Futebol feminino no detalhe: como a consultoria tática individual está se tornando diferencial para atletas
Lance! conversou com o consultor Luís Felipe Pereira sobre a área, que vive expansão no país

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A evolução do futebol feminino passa por diferentes frentes, e uma delas começa longe dos holofotes, nas telas de vídeo, nos detalhes de posicionamento e na leitura do jogo. É nesse espaço que atua Luís Felipe Pereira, consultor tático individual especializado na modalidade, entrevistado pelo Lance! para uma conversa sobre carreira, formação, atletas, gerações e o futuro da análise no futebol de mulheres.
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Formado em jornalismo, Luís Felipe encontrou na tática uma forma de estar ainda mais inserido no jogo. O interesse pelo futebol feminino veio cedo, quando as transmissões ainda eram raras no Brasil. "Eu sempre soube que queria estar nesse meio", conta.
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A transição do jornalismo para a análise de desempenho aconteceu a partir de um incômodo: escrever já não era suficiente. Ele queria participar ativamente da construção do jogo. Foi assim que surgiu o insight da consultoria tática individual, área recente no futebol e ainda mais nova no feminino.
O trabalho funciona como um "personal tático" para atletas. A proposta é individualizar o olhar, algo que, segundo ele, é inviável dentro da rotina de clubes.
— É humanamente impossível um analista sentar com 25 ou 30 atletas e detalhar, uma por uma, onde pode melhorar, com bola e sem bola — explica ele. Na consultoria, o processo é minucioso: jogos reassistidos várias vezes, análise de movimentos sem bola, leitura corporal, tomada de decisão e comportamento tático em diferentes fases do jogo.
Desde 2021, Luís Felipe já trabalhou com mais de 100 atletas, de categorias de base ao alto rendimento, incluindo jogadoras que disputaram Copa do Mundo e Olimpíadas. Entre os nomes citados estão Byanca Brasil, Natália Vendito, Aline Gomes, Tatiana Pinto (Seleção Portuguesa), Kati (Ferroviária), Catalina Ongaro (Seleção Argentina), Jorelyn Carabalí (Seleção Colombiana) e Ana Morganti, goleira da Seleção Brasileira sub-17. O perfil, segundo ele, é claro: atletas extremamente comprometidas com a própria evolução, muitas delas já cercadas por preparador físico, nutricionista e psicólogo.
A formação para chegar até esse nível passou por diferentes caminhos. Luís Felipe destacou cursos de especialização no Brasil e fora dele, como o Vivendo de Análise (VDA), do Rafa Scout, cursos da CBF, da UEFA, do Futury, do Futebol Interativo e uma especialização no Barça Innovation Hub, do Barcelona. Apesar disso, reforçou que o diploma não substitui o estudo constante do jogo.
— O mais importante é entender o jogo, observar, estudar e buscar conhecimento — garante.
Diferentes gerações no futebol feminino
Um dos pontos observados por Luís é a diferença geracional no futebol feminino. Para o analista, é nítido que atletas mais jovens chegam com um nível maior de compreensão tática, resultado do acesso à base estruturada.
— Não é que elas sejam melhores taticamente, mas tiveram o privilégio do básico: aprender desde cedo — diz Luís. Já jogadoras mais experientes, que não passaram por esse processo, muitas vezes apresentam lacunas, compensadas por talento e capacidade de adaptação. A consultoria, nesse cenário, atua como ferramenta de equilíbrio.
A comunicação com as atletas é outro pilar do trabalho. Luís Felipe adota um meio-termo entre o uso de termos técnicos e uma linguagem mais acessível, sempre respeitando o perfil de cada jogadora. Além disso, faz questão de usar referências exclusivamente do futebol feminino.
— As atletas precisam consumir futebol feminino, assistir jogos da modalidade e ter referências de mulheres — destaca. Nas sessões, exemplos de jogadoras como Patri Guijarro são usados para ilustrar conceitos específicos, reforçando identidade e pertencimento.
Análise individual é tendência mundial
Ao comparar culturas táticas entre países, o analista apontou uma diferença clara, especialmente no aspecto defensivo.
— No Brasil, a atleta pensa muito no jogo com bola. Fora, o entendimento defensivo já vem intrínseco — analisa. Para ele, isso ajuda a explicar a escassez histórica de volantes defensivas incontestáveis na Seleção Brasileira, algo que começa a mudar nas novas gerações.
Sobre a Seleção, Luís Felipe avaliou positivamente a era Artur Elias. Para ele, o principal ganho foi a competitividade.
— O Brasil entra para competir com qualquer seleção do mundo — define. Mesmo reconhecendo os riscos do modelo, como a marcação individual alta, destacou que o time já mostrou capacidade de enfrentar potências como Inglaterra, Estados Unidos e Espanha. Na visão do analista, o grupo atual tem condições reais de disputar a Copa do Mundo pensando no título.
O futuro profissional de Luís Felipe segue alinhado à consultoria individual. Apesar de convites para trabalhar em clubes, ele prefere manter a liberdade criativa e o impacto direto no desenvolvimento das atletas. A expectativa é de crescimento ainda maior após a Copa do Mundo, mas com um alerta importante.
— As atletas precisam ter cuidado com quem se aproxima da modalidade por oportunismo — diz, reforçando a importância de profissionais que vivenciam o futebol feminino no cotidiano.
As sessões de consultoria duram, em média, uma hora e variam conforme o perfil da atleta. Há trabalhos de pré-jogo, pós-jogo, análise de adversários, relatórios personalizados e construção conjunta de indicadores de desempenho. Tudo feito em parceria.
Para Luís Felipe, entender o lado humano é tão essencial quanto dominar a tática. "O analista que só entende de tática não é um bom analista", conclui.
O trabalho Luís Felipe Pereira escancara um movimento silencioso, mas decisivo: no futebol feminino que cresce em velocidade, entender o jogo deixou de ser diferencial e passou a ser uma demanda.

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