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Bastidores do Pan Júnior: como os jovens atletas lidam com a saúde mental

Assunto tem ganhado relevância no esporte de alto rendimento

Matheus Lima admitiu autocobrança por resultados
imagem cameraMatheus Lima admitiu autocobrança por resultados (Foto: Ana Patricia/COB)
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Beatriz Pinheiro
Enviada especial
Dia 23/08/2025
12:44

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PARAGUAI - Em sua segunda edição, os Jogos Pan-Americanos Júnior reúnem os principais destaques do esporte olímpico com idades entre 12 e 23 anos. Ao longo de 15 dias de competição, os atletas lidaram com a busca por medalhas e vagas para os Jogos de Lima 2027, além das próprias cobranças para performar em alto nível e exibir suas melhores marcas. Nesse contexto, o trabalho psicológico e mental, assunto cada vez mais em destaque, ganhou atenção especial.

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Uma das mais experientes da delegação de 363 atletas enviados a Assunção para representar o Time Brasil, a nadadora Stephanie Balduccini tratou o tema com bastante seriedade. Aos 22 anos, ela já disputou duas Olimpíadas e, antes de chegar ao Paraguai para o Pan Júnior, viveu uma grande frustração no Mundial de Singapura, com um desempenho abaixo do esperado, sem se classificar às finais. Ela contou à reportagem do Lance! que buscou ajuda psicológica para atravessar o momento e lidar com as críticas.

— Só quem treina todo dia e tá lá todo dia sabe o quão frustrante é nós atletas irem pra nível mundial e não performar do jeito que quer. As pessoas querem criticar, mas por trás de tudo vocês têm que entender como é a mentalidade de um atleta de alto nível, as pessoas não dão valor a isso. Ao invés de o Brasil ficar unido, o pessoal pesa no outro, critica mais, e no final do dia isso acaba ainda mais com a nossa autoestima - disse Stephanie, que deixou o Pan Júnior com oito medalhas de ouro.

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O velocista Matheus Lima, 22 anos, uma das principais revelações do atletismo brasileiro, também admitiu, durante o Pan Júnior, que tem enfrentado certa ansiedade para bater as próprias metas na pista. O atleta, que representou o país nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e foi medalhista de prata dos 400m com barreiras na Diamond League em 2025, era o grande favorito ao ouro da prova em Assunção e chegou a bater o recorde do evento nas eliminatórias, com marca de 48s23, mas não repetiu o desempenho na final e ficou com a medalha de prata.

Muito chateado após a conclusão da prova, Matheus ficou bastante tempo na pista absorvendo o momento e pediu um tempo antes de conversar com a imprensa. Depois, mais tranquilo, contou que tem se preparado muito e conseguido correr abaixo dos 48 segundos nos treinamentos, mas a ansiedade e a autocobrança têm dificultado que ele repita a performance nas competições.

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— Eu tenho uma cabeça muito boa, quando eu quero um resultado, eu vou lá e consigo. Mas, ultimamente, eu tô querendo tanto, tanto, tanto que o resultado acaba não saindo. Mas, eu creio que quando eu menos esperar o resultado vai sair e com certeza vai ser um resultado muito bom, porque é o que eu treino todos os dias. O que eu tiro de lição dessa prova é pra relaxar, manter a cabeça no lugar, que quando eu menos esperar, o resultado vai sair - contou Matheus, que, além da prata nos 400m com barreiras, também foi medalhista de ouro no revezamento 4x400m.

Stephanie Balduccini, destaque do Pan Júnior, falou sobre trabalho mental
Stephanie Balduccini, destaque do Pan Júnior, falou sobre trabalho mental (Foto: Marina Ziehe/COB)

Quebra de tabu e acesso à nova geração

Concentrada em um hotel mais afastado do centro de Assunção, a delegação brasileira contou com duas psicólogas, Larissa Dourado e Nathalia Cardoso, que trabalharam no apoio aos atletas. A base do Time Brasil em Assunção, à qual a reportagem do Lance! teve acesso, disponibilizou um espaço especial de acolhimento e saúde mental, com pufes e vista para o rio, para deixar o ambiente mais confortável.

Segundo o chefe de missão do Brasil, o ex-judoca Leandro Guilheiro, o tema da saúde mental tem ganhado mais destaque na nova geração, mas mesmo assim ainda é novidade para muitos atletas, que esbarram em questões de acesso ou preconceito. Com vasta experiência dentro dos tatames, Guilheiro aponta que o equilíbrio entre corpo e mente é fundamental para a alta performance do atleta.

— Nem todos os atletas tiveram acesso à psicologia em algum momento na vida. Tem muitos atletas que chegaram aqui e tiveram o primeiro contato com a psicóloga, por vários motivos, às vezes por uma questão de falta de infraestrutura, às vezes por causa de um preconceito que se tem, porque esse é um tabu que existe no esporte, tem muito atleta que acha que o trabalho psicológico é pra quem é maluco ou pra quem "amarela" na competição. Com esse primeiro contato, eles começam a entender que não, que é uma questão geral do ser humano, não dá pra dissociar o ser humano do atleta. Agora tem atleta que vai todo dia, que viciou no trabalho mental - declarou.

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Beatriz Pinheiro viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB)

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