Como o Paris FC pretende desafiar hegemonia do PSG e se tornar o ‘vizinho incômodo’
Clube recém-promovido à primeira divisão tem novos donos bilionários e 'se mudou' para nova arena; reportagem do Lance! esteve em Paris

- Matéria
- Mais Notícias
PARIS (FRA) - Debaixo de um forte sol do verão de Paris, uma longa fila se forma diariamente na entrada da loja oficial do Paris Saint-Germain, localizada quase em frente ao Parque dos Príncipes, estádio do clube. Mesmo durante a pausa da intertemporada, em junho, é raro o local ficar vazio, especialmente pelos visitantes da capital francesa, que passaram a incluir o PSG na rota turística da cidade.
Relacionadas
Mas a arena com capacidade para quase 50 mil espectadores não é o único palco de futebol no 16º distrito de Paris, zona oeste da cidade. Aliás, a fila abarrotada de turistas na loja do PSG se forma justamente numa outra arena que faz divisa com o Parque dos Príncipes, e que recentemente se tornou a casa de um clube que pretende desafiar a hegemonia do Paris Saint-Germain no futebol francês. O Stade Jean-Bouin é a casa do Paris FC, time recém-promovido à primeira divisão do país.
A reportagem do Lance! esteve em Paris e viu de perto o estádio, que passou a abrigar na última temporada o Paris FC. Coincidentemente, a loja oficial do PSG fica localizada no estádio do novo rival e foi construída antes da mudança da equipe para atuar no Jean-Bouin. Até 2023/24, o Paris FC atuava no Estadio Charléty, no 13º distrito. A troca para uma arena mais moderna e considerada "mais adequada" pelos donos do clube faz parte dessa estratégia de expansão.
O "novo" vizinho do PSG não é tão novo assim. A história das duas equipes está totalmente conectada, já que o atual campeão da Liga dos Campeões é um dissidente do Paris FC. Em 1969, foi fundado um clube na capital da França com o intuito de mobilizar a população em torno do esporte mais famoso no mundo todo. Afinal, uma das cidades mais famosas do planeta merecia um time para chamar de seu. Mas não durou muito e, uma temporada depois, aconteceu a separação que deu origem ao Paris Saint-Germain.
Mas o retorno do Paris FC à primeira divisão da França acontece em um cenário completamente diferentes das décadas passadas do Paris "original". No fim de 2024, a equipe foi comprada em um acordo que envolveu a família Arnault, dona majoritária do grupo LVMH, que tem marcas de moda globais como Louis Vouitton, Dior, TAG Heuer e Sephora. Além disso, fechou uma parceria estratégica com a Red Bull para ajudar na gestão esportiva do clube, tornando a marca de energético sócia minoritária.
O principal passo da nova era do time foi dado: subir para a primeira divisão e iniciar contratações que mudem o patamar do elenco. Nesta primeira janela de verão sob novo comando, três nomes já estão acertados. Por 18 milhões de euros, o Paris FC anunciou o zagueiro brasileiro Otávio, ex-Porto, além de outros três destaques do campeonato francês na última temporada. Os laterais esquerdos Nhoa Sangui e Thibault De Semet chegam no Reims, enquanto o ponta Moses Simon foi comprado junto ao Nantes.

A mudança para o estádio vizinho
Ao redor do mundo, diversos clubes rivais são conhecidos por terem seus estádios muito próximos. Talvez o caso mais conhecido seja o Independiente e o Racing, na Argentina, que mandam seus jogos em arenas que ficam a aproximadamente 300 metros de distância. Mas no 16º distrito da capital francesa, a única coisa que separada o Parque dos Príncipes do Jean-Bouin é a largura da curta rua Claude Farrère, que pode ser atravessada em uma das duas faixas de pedestre nas extremidades com apenas 15 passos.
O acordo assinado pela família Arnault torna o Stade Jean-Bouin a casa do Paris FC pelas próximas quatro temporadas ao menos. A troca cumpre com as intenções dos novos investidores de ter uma arena que atenda às necessidades dos torcedores e do próprio elenco para desempenhar um bom futebol. O grande "desafio" será dividir o estádio com a equipe de rugby Stade Français, que joga a elite do esporte na França.
O negócio bilionário por trás do Paris FC
O histórico de investimentos no Paris FC começa antes mesmo da chegada da família Arnault ao clube. O movimento começa em 2020, quando o clube estava na segunda divisão da França. O governo do Bahrein adquiriu 20% do clube por 5 milhões de euros, o que correspondia a R$ 30 milhões na época. A intenção era iniciar um movimento visto no próprio PSG, que também recebeu um aporte de um fundo de investimento de um país, o Catar.
Entretanto, a compra passou longe de ser um fato que mudasse o patamar do Paris FC. O próprio valor de compra não foi tão robusto, mas os anos seguintes também não representaram um avanço significativo, cenário que mudou em 2024. O próprio time já vinha bem na Ligue 2 e disputava o acesso, mas viu investidores de peso baterem à porta no segundo semestre, o que deixou um panorama mais positivo para a temporada 2025/26, que é a primeira na Ligue 1 após 46 anos lomnge da elite.
O novo grupo, o LVMH, criou a holding esportiva chamada Agache, que comprou 52,4% do clube, tornando-se a dona majoritária. Eles têm uma fortuna avaliada em 168 bilhões de dólares, o que corresponde a mais de R$ 907 bilhões na cotação atual.
Entretanto, ela não está sozinha no negócio e conta com o suporte esportivo da Red Bull, que ficou com 10,6% do Paris FC. O restante do clube é dividido em mais dois investidores: o presidente Pierre Ferracci e a holding BRI Sports somam juntos 37% das ações. O plano é que até 2027 a família Arnault avance para 80% do clube e a Red Bull chegue a 15%, totalizando o controle de 95% da equipe parisiense.
Assim como nos clubes da família Red Bull, entre eles o Bragantino, a ideia é que a marca de energéticos use sua expertise de gerenciamento dos atletas, principalmente os jovens talentos, enquanto Antoine Arnault, filho de Bernard Arnault, ficará como o responsável pela gestão administrativa.
O aporte inicial dos novos investidores foi de 100 milhões de euros, ou R$ 540 milhões, mas há uma previsão que o grupo injete mais 200 milhões de euros, R$ 1,08 bilhão, ao longo dos próximos anos, principalmente se o Paris FC alcançar as metas esportivas estabelecidas no acordo.

As coincidências com o PSG
O retorno do Paris FC à primeira divisão coloca em destaque um clube que já viveu um momento de protagonismo e, desde sempre, guarda semelhanças com o Paris Saint-Germain. A principal delas trata-se do ídolo do PSG Raí, também ex-São Paulo, que se tornou sócio do projeto e embaixador do Paris, com o objetivo de ajudar a expandir a marca e fortalecer a equipe no exterior.
A já citada separação entre os dois times aconteceu quando o Paris FC resolveu se juntar um tradicional clube da época, o Stade Saint-Germain, que era da cidade Saint-Germain-en-Layer, próxima à capital. Mas essa junção não deu certo e resultou no rebaixamento do primeiro Paris Saint-Germain.
Nesse movimento, o governo francês sinalizou que poderia fazer um aporte financeiro para resolver os problemas de dívida acumulados com o rebaixamento, mas colocou uma condição: que o clube voltasse a se chamar Paris FC. Parte dos integrantes da equipe não concordaram em deixar a parceria com o Saint-Germain, enquanto outra parte viu como positiva a mudança para ser um clube apenas da capital. A divergência resultou na separação e criação de dois clubes.
O novo Paris Saint-Germain, o PSG, foi oficialmente fundado em 1970 na terceira divisão, enquanto o Paris FC permaneceu na primeira com um investimento pontual do governo da capital. Porém, os anos seguintes foram de fracassos e o Paris FC foi rebaixado e perdendo prestígio. A última vez que a dupla parisiense jogou a primeira divisão junta foi na temporada 1978/79. Desde então o "Paris original" caiu no ostracismo e o PSG seguiu na elite.
O patamar mudou, de fato, quando PSG foi comprado pelo governo do Catar em 2011 e passou a ter o protagonismo que conhecemos. Agora, o Paris FC vê um grupo bilionário à frente do projeto - não tão rico quando aos donos cataris - e quer, de alguma maneira, voltar a chacoalhar o futebol na capital da cidade mais visitada do mundo.
- Matéria
- Mais Notícias