Gestão Esportiva na Prática: O novo vestiário do futebol: 30 empresas e um só clube
Clubes precisam equilibrar autonomia do atleta e preservação da cultura coletiva

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Em meio à era BANI, o desafio dos clubes de futebol é equilibrar a autonomia dos atletas com a preservação da cultura coletiva.
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Da sociedade industrial à sociedade do conhecimento
Vivemos uma era de transformação que ultrapassa o campo. Nos primeiros 25 anos deste século, a sociedade está saindo do modelo industrial e mergulhando cada vez mais na sociedade do conhecimento. Deixamos de trabalhar para uma empresa e passamos a ser a nossa própria empresa. As redes sociais apenas tornaram esse fenômeno mais visível: o profissional virou marca, o atleta virou mídia, e o desempenho virou produto.
O jogador de futebol como empresa
Os ciclos de trabalho ficaram mais curtos e o senso de pertencimento às instituições enfraqueceu. No futebol, esse fenômeno se manifestou de forma brutal. O jogador deixou de ser apenas funcionário e passou a firmar uma espécie de sociedade temporária com o clube, por que não dizer, uma joint venture. Traz consigo um grupo de profissionais que o acompanha: fisioterapeuta, nutricionista, analista de desempenho, assessor de imprensa, produtor de conteúdo, empresário, entre outros. Em muitos casos, o atleta confia mais no seu staff pessoal do que na comissão técnica do próprio clube.

Pandemia, dados e a nova lógica da performance
A pandemia acelerou e escancarou esse processo. O isolamento reforçou o cuidado individual, a personalização dos treinos e a cultura dos dados. O desempenho passou a ser mensurado em tempo real, e questões como overtraining, doping e fadiga emocional ganharam novas leituras, todas mediadas por números. O mundo que era VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) tornou-se BANI (frágil, ansioso, não linear e, muitas vezes, incompreensível).
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Um alerta para as SAFs e o risco de perder o pertencimento
Para os clubes e especialmente para os investidores das SAFs no Brasil, há um alerta importante: O senso de pertencimento sempre foi um valor essencial para a cultura do nosso futebol. Ignorá-lo é abrir mão de uma das forças que mantêm viva a conexão entre clube, atleta e torcedor. A perda deste valor pode ter efeitos devastadores no futuro. Afinal, o futebol é jogo demais para ser apenas um negócio e negócio demais para ser apenas um jogo, não é mesmo?
Entre o individual e o coletivo
E no meio dessa nova realidade, surge uma dúvida importante: devemos ignorar essas empresas que vivem dentro dos atletas ou trazê-las para o diálogo e construir juntos um novo modelo de convivência? Quais os limites dessas relações?
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Afinal, o jogo continua sendo coletivo. O problema é que, cada vez mais, todos jogam com interesses próprios que podem superar os coletivos.
No fim, o que está em jogo não é somente a bola, nem o resultado final da partida: é a nossa capacidade de conciliar a empresa que cada um se tornou com o clube, o esporte e a paixão que ainda precisam existir.
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Felipe Ximenes escreve sua coluna no Lance! todas as quartas-feiras. Confira outras postagens do colunista:
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