Como se fora brincadeira de roda…
No Mundial de revezamento, as melhores equipes garantem vagas para Tóquio 25!

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“Como se fora brincadeira de roda
Jogo do trabalho, na dança das mãos
No suor dos corpos, na canção da vida
O suor da vida no calor de irmãos…”
Redescobrir, é o nome desta música, feita por Gonzaguinha, e eternizada na voz de Elis Regina, décadas atrás.
E foi assim que vimos 750 atletas de 48 países desmistificando a sina solitária das provas de atletismo, e em equipe, disputar eventos de revezamento, nas provas de velocidade e resistência (dos 100 aos 400 metros). Pareciam crianças, no pátio das escolas, brincando na hora do recreio. Afinal, no extenso cardápio do atletismo, os revezamentos são as provas que mais contagiam o público e costumam encerrar as competições. O grande pátio era na cidade de Guangzhou, China.
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Mas, o Mundial de revezamentos não foi criado apenas para divertir (atletas e público), ele serve também para dar suporte (gerar vagas e ritmo de competição) às edições de Campeonato Mundial de Atletismo, acontecendo à cada 2 anos coincidentes. Portanto, em ano que tem Mundial de Atletismo, acontece também, meses antes, o Mundial de Revezamento. Diversão garantida, para atletas e espectadores!
Diversão de altíssimo nível e muita competitividade, pois os países dominantes do esporte, normalmente não levam seu 1º time. Vão os jovens promissores, para já ganharem experiência em Mundiais, e alguns dos melhores do mundo, geralmente por motivo de alguma lesão em fim de temporada que gere atraso em sua preparação visando o Mundial de Atletismo, onde deverão estar no auge da forma física.
Nas primeiras edições, no Mundial de Revezamento, havia, além das atuais provas, algumas muito interessantes, envolvendo corredores de meio fundo, nos 4x 800 e 4x milha (ou 1609m), que foram descontinuadas. Então tá, no atual mundial de Revezamento só há lugar para gente veloz! E ainda aumentaram o número de provas velozes, acrescentando aos tradicionais 4x100 e 4x400 masculino e feminino, o revezamento misto, com ordem de entrada pré-determinada. Um formato que tem feito grande sucesso. E elevaram para seis o número de medalhas para as provas de revezamento em Jogos Olímpicos.
Foram dois dias deliciosos, revendo algumas feras olímpicas (a Jamaica levou Shelly-Ann Fraser e Shericka Jakson, multi-medalhistas olímpicas e mundiais) tentando retomar suas melhores formas para o Mundial de Tóquio em setembro, e jovens talentos do sprint em busca de experiência internacional.

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Dois países surpreenderam os tradicionais vencedores (mesmo não levando seus melhores atletas) e tornaram a competição mais abrangente, com um variado naipe de países vencedores. África do Sul nos 4x100 masculino, vencendo com categoria e sobras a equipe americana, que mesclou a experiência de um Bednareck, com atletas sem expressão, de olho nas vagas diretas para o Mundial de Tóquio, em jogo neste campeonato.
Os sul-africanos, sim, fizeram um trabalho exemplar, trazendo o líder do ranking mundial, Akani Simbine, para fechar, e abrindo com o jovem talentoso Alaza, que abriu o revezamento para o time, do alto de seus 19 anos.
Nos 4x100 feminino, Grã-Bretanha e Espanha fazem dobradinha, à frente das gigantes destronadas Jamaica e Estados Unidos (que ficou fora do pódio, simplesmente!).
E nos 4x400 masculino, a África do Sul mostra sua força, desbancando a tradicional Bélgica e a jovem atrevida Botsuana, numa chegada eletrizante, onde o grande público de Guangzhou, que lotou o belíssimo estádio da cidade, foi a loucura. Do meu canto pensei: ninguém dorme hoje em Cape Town!! Já nos EUA, silêncio sepulcral. Melhor chamarem Ancelotti!!
Nos 4x400 femininos, aconteceu a segunda surpresa do campeonato, a Espanha vence as outrora invencíveis americanas, demonstrando uma raça digna de campeãs. O bronze fica para as sul-africanas, muito próximas de suas rivais vencedoras.
Já nos 4x400 misto, enfim uma vitória dos americanos, levando poucas medalhas e muito espaço nas malas. Agora eles têm algo a celebrar! Será? Ancelotti neles!
A equipe americana de atletismo, que normalmente sai vencedora, mesmo utilizando atletas alternativos (segundo escalão ou jovens talentos em construção), se prepara arduamente para o Mundial de Tóquio, segundo seus dirigentes. Por isso trouxeram tão poucos medalhistas, usando e abusando de atletas não tão bem ranqueados. Ok, veremos em Tóquio.
E nós, o que foi feito de nós, neste Mundial de revezamento meio esvaziado? Me perguntarão alguns de vocês doze ou treze desesperançados.
Respondo-lhes de pronto, como se respondendo a um tiro de largada: pouco nos restou, a não ser a constatação, mais uma vez, de que já fomos melhores nisso! O nosso revezamento 4x400 masculino conseguiu a vaga para o Mundial de Tóquio na repescagem, fazendo o dever de casa direitinho. E mais nada! O time feminino dos 4x100 sequer viajou para a China, por discordâncias severas entre dirigentes, técnicos e atletas. O 4x100 masculino ficou longe da vaga, nem na repescagem, chegando em 4º lugar numa série fraca, perdendo para China, Austrália e Botsuana (sem Tebogo e companhia!). Então, nos resta, por enquanto, a presença garantida de nosso 4x400 masculino no Mundial de Tóquio, recebendo lá o auxílio luxuoso de nossos barreiristas Top 5 do mundo, Alison Piu e Matheus.

Uma participação quase melancólica, mostrando que não adianta apenas treinar passagem de bastão e sincronia, precisamos de atletas velozes. Não 3 ou 4 medianos, precisamos de mais atletas, futuros atletas. Nas últimas 2 décadas e meia apostaram-se em treinar sincronia e passagem de bastão, porque deu certo com nosso quarteto de prata de Sydney 2000. Mas a final do 4x100 de Sydney foi atípica, onde nosso quarteto fez a “prova de suas vidas” e Jamaica, Cuba, França e Japão erraram em várias passagens de bastão.
Nestas mais de duas décadas, repeti um velho bordão até me cansar: não se faz um revezamento 4x100 vencedor sem velocistas! Onde estão os projetos regionais de detecção e desenvolvimento de jovens talentos na velocidade? E os projetos escolares, associados a federações e secretarias de educação? É hora de pensarmos em Brisbane 2032, o tempo urge! As crianças querem ganhar o pátio e voltar a brincar. Como se fora brincadeira de roda!
Lauter Nogueira
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