Sucesso no Del Valle, 'seca' no Cruz Azul e fracasso no Porto: os trabalhos de Anselmi antes do Botafogo
Novo comandante alvinegro tem experiências distintas no cenário internacional

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Martín Anselmi chega ao Botafogo após uma trajetória marcada por resultados contrastantes em três contextos distintos do futebol internacional. Campeão no Independiente del Valle, sem títulos no Cruz Azul e com passagem curta e de baixo aproveitamento no Porto, o treinador assume o Glorioso cercado por altas expectativas.
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O Lance! conversou com jornalistas do Equador, do México e de Portugal sobre os principais trabalhos de Anselmi até aqui na carreira. O Alvinegro será o quinto trabalho do argentino de 40 anos como técnico principal.
Independiente del Valle: títulos e alto aproveitamento
A fase mais vitoriosa da carreira de Anselmi foi no Independiente del Valle. Após uma breve passagem inicial como treinador principal no Unión La Calera, do Chile, em 2022, ele assumiu o clube equatoriano e obteve resultados expressivos. Foram 75 partidas, com 47 vitórias, oito empates e 18 derrotas, além da conquista da Copa Sul-Americana, Recopa Sul-Americana, Copa do Equador e Supercopa do Equador.
Em entrevista ao Lance!, o jornalista equatoriano Jimmy Cornejo, da "Radio Caravana", contextualiza o sucesso do técnico argentino no Equador. Ele elogia o trabalho de Anselmi, mas ressalta que os fatores estruturais e a altitude contribuíram para as conquistas.
— Anselmi conseguiu coisas importantes com o Independiente. Foi campeão da Recopa e também da Copa Sul-Americana, e aqui no Equador ele também teve sucesso, com uma equipe que jogava muito bem. Mas é preciso destacar um fator importante: no Equador existe a questão da altitude. O Independiente joga a 2.800 metros acima do nível do mar, e isso é um fator que ajuda muito. Claro que o time precisa jogar bem e ter bons jogadores, mas a altitude influencia bastante. Nos outros clubes pelos quais passou, talvez os resultados não tenham sido tão expressivos. Mesmo assim, trata-se de um bom treinador, sim. É um bom técnico — destacou sobre o novo técnico do Botafogo.
Sobre o modelo de jogo, Cornejo aponta um padrão ofensivo claro, mas que exige peças específicas para funcionar.
— Ele é um treinador com estilo muito ofensivo. Suas equipes pressionam bastante a saída de bola, jogam em alta intensidade e, sobretudo, jogam rápido. Os times de Anselmi são equipes muito ofensivas e muito verticais. Porém, para implantar esse estilo de jogo, não depende apenas do treinador. É necessário também contar com jogadores que se encaixem nesse modelo, nesse esquema de jogo. Se você não tem os jogadores adequados, o estilo não funciona. Então, é um estilo positivo para equipes ofensivas, sem dúvida, mas também tem seus prós e contras. Há pontos negativos. Se a equipe apresenta muitos espaços, muitos buracos na defesa, acaba sofrendo gols com facilidade. Portanto, é um modelo com virtudes e riscos: um time ofensivo, vertical, mas que precisa de equilíbrio para funcionar — analisou
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Cruz Azul: bons números, mas ausência de título
O sucesso no Equador levou Anselmi ao México, onde comandou o Cruz Azul em 50 jogos, com 28 vitórias, 10 empates e 12 derrotas. O desempenho nos pontos corridos foi consistente, mas o treinador não conseguiu transformar o volume de jogo em conquistas. A equipe foi derrotada na final do Clausura e eliminada na semifinal do Apertura, ambas pelo América.
Para o jornalista mexicano Mario Cabrera, da revista "GQ México", o balanço esportivo ficou aquém do esperado para um clube de maior peso, apesar do bom futebol apresentado.
— De modo geral, o desempenho do Cruz Azul com Martín Anselmi foi bom. Em vários momentos, pode-se dizer que foi muito bom. No entanto, tratando-se de um clube grande, isso não é suficiente. Quando o título não vem e, além disso, a equipe é eliminada nas fases finais pelo seu rival histórico, o balanço final é de fracasso esportivo. O futebol apresentado explica por que o time brigou na parte de cima da tabela e quebrou recordes, mas os títulos são o parâmetro que define clubes dessa dimensão, e nesse aspecto o projeto ficou aquém — avaliou, em resposta ao Lance!.
Cabrera destaca que o treinador deixou uma identidade clara no time mexicano. Assim como no Equador, Anselmi impôs o estilo ofensivo no Méxicmo, mas esbarrou em limitações em jogos decisivos.
— Como ponto positivo, Anselmi devolveu ao Cruz Azul uma proposta reconhecível: uma equipe intensa, ofensiva, vertical e com capacidade de impor condições. Os números sustentam essa ideia, tanto em pontuação quanto em saldo de gols. Como ponto negativo, seu estilo mostrou limites em cenários de máxima pressão: contra rivais como o América, a equipe teve dificuldades para sustentar a vantagem competitiva nas fases finais. Soma-se a isso o fato de sua saída abrupta ter influenciado a leitura do seu legado, que foi elevado no aspecto futebolístico, mas que institucionalmente ficou marcado pela forma como ocorreu — concluiu sobre o novo comandante do Botafogo.
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Porto: baixo aproveitamento e saída precoce
O desempenho do Cruz Azul chamou atenção do Velho Continentel, mas experiência europeia de Anselmi durou apenas seis meses. No comando do Porto, foram 21 partidas, com 10 vitórias, seis empates e cinco derrotas, números considerados insuficientes para a realidade do clube português. A eliminação na fase de grupos do Mundial de Clubes acelerou o processo de demissão.
O jornalista português Pedro Cadima, do jornal "A Bola", avalia que a combinação entre elenco limitado, rigidez tática e pouco tempo de adaptação comprometeu o trabalho.
— Os problemas de Anselmi podem ter tido origem na teimosia com o sistema que idealizou e com a forma organizada com que quis jogar, impondo esse modelo aos jogadores de que dispunha.Em seu favor, o fato de ter encontrado um dos elencos do Porto dos mais desqualificados em muitos anos de história, com um plantel de poucas soluções, ainda mais enfraquecido pelas saídas de Galeno e Nico González pouco depois da sua chegada. Foi, sem dúvida, um fracasso no sentido de Anselmi ter alcançado uma porcentagem de vitórias muito baixa para a realidade do Porto, mas também herdou uma situação complexa, em que convergiam problemas internos e falta de qualidade — escreveu o jornalista ao Lance!.
Cadima também aponta dificuldades de leitura do contexto e insistência em escolhas táticas. Anselmi costuma utilizar esquema tático com três zagueiros, mas o elenco do Porto não entregava o necessário para manter o estilo.
— Não se viu nele grande capacidade de adaptação. Insistiu na defesa com três (zagueiros) quando o Porto tinha jogadores muito limitados, talvez o setor que mais deixou a desejar ao longo de uma temporada terrível. Creio que foi por aí que perdeu a paciência da Direção e dos adeptos. O plantel era curto, claramente abaixo das metas e aspirações do clube, e penso que Anselmi tentou ganhar o grupo pela estabilidade das escolhas, acreditando que as rotinas acabariam por surgir. Ficou de positivo a aposta em Rodrigo Mora, de 17 anos, que se tornou o principal jogador do time — concluiu Cadima.
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Anselmi tem novo desafio no Botafogo
O Botafogo anunciou a contratação de Anselmi na noite de segunda-feira (22). As partes chegaram a um acordo por um vínculo válido por duas temporadas após a entrevista feita com John Textor, conforme apurou o Lance!.
Anselmi é um nome que já havia entrado em pauta na SAF no início de 2025, logo após a saída de Artur Jorge — que tem o mesmo empresário do argentino. Desta vez, o espaço entre interesse e conversas foi curto, com a SAF tendo pressa para acertar.
Ele assume o Botafogo acompanhado do auxiliar Luis Pastur e do preparador físico Diego Bottaioli. O preparador de goleiros Darío Herrero completa a comissão técnica alvinegra. Ele é aguardado no Rio de Janeiro no dia 4 de janeiro, um dia antes da reapresentação do elenco no Espaço Lonier.

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