menu hamburguer
imagem topo menu
logo Lance!X
Logo Lance!

Gestão Esportiva na Prática: o silêncio do vestiário

Atenção dispersa, comunicação fragmentada e individualismo: os novos inimigos ocultos do futebol moderno

Carlo Ancelotti durante treino que definiu a escalação do Brasil
imagem cameraComunicação entre atletas e comissão técnica ficou mais complexa (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 10/09/2025
07:00

  • Matéria
  • Mais Notícias

A atenção, a comunicação e o relacionamento intergeracional são três dos maiores desafios da sociedade moderna. E o futebol, como reflexo desse tempo, não escapa dessa lógica, com o silêncio que chega ao vestiário.

continua após a publicidade

Home office do atleta

Penso muito sobre a comunicação entre atletas e comissão técnica. Ela nunca foi simples, mas hoje se tornou ainda mais complexa. O jogador de futebol passa 4/5 da semana em “home office”: fora do clube, é ele quem precisa gerenciar sono, alimentação, suplementação, treino complementar, saúde mental e equilíbrio emocional. Alguns contam com um staff particular que chega a duas dezenas de profissionais: nutricionista, psicólogo, fisiologista, personal, gestor de imagem, assessor, entre tantos outros.

Quem é ouvido?

Nesse cenário, a pergunta é: quem, de fato, é ouvido? O treinador? O preparador físico? Ou o staff externo que circula 24 horas ao redor do atleta? Essa rede fragmentada cria ruídos de interpretação, disputas de autoridade e, muitas vezes, um distanciamento perigoso entre clube e jogador.

continua após a publicidade

➡️Gestão Esportiva na Prática: Leia todas as colunas

Entre bolhas e silêncios

E o problema não se limita à relação atleta–clube. Tenho notado que os atletas se falam cada vez menos entre si, escravos que são das mensagens de WhatsApp e redes sociais. Os pequenos grupos dentro do elenco aparecem cada vez mais evidentes, separados por rotinas, hábitos e valores. A preocupação com a performance individual, estimulada por métricas, prêmios e contratos, vem se sobrepondo à necessidade de consciência coletiva, essência de qualquer esporte de equipe.

Seleção Brasileira em treino na Granja Comary (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
Atletas falam cada vez menos entre si (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

➡️Siga o Lance! no WhatsApp e acompanhe em tempo real as principais notícias do esporte

A era da distração

E, como se não bastasse, surge o desafio da atenção. Hoje, o ser humano em média não consegue reter seu foco por mais de 6 a 10 segundos sem precisar de um novo estímulo. Como controlar isso em 100 minutos de jogo, onde um atleta toma mais de 2 mil decisões? O impacto é silencioso, mas gigantesco. Afinal, se a mente divaga a cada instante, como sustentar o nível de concentração que a alta performance exige?

continua após a publicidade

Falar não basta

O problema não é só o que se fala, mas o que se faz com o que é falado. Uma orientação da comissão pode virar apenas mais uma voz em meio ao excesso de informações. E como se alinhar quando, pela primeira vez na história, cinco gerações convivem no mesmo ambiente de trabalho, cada qual com seus códigos, linguagens e formas de lidar com a hierarquia?

O preço do silêncio

Ainda não encontrei soluções definitivas para esse desafio, talvez elas nem existam. Mas pode ser que a resposta esteja em novas lideranças capazes de mediar, traduzir e integrar todos esses mundos. Ou na criação de canais mais objetivos de comunicação dentro dos clubes. O certo é que ignorar o problema custa caro. Afinal, se não conseguimos falar a mesma língua dentro de um vestiário, como pretendemos competir em alto nível em um futebol cada vez mais globalizado? De que adianta medir quilômetros, se não conseguimos medir conexões humanas? O que vale mais: a marca pessoal ou a marca do clube no peito?

Gestão Esportiva na Prática: veja mais publicações

Felipe Ximenes escreve sua coluna no Lance! todas as quartas-feiras. Confira outras postagens do colunista:

➡️Nosso futebol segue entre Big Bangs e deuses imutáveis
➡️Entre o bônus e o ônus do jogo
➡️O ruído, o rótulo e a rede

  • Matéria
  • Mais Notícias