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Bastidores da crise: o que aconteceu no Internacional em 2025

Campanha da temporada tem várias explicações para o quase rebaixamento

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Roberto Jardim
Porto Alegre (RS)
Dia 09/12/2025
11:00
Sergio Rochet, goleiro do Internacional
imagem cameraRochet na goleada para o Vasco (Foto: André Fabiano/Código 19/Gazeta Press)

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Não é porque o rebaixamento ficou para lá, logo ali, uma posição e um ponto abaixo, que tudo deu certo no ano. Muito pelo contrário. Afinal, nos bastidores, o planejamento era, além do título do Gauchão, brigar pela taça nas copas do Brasil e Libertadores, bem como ficar na parte de cima da tabela até o final do Campeonato Brasileiro e, assim, conquistar mais uma vez vaga na competição mais importante da América do Sul. Não deu certo. Bem longe disso. O Lance! traz os bastidores da crise e mostra o que aconteceu no Internacional que saiu de candidato a títulos a quase rebaixado.

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É possível dizer que 2025 só não foi pior do que 2016, quando foi rebaixado, na história dos pontos corridos. Mesmo assim, os números se equivalem. Em 38 jogos, esse ano, foram 11 vitórias, 11 empates e 16 derrotas, saldo de -13, e 38,6% de aproveitamento. Quando caiu há quase dez anos, foram 11, 10, 17, -6 e 37,7%, respectivamente.

Este ano, porém, o time bateu um recorde negativo na história dos pontos corridos: nunca antes o Internacional sofreu tantos gols quando no Brasileirão de 2025. Ao todo, a defesa foi vazada 57 vezes nas 38 rodadas.

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Troca de técnicos ano sim, ano também

O que aconteceu com o Internacional em 2025 começa na posse do presidente Alessandro Barcellos, em 2021. Ou no decorrer da gestão. Isso porque, apesar do vice no Brasileiro de 2020 — que, por causa da pandemia, acabou no início de 2021 —, sua administração seguiu à risca um dos principais itens da cartilha do rebaixamento. Em cinco anos na presidência trocou de técnicos oito vezes, com oito nomes passando pela casamata – um deles, Abel Braga, duas vezes.

Ou seja, em nenhuma das temporadas, Barcellos iniciou e terminou com o mesmo técnico. Pelo menos duas vezes, com Manos Menezes, em 2023, e Eduardo Coudet, em 2024, o técnico contratado não aproveitou as contratações da janela de meio de ano. Ambos, saíram em julho, antes dos reforços chegarem. Além disso, cada técnico que chegou ao Beira-Rio tinha uma ideia de jogo diferente do anterior, o que dificultava o começo do trabalho.

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Os técnicos da era Barcellos

  • Abel Braga – 11/2020 a 2/2021
  • Miguel Ángel Ramirez – 3/2021 a 6/2021
  • Diego Aguirre – 6/2021 a 12/2021
  • Alexander Medina – 12/2021 a 4/2022
  • Mano Menezes – 4/2022 a 7/2023
  • Eduardo Coudet – 7/2023 a 7/2024
  • Roger Machado – 7/2024 a 9/2025
  • Ramón e Emiliano Díaz – 9/2025 a 11/2025
  • Abel Braga – 11/2025 a 12/2025
Abel Braga, técnico do Internacinal
Abel Braga na partida salvadora (FOTO: EDU ANDRADE/Fatopress)

A falta de reforços em 2025

Depois de duas contratações de hierarquia, ou de jogadores de seleção – o equatoriano Enner Valencia, em 2023, e o colombiano Rafael Borré, em 2024 – o cofre fechou para Roger Machado, que chegou em julho do ano passado. Com isso, o técnico demitido em setembro enfrentou as quatro competições deste ano praticamente com o mesmo time de quando chegou. Para piorar, perdeu peças importantes, como Fernando e Wesley.

É que, junto às contratações insuficientes, em número e qualidade, até mesmo atletas que haviam desembarcado no Beira-Rio durante o ano fora embora. Ao todo, o clube trouxe dez nomes nas duas janelas, somente dois deles, Alan Rodríguez e Vitinho, estavam no salvador 3 a 1 sobre o Bragantino. Por outro lado, saíram 16, seis deles chegaram a ser titulares, tanto com Coudet como Roger.

Ou seja, time perdeu seis jogadores – Gabriel Carvalho, Fernando, Rômulo, Rogel, Wanderson e Wesley – usados com frequência e recebeu apenas dois.

ChegadasPosiçãoOrigem

Vitinho

Atacante

Bragantino

Ramon

Lateral-esquerdo

Olympiakos-GRE

Diego Rosa

Volante

Lommel-BEL

Óscar Romero

Meia

Botafogo

Juninho

Zagueiro

Midtjylland-DIN

Kaíque Rocha

Zagueiro

Athlético-PR

Ronaldo

Volante

Juventude

Alan Rodríguez

Volante

Argentinos Jrs

Richard

Volante

Alanyaspor-TUR

Alan Benítez

Lateral-direito

Cerro Porteño-PAR

SaídasPosiçãoDestino

Rômulo

Volante

Tigres-MEX

Lucas Alario

Atacante

Estudiantes-ARG

Renê

Lateral-esquerdo

Fluminense

Hyroan

Meia

Sport

Wanderson

Atacante

Cruzeiro

Gabriel Carvalho

Meia

Al- Qadisiyah-ARS

Wesley

Atacante

Al-Rayyan-CAT

Nathan

Lateral-direito

Santos

Rogel

Zagueiro

Herta Berlin-ALE

Matheus Dias

Volante

Nacional-POR

Kaíque Rocha

Zagueiro

Casa Pia-POR

Diego Rosa

Volante

Apoel-CHI

Lucca

Atacante

Ceará

Ramon

Lateral-esquerdo

Ceará

Henrique Menke

Goleiro

Como-ITA

Fernando

Volante

Rescisão amigável

Problemas financeiros

A falta de contratações tem uma explicação financeira. Com um déficit de R$ 34,4 milhões em 2024, principalmente por conta do enfrentamento à enchente de maio, os cofres do clube praticamente se esvaziaram. Poucas chegadas foram fruto de compras. A maioria foi o chamado "negócio de ocasião", que acabaram cobrando um custo no final do ano.

Ao mesmo tempo, o Inter projetou em seu orçamento a venda de R$ 160 milhões. Neste momento, terça-feira, 9 de dezembro, o Colorado soma R$ 116,6 milhões nessa rubrica.

Além disso, a patrocinadora máster, a casa de aposta Alfa, passou a atrasar o pagamento de R$ 4,5 milhões mensais a partir de outubro. O fato se repetiu em novembro, ainda não quitado. Resultado, atraso no pagamento dos atletas. Algumas fontes falam em três meses de salários. Outras, juram que apenas os direitos de imagens teriam ficado em débito, mas já estariam repactuados.

Também houve atraso na quitação de parcelas de compras como Thiago Maia, com o Flamengo, e de Braian Aguirre, como o Lanús-ARG. Esse último chegou a gerar um transfer ban por parte da Fifa. A situação dificultou e deve continuar afetando novas negociações, pela "propaganda" de mau pagador.

Esforço para evitar o octa do rival

Algumas avaliações internas colocam parte da instabilidade na temporada na conta do esforço para a conquista do Gauchão. Devido à pressão para evitar o octa do coirmão e com o calendário apertado, o clube teria antecipado etapas da preparação e, assim, queimado fases que custaram caro, com as lesões em sequência – ao longo da temporada foram quase 40 episódios, alguns com jogadores repetidos.

Um grupo não reforçado e a dedicação para reconquistar o estadual afetaram as disputas do Brasileirão e das copas do Brasil e da Libertadores. Ao mesmo tempo, a comissão técnica abriu mão do campeonato nacional pelo continental. Quando caiu no torneio sul-americano, já estava a meio caminho da parte de baixo da tabela com outro problema. E com o grupo abalado.

Jogadores do Inter comemorando o título do Gaúcho no Gramado. (Foto: Roberto Jardim/Lance)
Jogadores do Inter comemorando o título do Gaúcho no Gramado (Foto: Roberto Jardim/Lance!)

Racha interno no grupo

As eliminações nas copas do Brasil e Libertadores, bem como o 4 a 1 para o Palmeiras e uma derrota para o Bahia em jogo atrasado do Brasileiro, praticamente racharam o elenco. Se antes dos confrontos contra Fluminense, Flamengo, Verdão e Esquadrão, o grupo não era lá muito unido, mas lutava pelos resultados, depois, se esfarelou.

Tudo começou com os jogos eliminatórios. As quedas nas oitavas nos dois torneios desestabilizaram os atletas. Depois, na goleada, Gabriel Mercado e Carbonero foram às vias de fato após cobranças do argentino e resposta desdenhosa do colombiano. No 1 a 0 para o Tricolor baiano, devido a um pênalti infantil de Bernabei, D'Alessandro discutiu fortemente com o lateral. Os dois tiveram que ser contidos.

Na reta final, há relatos de discussões e cobranças fortes, como a feita pelo capitão Alan Patrick em um treino no CT Parque Gigante. O camisa 10 queria mais comprometimento dos colegas nos trabalhos para que pudessem buscar a recuperação no Brasileirão.

Gilberto, do Bahia, contra Bernabei, do Internacional
Bernabei tomou chamada após pênalti infantil contra o Bahia (Foto: Ricardo Duarte/SC Internacional)

Problemas administrativos

Fecha o pacote uma série de problemas administrativos. Depois de demonstrar eficiência ao recuperar o Beira-Rio e o CT em tempo recorde para voltar a jogar em casa depois da cheia do ano passado, parece que esse esforço esfacelou a capacidade de gestão. O exemplo mais gritante é a chuva de papel picado na partida de volta das oitavas da Libertadores, contra o Flamengo, no Beira-Rio.

O Inter havia perdido no Rio, por 1 a 0, e montou uma operação de guerra para virar o jogo. A torcida compareceu em peso, começou a cantar antes mesmo dos times iniciarem o aquecimento. O clima era todo favorável ao Alvirrubro. Até que, no momento da entrada das equipes, uma chuva de papel picado caiu sobre o gramado.

Um erro de planejamento atrasou a dispersão do material laminado, que deveria ter sido feito no lado contrário da aba superior do estádio. Com isso, todo o papel foi levado pelo vento para dentro do campo, colando na grama, na bola e nas chuteiras. A limpeza levou tempo, esfriou a torcida e, mais ainda, o time. Resultado, nova derrota, 2 a 0, e a eliminação.

Na caça às bruxas, no afã de dar uma resposta à torcida e à imprensa, o clube demitiu dois funcionários de carreira, que apenas executaram o que havia sido ordenado por chefes ligados a uma organizada. Os verdadeiros responsáveis não foram punidos.

Papel picado no estádio Beira-Rio, do Internacional
Papel picado no estádio Beira-Rio, do Internacional (Foto: Ricardo Duarte/SC Internacional)
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