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Gestão Esportiva na Prática: O erro no futebol e a ilusão da perfeição

Enquanto outros esportes entendem o erro como parte do processo, o futebol o transforma em sentença

Árbitro da final da Libertadores entre Atlético-MG e Botafogo, Facundo Tello indo na direção da cabine do VAR
imagem cameraCom o VAR, o erro no futebol "muda de lugar" (Foto: Juan Mabromata/AFP)
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 08/10/2025
07:01

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Por ser um esporte de score baixo, o futebol trata muito mal o erro. Um gol muda o destino de uma partida e, por extensão, de carreiras e narrativas inteiras. Talvez por isso, o erro assuma um peso desproporcional, quase moral.

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No entanto, é o erro que aproxima o futebol de sua humanidade. É ele que revela vulnerabilidade, coragem e aprendizado. E é exatamente o que o futebol insiste em negar.

Nos esportes de alto volume de ação, o erro é tratado com mais naturalidade. Um atacante de voleibol que acerta seis em cada dez ataques é considerado fora de série. Giovane, Tande, Giba, entre tantos outros, construíram suas carreiras em torno da repetição exaustiva e da aceitação de que errar faz parte da engrenagem do acerto.

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No basquete, Michael Jordan encerrou sua carreira com 49,7% de acerto nos arremessos, LeBron James tem média de 50%, e Stephen Curry, o melhor arremessador de três pontos da história, converte pouco mais de 43% das tentativas.

Erro no futebol ganha mais peso

No futebol, entretanto, um atacante que perde dois gols é rotulado como inútil, um meio-campista que erra dois dribles é substituído sob vaias, e um zagueiro que falha uma vez em cem lances vira manchete negativa.

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A diferença está no olhar. No basquete e no vôlei, há uma cultura de tolerância e compreensão do erro como dado estatístico.

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No futebol, o erro é visto como defeito moral. Essa distorção se amplifica com o calor da arquibancada e com a pressa das redes sociais, que transformam qualquer falha em julgamento instantâneo.

Na arbitragem, o cenário é ainda mais emblemático. Com a chegada do VAR, criamos uma ilusão de perfeição. O árbitro, agora observado por dezenas de câmeras, passou a ser cobrado como se fosse um software infalível. O problema é que o VAR não elimina o erro, apenas o muda de lugar. O erro tecnológico é tão humano quanto o erro de campo, mas, ironicamente, mais frio e menos compreendido.

O jogo entre São Paulo e Palmeiras, neste fim de semana, escancarou essa realidade: por mais tecnologia que tenhamos, ainda há subjetividade, interpretação e contexto.

São Paulo x Palmeiras
Jogo entre São Paulo e Palmeiras mostra que, mesmo com tecnologia, ainda há subjetividade (Foto: Ettore Chiereguini/AGIF)

E enquanto continuarmos exigindo precisão cirúrgica de um jogo que nasceu da emoção e do improviso, vamos seguir condenando o que o torna belo.

Talvez o maior erro do futebol seja acreditar que pode existir sem o erro. Porque é o erro que nos ensina a jogar, a decidir e, sobretudo, a compreender o que é ser humano dentro de campo.

E talvez seja hora de ampliarmos essa reflexão.

Temos falado tanto sobre a saúde mental no esporte e na sociedade como um todo, mas pouco sobre como está e como está sendo cuidada a saúde mental dos árbitros
brasileiros.

Talvez isso seja ainda mais importante do que a própria profissionalização, a mais nova solução mágica e simples para uma questão humana e complexa.

Como regra, nós brasileiros não gostamos de futebol. Gostamos do nosso clube. E a única coisa que nos importa é que ele ganhe sempre. Não importa como.

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Felipe Ximenes escreve sua coluna no Lance! todas as quartas-feiras. Confira outras postagens do colunista:

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