Lúcio de Castro: As veias abertas do futebol mundial e a Copa Intercontinental
Copa Intercontinental será assunto único nos próximos dias

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"Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder".
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A frase acima abre o clássico "As veias abertas da América Latina", uma análise da história da América Latina sob o ponto de vista da exploração econômica e da dominação política, desde a colonização europeia até os anos do lançamento, fim dos anos 60. Virou um clássico, espalhou-se como brasa e grito da juventude latino-americana de então.
Anos depois, mais exatamente em 2014, na 2a Bienal do Livro de Brasília, tive a honra de estar na mesma mesa de debates ao lado do autor, Eduardo Galeano e também com o gigante do jornalismo Mário Magalhães, quando o uruguaio soltou sua autocrítica ao livro. "Eu não seria capaz de ler de novo. Cairia desmaiado".
A revisão de Galeano é rigorosa com ele mesmo. É certo que seu clássico tem um tanto mais do discurso daqueles anos do que de rigor acadêmico. Mas, em defesa, não existia nenhum compromisso acadêmico por parte do autor ou obrigação.
E muito mais do que verdades científicas ou teses, sobram reflexões essenciais e atuais que, rigor do próprio escritor à parte, servem para iluminar caminhos até hoje para entender o mundo e, acima de tudo, nosso lado debaixo do Equador e sua ausência de pecados. E sobra coragem intelectual naquelas páginas.
Dito tudo isso, a frase que abre esse texto poderia perfeitamente ser a síntese da Copa Intercontinental da FIFA, atração que será a pauta quase única do mundo do futebol por esses na próxima semana.
Foram as veias abertas do lado do mundo dos países que se especializaram em perder desde a colonização que definiu nosso papel no futebol mundial de hoje: um coadjuvante de luxo da metrópole. No caso, da Europa.
Nem é preciso discorrer tanto sobre alguns pontos como a fuga de talentos desde muito jovens, captados menores de idade e atraídos pela superioridade financeira. Nem dos orçamentos tão superiores dos clubes europeus. Tudo o que torna tais confrontos tão desiguais e a possibilidade de igualar em um quase milagre.
No Mundial, agora chamado de Copa Intercontinental, mas com o mesmo status de apontar o campeão do mundo, Golias está no Paris Saint-Germain. Pyramids (África), Flamengo e o mexicano Cruz Azul fazem o Davi. (O Al Ahli faz o novo rico querendo comprar e ganhar legitimidade, e o Auckland vai no papel de turista).
Em característica bem própria do universo da bola, escândalos unem os dois lados. Em acusações de uma grande lavanderia chamada futebol.
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O Golias desse enredo tem uma história conhecida. De Golias. De tirano, de autoritarismo. Por trás de tudo, a figura do Emir Tamim bin Hamad Al Thani, atropelador contumaz de direitos humanos. Cujo fundo de investimento, o Qatar Sports Investments (QSI), já botou 2,2 bilhões de euros desde que assumiu o clube, em 2011.
Na frente das câmeras, está Nasser Al-Khelaïfi, o CEO da QSI. Que junto com o Emir, acumula repetidas acusações de lavagem de dinheiro. Na justiça da França e da Espanha.
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Do lado debaixo, é o adversário do Flamengo que tenta se desvincular da fama de longa manus e lavanderia do narcotráfico.
Tem sido difícil.
Futebol mexicano teve escândalo envolvendo Cruz Azul
Em 2020, o escândalo de envolvimento dos proprietários do Cruz Azul com o narcotráfico chegou a levar a Unidad de Inteligencia Financiera (UIF) a bloquear as contas da Cooperativa La Cruz Azul, do grupo da fábrica de cimentos que patrocina o clube. Hoje, 99% do clube pertencem a cooperativa e o 1% restante da "Cementos Cruz Azul". No fim, as mesmas mãos.

As contas do clube chegaram a ficar congeladas também na ocasião.
Figura histórica do futebol mexicano, Jorge Campos chegou a denunciar que por trás das transações do futebol no país, existia "narcotráfico, corrupção e lavagem de dinheiro".
Algumas dessas denúncias falavam em associação de ex-dirigentes do patrocinador do Cruz Azul com o Cartel Jalisco Nueva Generación (CJNG), hoje o principal e mais temido do país, que tem aparecido em alguns momentos associado ao PCC.
Num drama que nos faz lembrar a célebre frase de Porfírio Diaz, que comandou o país em diferentes momentos entre o final do século XIX e início do XX: "Pobre México, tão longe de deus e tão perto dos Estados Unidos". País maior consumidor e razão de ser do narcotráfico mexicano.
Entre Davis e Golias, a lavanderia do futebol segue funcionando a todo vapor, numa equação já tão conhecida entre narcotráfico e futebol. Desde Pablo Escobar na Colômbia. Por aqui não há razão alguma para olhar virtuoso sobre os vizinhos.
Ao contrário deles, a história dessas relações ainda nem começaram a ganhar as páginas por aqui. Há muita coisa a ser revelada ainda.
FILIPE LUÍS
A coluna de hoje seria sobre Filipe Luís. É tema obrigatório de qualquer análise que se preze no futebol deste Brasil de 2025. Na hora H, fiz o Baloubet e refuguei. Quero entender melhor ideias, fontes em que bebeu, bastidores, inquietações, manias, convicções e dúvidas do personagem para então tratar do assunto. Não seria justo com o leitor falar platitudes sobre a mais doce promessa a aparecer no desértico cenário de pensadores do nosso futebol nos últimos anos. Voltaremos a isso.
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