Lauter no Lance!: 'Seus sapatos vagabundos desejam se perder e dar a volta em NY'
Maratona de Nova York foi disputada no último domingo

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Diante dos versos proféticos de Frank Sinatra, cantando "New York, New York", o oficial hino da Cidade que não para, acho espaço e inspiração para falar de sua maratona, corrida neste último domingo, sempre no primeiro domingo de novembro, em pleno outono amarelo de Manhatan. Vamos lá então:
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Em sua 55ª edição, a Maratona de Nova York foi especial! Além de ter acolhido mais de 60.000 corredores, de um universo de 234 mil inscritos para o sorteio das vagas, a prova gerou um número recorde de 59.226 concluintes!! Sim, enquanto em nossas terras, ainda se teima em contabilizar "inscritos", entre as maiores maratonas do mundo, a conta é outra, sim, disputa-se a liderança no número de CONCLUINTES. Uma enorme diferença existe entre estes números.

Por exemplo, nas maratonas brazucas, normalmente o número de inscritos é, via de regra, impreciso e de fácil manipulação. Pois a diferença, aqui entre nós, maratonistas tropicais, entre inscritos e concluintes, é enorme.
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Mas por que esta diferença? Simples, normalmente, existem muitas "baixas", muitos inscritos que, ou não comparecem à prova, ou abandonam a prova. Também temos o excesso de "gratuidades", pacotes de inscrições gratuitas corporativas, direcionadas a patrocinadores, povo de mídia (influencers e convidados), barganhas (gratuidades para instituições municipais e estaduais parceiras e afins). Fora, uma rotina comum, a leve inflada nos números finais do evento, sem grande controle, a pedido de organizadores, junto às empresas de cronometragem e inscrições. Enfim, aqui, acontecem diferenças entre inscritos e concluintes bem acima dos 10%!
Outro erro comum é o de fantasiar o número de participantes de outras cidades, ou países, já que métricas de diagnóstico de impacto econômico local através do turismo, criadas pela FGV, acabam "forçando" os organizadores a maquiar estes dados também.
Mas, voltando a New York, um novo e poderoso recorde mundial também foi batido: o de Valor de Impacto Econômico, que foi de mais de 1 BILHÃO DE DÓLARES!! Sim, este foi o impacto econômico em NY, por conta da Maratona deste domingo. Devo também salientar que, na Maratona de NY, corre-se APENAS a distância magna de 42,2km. Não é uma prova multi-distâncias, como por exemplo a do Rio de Janeiro, com provas de 5, 10, 21 e 42km, para a soma de inscritos nas 4 provas chegar ao número de 60 mil INSCRITOS, e não CONCLUINTES. Portanto, estamos falando, sim, de um festival de corridas. Totalmente diferente de NY, Londres, Chicago, Boston, Berlim, Paris… onde, lá sim, podemos chamar de Maratona, pura e cristalina!
New York tem o dom de encantar
A Maratona de Nova York, mesmo não sendo uma das mais rápidas, ou uma das mais acessíveis, tem o dom de encantar, e fidelizar o maratonista, seja pelo passeio pelas vísceras cosmopolitas de NY (passeia por todos os 5 distritos), ou pelo estupendo processo de construção do evento, onde o maratonista se sente abraçado, tutelado, protegido. E a experiência de correr a Maratona de NY vai além da linha de chegada! A partir do momento em que o atleta pendura seu medalhão no peito, faz-se a magia, você se torna a pessoa mais importante de Nova York! Em qualquer fila, seja num McDonalds, ou qualquer outro lugar, você será convidado a ir para a frente da fila. Ou, ao entrar num metrô cheio, cansado e com medalha e sorriso brilhando, haverá SEMPRE alguém que irá ceder seu lugar a você, e sempre com um sonoro "congratulations" sincero! E este efeito continua nos dias que se seguem, afinal, o novaiorquino, sabe exatamente a importância de sua presença na sua cidade, tratando-o com o respeito que o forasteiro corredor do mundo merece, e gosta. Que, satisfeitos e apaixonados, voltam.
Neste ano, apesar da enorme dificuldade que maratonistas brasileiros (e de quase todo o mundo) tiveram para tirar ou renovar seus vistos, e quase uma centena deles acabou ficando de fora, o número de CONCLUINTES brasileiros em NY beirou os 1000. Um belo contingente, apesar dos pesares trumpistas. Ah, acabo de saber, por coincidência, que o candidato muçulmano da esquerda venceu a eleição para prefeito de NY. É Nova York sendo NY, mais uma vez! O mundo continuará, apesar de tudo, se encontrando pelas esquinas de NY.
E a prova, como foi? Ora, como sempre, uma prova com muitos candidatos e candidatas à vitória. Várias presenças ilustres (além de você que até hoje ainda sente uma dorzinha nas pernas ao descer alguma escada, e ainda não conseguiu tirar sua medalha do pescoço, e o sorriso do rosto), sendo a mais ilustre, a presença iluminada de Eliud Kipchoge, em sua última maratona PROFISSIONAL. Sim, correu acompanhando o primeiro pelotão no início, depois desacelerando um pouco e seguindo leve e feliz, com o velho e cativante "sorriso do lagarto" (mais uma vez, obrigado, João Ubaldo) rumo à chegada, no Central Park. Kipchoge promete um calendário de 2026 repleto de boas e desafiadoras maratonas: Antártida +2 Majors + 1 ou 2 sul-americanas…, sempre a passeio!
Já o enorme pelotão masculino, que começou preguiçoso, dá mostras de que não veio a passeio, começa a fazer careta e vítimas. E vai emagrecendo a olhos vistos, enquanto os líderes, impõem ritmo abaixo de 3'00p/km, rumo à chegada. No feminino, quatro atletas (3 quenianas e 2 americanas e Sifan Hassan, adotada pela Holanda) se estapeiam sem perdão. Sobram com folga as 3 quenianas, com Obiri puxando forte, quase entrando, pela última vez, no Central Park.
Os homens continuam o processo de emagrecimento do pelotão sem Ozempic ou Mounjaro, e copiando as mulheres quenianas, assumem um triunvirato desvairado lá no fim da 1st Ave, sonhando com o Central Park.
E enfim, o fim! As 3 moças viram duas, que prometem carregar este duelo até o fim, daqui a duas retas e uma subida. Obiri, velha conhecida de NY, ataca definitiva, sem dó, parte pra vitória e quebra do recorde da Maratona de NY, e aguarda feliz e trêmula suas companheiras de pódio e nacionalidade.
Voltamos para os homens, 3 quenianos e 1 britânico, estranho no ninho, como cantava Sting, "um inglês em Nova York" fica para trás, deixando a prova pra quem entende de maratona!
Benson Kipruto vence, por centésimos de segundo, com 2h08'09", mesmo tempo de Mutiso, a sombra veloz do campeão. Fechando um pódio completo do Quênia, o experiente Korir, também na casa de 2h08', uns 40 segundos atrás. Festa em Nairobi e festa também em NY. Nova York, não é Paris, nem foi casa de Hemingway, mas podem estar certos que, todo primeiro domingo de novembro, também sempre será uma festa!!
Lauter Nogueira
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