nossos olhos incrédulos e felizes, o recorde mundial juvenil foi pulverizado, duas voltas completas, em 1’44”03c. O resto, bem, o resto faz parte da história do atletismo mundial.
E com Quinca, vieram Agberto, Zequinha, Wander, Edgar, Sanderlei, Hudson, e muitos, muitos, de todos os cantos do planeta.
No dia 14 de fevereiro de 2021, Luiz me conta que, realmente, sua saúde piorou e seus rins estão em condições críticas, e ele aguarda a chance de um transplante que o salve. Havia acabado de implantar alguns stents no coração e sentia medo. Me assusto e peço mais detalhes, e Luiz, como sempre, desvia o foco para o atletismo e a proximidade com os Jogos de Tóquio, daqui a alguns meses. Planejamos datas para uma videochamada em fins de março, para uma conversa mais longa e uma saúde mais estável. Nos despedimos, meio reticentes.
No dia 1 de março, às 2:18 da manhã, acordo com um alerta no celular, de uma ligação de vídeo não atendida. Era ele, que deixou uma mensagem escrita: “desculpe o incômodo, devo voltar hoje para o hospital, exames de rotina e mal-estar. Amanhã conversamos sobre o que faltou falarmos. Um abraço, meu querido amigo”.
Muita coisa ficou por falar. Iríamos conversar sobre uma possível retomada de crescimento do atletismo brasileiro, usando a mais forte e eficiente ferramenta existente: o ESPORTE ESCOLAR.
Quatro semanas depois, soube por um amigo em comum, que retornava do Qatar, que Luiz Alberto continuava internado, com complicações sérias cardíacas, e seu estado se deteriorava.
Seu telefone nunca mais foi ligado.


Na madrugada do dia 1 de junho de 2021, recebo a notícia de que Luiz Alberto havia falecido.
Não, sua voz não se calou, ainda ecoa nos principais estádios do mundo, reverbera nos ouvidos em centenas de grandes atletas e ex-atletas, das mais variadas nacionalidades. Seu método revolucionário de treinamento, é repassado como lições de vida, por seus seguidores. Seus amigos e admiradores, recordam histórias e “estórias” dele, casos e causos. E o atletismo brasileiro, mais uma vez, perde a oportunidade de reverenciar um herói olímpico de verdade. Luiz era daqueles que, quando tinha que escolher entre os atletas ou os dirigentes, sempre ficava com os atletas!


Em breve, serão 4 anos de partida, do melhor treinador de pista que já tivemos. Não seria a hora de tentar reparar uma injustiça, mais uma, que o atletismo brasileiro fez ao longo de décadas?

Ecos do fim de semana:

Na ultra maratona televisiva (ou em streaming) do fim de semana, gostei muito da festa do atletismo em Doha (última morada de Luiz Alberto) com a diversidade de grandes protagonistas! Nada é tão surpreendente do que as primeiras provas de atletismo de uma temporada que promete ser inesquecível!
E o que dizer do Giro d’Itália? Onde, no momento, apenas 2 míseros minutos separam o líder do 10º colocado no ranking geral?


Quem acompanhou a etapa do Circuito Mundial de Triathlon, em Yokohama? E a performance do Miguel Hidalgo, correndo entre grandes (fez os 10km finais para 3’00p/km)! Apertando os melhores e conquistando um espetacular pódio. Esse 3º lugar vale muito! Podemos começar a sonhar com um top 5 no Mundial deste ano! E por que não, uma sonhada medalha em LA 28? No berço do Triathlon!


E o Ping-Pong, digo, Tênis de Mesa? Hugo Calderano, também em Doha, neste momento duela com chineses de vários países, e segue vivo no Mundial. Parece um filme de Bruce Lee, onde o protagonista é brasileiro! Dá-lhe, Hugo! As mesas lotadas nos pátios das escolas Brasil afora, te saúdam!!
Na sexta-feira, continuamos, com ou sem Ancelotti!


Lauter Nogueira

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