menu hamburguer
imagem topo menu
logo Lance!X
Logo Lance!

Futebol feminino no detalhe: como a consultoria tática individual está se tornando diferencial para atletas

Lance! conversou com o consultor Luís Felipe Pereira sobre a área, que vive expansão no país

Giselly Correa Barata
São Paulo (SP)
Dia 15/12/2025
19:03
Atualizado há 2 minutos
Luís Felipe Pereira, jornalista e consultor tático voltado ao futebol feminino. (Foto: Acervo pessoal)
imagem cameraLuís Felipe Pereira, jornalista e consultor tático voltado ao futebol feminino. (Foto: Acervo pessoal)

  • Matéria
  • Mais Notícias

A evolução do futebol feminino passa por diferentes frentes, e uma delas começa longe dos holofotes, nas telas de vídeo, nos detalhes de posicionamento e na leitura do jogo. É nesse espaço que atua Luís Felipe Pereira, consultor tático individual especializado na modalidade, entrevistado pelo Lance! para uma conversa sobre carreira, formação, atletas, gerações e o futuro da análise no futebol de mulheres.

continua após a publicidade

Formado em jornalismo, Luís Felipe encontrou na tática uma forma de estar ainda mais inserido no jogo. O interesse pelo futebol feminino veio cedo, quando as transmissões ainda eram raras no Brasil. "Eu sempre soube que queria estar nesse meio", conta.

➡️ Tudo sobre Futebol Feminino agora no WhatsApp. Siga nosso novo canal Lance! Futebol Feminino

A transição do jornalismo para a análise de desempenho aconteceu a partir de um incômodo: escrever já não era suficiente. Ele queria participar ativamente da construção do jogo. Foi assim que surgiu o insight da consultoria tática individual, área recente no futebol e ainda mais nova no feminino.

continua após a publicidade

O trabalho funciona como um "personal tático" para atletas. A proposta é individualizar o olhar, algo que, segundo ele, é inviável dentro da rotina de clubes.

— É humanamente impossível um analista sentar com 25 ou 30 atletas e detalhar, uma por uma, onde pode melhorar, com bola e sem bola — explica ele. Na consultoria, o processo é minucioso: jogos reassistidos várias vezes, análise de movimentos sem bola, leitura corporal, tomada de decisão e comportamento tático em diferentes fases do jogo.

continua após a publicidade

Desde 2021, Luís Felipe já trabalhou com mais de 100 atletas, de categorias de base ao alto rendimento, incluindo jogadoras que disputaram Copa do Mundo e Olimpíadas. Entre os nomes citados estão Byanca Brasil, Natália Vendito, Aline Gomes, Tatiana Pinto (Seleção Portuguesa), Kati (Ferroviária), Catalina Ongaro (Seleção Argentina), Jorelyn Carabalí (Seleção Colombiana) e Ana Morganti, goleira da Seleção Brasileira sub-17. O perfil, segundo ele, é claro: atletas extremamente comprometidas com a própria evolução, muitas delas já cercadas por preparador físico, nutricionista e psicólogo.

A formação para chegar até esse nível passou por diferentes caminhos. Luís Felipe destacou cursos de especialização no Brasil e fora dele, como o Vivendo de Análise (VDA), do Rafa Scout, cursos da CBF, da UEFA, do Futury, do Futebol Interativo e uma especialização no Barça Innovation Hub, do Barcelona. Apesar disso, reforçou que o diploma não substitui o estudo constante do jogo.

— O mais importante é entender o jogo, observar, estudar e buscar conhecimento — garante.

Diferentes gerações no futebol feminino

Um dos pontos observados por Luís é a diferença geracional no futebol feminino. Para o analista, é nítido que atletas mais jovens chegam com um nível maior de compreensão tática, resultado do acesso à base estruturada.

— Não é que elas sejam melhores taticamente, mas tiveram o privilégio do básico: aprender desde cedo — diz Luís. Já jogadoras mais experientes, que não passaram por esse processo, muitas vezes apresentam lacunas, compensadas por talento e capacidade de adaptação. A consultoria, nesse cenário, atua como ferramenta de equilíbrio.

A comunicação com as atletas é outro pilar do trabalho. Luís Felipe adota um meio-termo entre o uso de termos técnicos e uma linguagem mais acessível, sempre respeitando o perfil de cada jogadora. Além disso, faz questão de usar referências exclusivamente do futebol feminino.

— As atletas precisam consumir futebol feminino, assistir jogos da modalidade e ter referências de mulheres — destaca. Nas sessões, exemplos de jogadoras como Patri Guijarro são usados para ilustrar conceitos específicos, reforçando identidade e pertencimento.

Análise individual é tendência mundial

Ao comparar culturas táticas entre países, o analista apontou uma diferença clara, especialmente no aspecto defensivo.

— No Brasil, a atleta pensa muito no jogo com bola. Fora, o entendimento defensivo já vem intrínseco — analisa. Para ele, isso ajuda a explicar a escassez histórica de volantes defensivas incontestáveis na Seleção Brasileira, algo que começa a mudar nas novas gerações.

Sobre a Seleção, Luís Felipe avaliou positivamente a era Artur Elias. Para ele, o principal ganho foi a competitividade.

— O Brasil entra para competir com qualquer seleção do mundo — define. Mesmo reconhecendo os riscos do modelo, como a marcação individual alta, destacou que o time já mostrou capacidade de enfrentar potências como Inglaterra, Estados Unidos e Espanha. Na visão do analista, o grupo atual tem condições reais de disputar a Copa do Mundo pensando no título.

O futuro profissional de Luís Felipe segue alinhado à consultoria individual. Apesar de convites para trabalhar em clubes, ele prefere manter a liberdade criativa e o impacto direto no desenvolvimento das atletas. A expectativa é de crescimento ainda maior após a Copa do Mundo, mas com um alerta importante.

— As atletas precisam ter cuidado com quem se aproxima da modalidade por oportunismo — diz, reforçando a importância de profissionais que vivenciam o futebol feminino no cotidiano.

As sessões de consultoria duram, em média, uma hora e variam conforme o perfil da atleta. Há trabalhos de pré-jogo, pós-jogo, análise de adversários, relatórios personalizados e construção conjunta de indicadores de desempenho. Tudo feito em parceria.

Para Luís Felipe, entender o lado humano é tão essencial quanto dominar a tática. "O analista que só entende de tática não é um bom analista", conclui.

O trabalho Luís Felipe Pereira escancara um movimento silencioso, mas decisivo: no futebol feminino que cresce em velocidade, entender o jogo deixou de ser diferencial e passou a ser uma demanda.

Ana Morganti, goleira do Corinthians, e Luís Felipe Pereira. (Foto: Acervo pessoal)
Ana Morganti, goleira do Corinthians, e Luís Felipe Pereira. (Foto: Acervo pessoal)
  • Matéria
  • Mais Notícias