Dupla do remo retoma sonho por Olimpíadas um ano após enchentes no RS
Evaldo Becker e Piedro Tuchtenhagen retomam sonho de olho em 2028

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Evaldo Becker e Piedro Tuchtenhagen abriram mão do sonho olímpico em Paris 2024 para ajudar a socorrer as vítimas de catástrofe climática no Rio Grande do Sul. Um ano depois, a dupla trilha novo caminho com títulos e volta a focar na vaga em Los Angeles 2028.
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Atletas do Flamengo, os remadores gaúchos tomaram uma atitude surpreendente, mas muito humana em maio do ano passado. Porto Alegre e outras regiões do RS ficaram debaixo d'água por conta do alto volume de chuvas (1000m), que vitimaram 184 pessoas e deixaram 25 desaparecidos, além de milhares de desabrigados.
A situação poderia ter sido ainda pior, se não fosse a própria população ajudar nas dificuldades e nos resgates do dia a dia. Entre essas pessoas, estavam Evaldo Becker e Piedro Tuchtenhagen, do remo (skiff duplo peso leve).
- Cheguei as dependências do GNU (Grêmio Náutico União) logo no início da manhã, o Evaldo já estava no abrigo. Ele me olhou e eu olhei para ele e parecia que queríamos falar a mesma coisa. Ele falou: 'Bah', acho que não dá, né'. E eu concordei: 'Não tem jeito'. Nossa conversa sobre isso foi tranquila, pois nós dois queríamos a mesma coisa - comentou Tuchtenhagen ao Lance!.
Os atletas não estavam classificados para as Olimpíadas de Paris e teriam a última chance no Pré-Olímpico da Suíça, que aconteceria entre 19 e 21 de maio. Com os acontecimentos trágicos no estado, eles optaram por desistir do torneio e ficaram na linha de frente, ajudando com seus barcos pelas ruas alagadas.
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) até pediu a vaga olímpica dos remadores como "convidados" para a federação internacional de remo, mas não foi pra frente. Em Paris, o Brasil teve Lucas Verthein e Beatriz Tavares, ambos no skiff simples, como representantes - eles ficaram em 15º lugar.

Los Angeles 2028 em outra categoria
No atual ciclo olímpico, Evaldo Becker e Piedro Tuchtenhagen passarão por novos desafios. Eles ganharam o Sul-Americano no mês passado, em Assunção, no Paraguai, na primeira competição internacional deles depois da tragédia no RS.
- Nas primeiras três semanas que retornei aos treinamentos, depois da enchente, foi bem difícil, mas assim que a rotina do treino foi se estabilizando, eu fui notando significativamente melhora fisicamente. Mesmo fazendo treinamento indoor, pude evoluir muito fisicamente e me sentia focado e motivado a retornar. Então pude melhorar muito durante esse período - avaliou o atleta do Fla.
Para as próximas Olimpíadas, entretanto, a dupla precisará disputar em outra categoria. O double skiff peso leve foi excluído do programa dos Jogos de Los Angeles, em 2028 - o esporte segue nas competições.
Com isso em mente, eles pretendem disputar os Jogos Pan-Americanos de 2027 de Lima, no Peru, ainda pelo peso leve, assim como no Sul-Americano e o Mundial, e só depois migrarão para o pesado, que está presente nas Olimpíadas. Essa futura categoria tem a média de peso do barco acima de 70kg por atleta, no caso dos homens.
Outra adaptação para 2028 é a distância das provas. O percurso oficial é de 2 mil metros, mas será menor em Los Angeles: 1,5 mil metros por conta da raia menor.
- Essas competições serão parte da nossa caminhada até os Jogos de 2028, onde vamos poder acrescentar um pouco mais de massa muscular e aproveitar o lastro que as competições anteriores nos darão para chegar competitivos nas qualificações Olímpica - completou Tuchtenhagen.
- Como foi a conversa para desistir do sonho olímpico e ajudar na tragédia do RS?
Piedro Tuchtenhagen: "Cheguei as dependências do GNU (Grêmio Náutico União) logo no início da manhã, o Evaldo já estava no abrigo. Ele me olhou e eu olhei para ele e parecia que queríamos falar a mesma coisa. Ele falou: 'Bah', acho que não dá, né'. E eu concordei: 'Não tem jeito'. Nossa conversa sobre isso foi tranquila, pois nós dois queríamos a mesma coisa".
- Você foi atingido pessoalmente pela enchente?
Piedro Tuchtenhagen: "Eu não fui atingido diretamente pela enchente. Em 2023, eu fui atingindo pela cheia de setembro, pois morava na Ilha do GNU. Perdi todos os móveis e precisei ser resgatado, porém nada comparado a 2024. Logo após as cheias de 2023, junto com a minha noiva, alugamos um apartamento em uma região bem alta em Porto Alegre e isso nos assegurou durante a cheia de 2024".
- Quais lições conseguiu tirar nesse período?
Piedro Tuchtenhagen: "Aprendemos muito durante tudo o que aconteceu durante a cheia. Ser solidário, pensar no próximo antes mesmo de nós. É algo que vou levar para o resto da vida. Todo o esportista que compete em provas individuais tem um pouco de egoísmo, pensa apenas em si, pois sua vida depende disso. Mas pude aprender que isso não nos leva a lugar algum, principalmente como pessoas. Não foram esses valores que aprendi quando conheci o esporte e, com certeza, não será esses que me tornaram um atleta e uma pessoa melhor".
- Quando conseguiu voltar aos treinos?
Piedro Tuchtenhagen: "Assim que as demandas do abrigo do GNU e entregas de donativos foram parando, eu fui retornado aos poucos. Todo treino era indoor, seja musculação, bike ergométrica, remo indoor. A garagem de barcos do GNU estava davastada e não tínhamos como utilizar os barcos. Foi uma retomada um pouco difícil, porque precisei me adaptar, mas mesmo assim pude voltar bem fisicamente".
- Vocês ganharam o Sul-Americano na 1ª competição internacional pós-enchente. Mesmo assim, sentiu alguma queda de rendimento pelo período afastado? Demorou para retomar o melhor condicionamento?
Piedro Tuchtenhagen: "Nas primeiras três semanas que retornei aos treinamentos, depois da enchente, foi bem difícil, mas assim que a rotina do treino foi se estabilizando, eu fui notando significativamente melhora fisicamente. Mesmo fazendo treinamento indoor, pude evoluir muito fisicamente e me sentia focado e motivado a retornar. Então pude melhorar muito durante esse período".
- Nesse ciclo olímpico, vocês vão ter que disputar em outra categoria e tem Mundial, Pan-Americano no caminho. Qual o planejamento? Faz muita diferença a mudança?
Piedro Tuchtenhagen: "O 2x Peso Leve não faz mais parte do programa olímpico. O próximo passo seria migrar para o 2x Peso Pesado. Porém, ainda tem competições muito importantes na qual o 2x Peso Leve continua no programa, como os Jogos Sul-Americanos e Pan-Americanos, assim como Copas do Munndo e Campeonatos Mundial. Essas competições serão parte da nossa caminhada até os Jogos de 2028, onde vamos poder acrescentar um pouco mais de massa muscular e aproveitar o lastro que as competições anteriores nos darão para chegar competitivos nas qualificações Olímpica".
O L! entrou em contato com o remista Evaldo Becker, que topou a entrevista, mas depois não retornou com as respostas das perguntas.
Tragédia no Rio Grande do Sul
Entre o fim de abril e o começo de maio, o Rio Grande do Sul viveu uma catástrofe com as fortes chuvas. As tempestades atingiram mais de 2,4 milhões de pessoas em 478 dos 497 municípios (96% do estado) e aproximadamente 13,7 mil quilômetros de estradas, entre rodovias federais e estaduais.
Com a tragédia, 184 morreram, 806 ficaram feridas e 25 pessoas seguem desaparecidas até hoje. No auge da emergência, cerca de 200 mil pessoas ficaram desabrigadas e 81,2 mil foram acolhidas em abrigos.
O governo estadual precisou criar o Plano Rio Grande, que investiu R$ 8,3 bilhões para amenizar os impactos causados pela tragédia. Já o governo federal suspendeu a cobrança da dívida de R$ 98 bilhões do estado com a União por três anos, pagou um auxílio emergencial de R$ 5,4 mil a 420 famílias e, ao todo, aplicou R$ 111,6 bilhões em medidas.
Futuras enchentes?
A tragédia ambiental trouxe lições para as autoridades, mas o problema pode se repetir na região. O estado precisa resolver a infraestrutura de proteção, com melhor manutenção e construção de barreiras em localidades vulneráveis.
No final de 2024, o governo federal criou o Fundo de Apoio à Infraestrutura para Recuperação e Adaptação a Eventos Climáticos Extremos (Firece), que possui R$ 6,5 bilhões depositados para obras estruturantes, reformas de diques, casas de bombas, drenagem de arroios, desassoreamento de calhas fluviais, entre outras intervenções.
Essa quantia está a cargo do governo estadual para licitar os projetos para as obras, que ainda não têm previsão de início. Os municípios têm cobrado mais agilidade.
Governo do RS investe R$ 154 milhões no Esporte
Através da Secretaria do Esporte e Lazer (SEL), o governo do estado lançou iniciativas para atuar na recuperação de espaços e equipamentos esportivos afetados pela enchente de maio do ano passado. O investimento ficou em R$ 154 milhões.
Inicialmente, o programa SOS Esporte ajudou cinco das 12 federações inscritas no edital com até R$ 150 mil, proveniente da Lei Pelé: breaking, ginástica, taekwondo, judô e capoeira.
A SEL também criou o Avançar Mais no Esporte, uma extensão do Avançar no Esporte, criado em 2021 e com 272 obras realizadas. Nesta nova fase, foram investidos R$ 154 milhões em 354 municípios – cerca de 70% das cidades gaúchas. Ao todo, 657 propostas foram enviadas, e 507 aprovadas.
Desses projetos, 313 integraram a modalidade Infraestrutura Esportiva (até R$ 500 mil), e outros 193 na categoria Ilumina (até R$ 200 mil). Em ambas modalidades, a contrapartida municipal será de 30% do valor solicitado.
De acordo com a SEL, o Avançar Mais no Esporte tornou-se o maior programa de infraestrutura esportiva da história do Rio Grande do Sul.
Prefeitura não divulga valores investidos
Sem especificar investimentos, a Secretaria de Esporte e Lazer (Smel) informou que apenas quatro das 18 unidades pertencentes à pasta foram atingidas pela enchente: Parque Mascarenhas de Moraes, no bairro Humaitá; Ginásio Tesourinha, no bairro Menino Deus; Centro de Comunidade de Vila Elizabeth (Cecove), no bairro Sarandi; e Centro da Comunidade Parque Madepinho (Cecopam), no bairro Cavalhada.
Das quatro, somente a recuperação do Cecopam já foi concluída, com o espaço em funcionamento. O Parque Mascarenhas de Moraes é quem está mais próximo de reabrir, já que também recebeu as obras previstas.
Por fim, o Ginásio Tesourinha passa por revitalização, iniciada antes da cheia, e está na segunda etapa dos trabalhos, enquanto o Cecove já contava com previsão de obras e teve o escopo ampliado em virtude da enchente.
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