Com Fair Play Financeiro, parte dos clubes deverá rever folha de pagamento
Especialista em finanças dos clubes fala em entrevista exclusiva ao Lance!

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O novo "Sistema de Sustentabilidade Financeira" do futebol brasileiro, nome oficial do Fair Play Financeiro, vai obrigar os clubes da elite a rever os gastos com o futebol, sobretudo com folha de pagamento dos jogadores. Isso porque, a partir de janeiro, as agremiações não poderão gastar mais do que arrecadam — e isso num contexto em que a maioria delas ainda precisará resolver dívidas que se acumularam nos últimos anos.
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O Fair Play Financeiro prevê um prazo até 2029 para que seja plenamente implementado, mas a partir do próximo ano os clubes brasileiros já terão que se adequar a uma regra que, ao longo das décadas, talvez por não estar escrita e não prever nenhum tipo de punição, foi ignorada pela maioria:
— Em termos gerais, o Fair Play Financeiro vai trazer o seguinte: não gaste mais do que você arrecada — resume Carlos Aragaki, sócio da BDO Auditores e responsável pela divisão de negócios do Esporte da empresa, que concedeu entrevista exclusiva ao Lance!.
A BDO presta consultoria e faz auditoria para alguns dos principais clubes do Brasil há muitos anos. Atualmente, nove dos 20 clubes da Série A de 2026 têm contrato com a BDO — Athletico-PR, Atlético-MG, Botafogo, Bragantino, Coritiba, Fluminense, Internacional, Palmeiras e Vasco.
Aragaki considera que os prazos estabelecidos pelo Fair Play Financeiro são factíveis, já que prevê até três anos para os clubes resolverem suas pendências financeiras. Mas há um limite claro: isso só se aplica às dívidas criadas até o fim deste ano.
— Você vai se ajustar em 2026, 2027 e 2028 e, a partir disso, começa a ter o pleno vigor. Mas alguns tópicos são imediatos. Você não pode ter dívidas com jogadores, com clubes e com os impostos. Isso passa a vigorar a partir do dia 1º de janeiro de 2026 — explica o consultor.

Quem não respeitar as regras ficará sujeito a uma série de punições, que num primeiro momento vão de advertência à proibição de fazer novos negócios.
Carlos Aragaki cita um estudo feito a partir dos balanços dos clubes do ano passado. Ele ressalta que nem todos apresentavam notas explicativas completas — o que impediu um retrato fiel da situação —, mas com base na amostragem apenas o Flamengo estaria totalmente de acordo com as regras que serão implantadas.
Para o especialista, um dos efeitos imediatos do novo sistema será fazer os clubes brasileiros diminuírem os gastos com o futebol, em especial na folha de pagamento dos jogadores.
— Para ter equilíbrio financeiro, eu tenho que ter um controle, uma folha salarial um pouco mais baixa. Eu não posso ter a mesma folha dos clubes que estão com boa gestão.
E essa adequação poderá ter um efeito direto nos resultados de campo. Se nos últimos anos Flamengo e Palmeiras, principalmente, vêm tendo sucesso esportivo, a tendência é de que eles continuem à frente da maioria dos clubes, em especial aos que não são SAFs.
— Os clubes que têm boa gestão já têm um equilíbrio de caixa. Eles têm um orçamento, um fluxo de caixa que permite contratar jogadores e ao mesmo tempo gerenciar os passivos, manter a folha de pagamento em dia, ter bons jogadores, desempenho esportivo bom, por tabela premiações e mais remuneração, mais sócio-torcedor, mais público em estádio e mais representatividade. Agora, um ponto importante, alguns desses clubes não começaram a gestão ontem. Eles vêm ao longo do tempo aprimorando a gestão. Às vezes parece aquela história da cigarra e da formiga. Então, parece que esses clubes vieram como formiga se preparando — lembra o especialista em finanças do esporte.
Nesse contexto, quem terá mais chance de bater de frente com os clubes bem estruturados financeiramente serão as SAFs. Isso porque o Fair Play Financeiro permite o aporte de dinheiro privado em um clube que poderá fechar o ano com déficit.
— Por exemplo, eu fechei com um déficit ou prejuízo de R$ 30 milhões, eu posso ter um aporte de capital que cubra isso e eu fico em fair play. Esse aporte seria uma das saídas para minimizar — explica Carlos Aragaki.
— Esse é um ponto importante do nosso modelo de fair play, adaptado um pouco à nossa realidade. Então, neste primeiro momento, não se pune o investimento. Ele até é incentivado.

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