Caso Negreira: entenda todo o escândalo que ronda o Barcelona e o que pode acontecer com o clube

Clube catalão está envolvido em supostos pagamentos a ex-dirigente de arbitragem

Camp Nou
Barcelona está sendo investigado por esquema de pagamentos (Reprodução/Twitter Barcelona)

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Um dos assuntos mais discutidos nas últimas semanas no futebol europeu tem sido o Caso Negreira. O Barcelona está sendo acusado de fornecer pagamentos a um ex-diretor de arbitragem da La Liga em troca de favorecimentos nos jogos do Espanhol e da Copa do Rei entre os anos de 2001 e 2018. De acordo com as informações, mais de R$ 25 milhões foram pagos à empresa de Negreira durante os sete anos. 

A situação chamou a atenção também da Uefa, que comanda o futebol europeu como um todo, e que também abriu investigações. O Real Madrid e os demais clubes espanhóis também estão em favor das ações judiciais. Por isso, o LANCE! preparou um especial detalhando todas as informações, com personagens, fatos e possíveis sanções ao clube catalão.

PERSONAGENS ENVOLVIDOS

Enríquez Negreira: ex-árbitro da Real Federação Espanhola de Futebol, entre 1975 e 1992, e ex-vice-presidente do Comitê Técnico de Árbitros da Espanha, entre 1994 e 2018. Nasceu em Barcelona, na Catalunha, e dá nome ao caso justamente por ser o principal acusado de receber do clube blaugrana.

Javier Tebas: presidente de La Liga desde 2013, nascido na Costa Rica, acabou se envolvendo por apresentar provas contra o Barcelona, que mais tarde viriam a ser indicadas como falsas.

Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu: ex-presidentes do Barcelona, que estão sendo investigados pelos pagamentos às empresas de Negreira. Rosell atuou de 2010 a 2014, enquanto Bartomeu atuou de 2014 a 2020, até renunciar por crises econômicas no clube.

Aleksander Ceferin: presidente da Uefa desde 2016, que abriu investigações simultâneas à La Liga para entender as possíveis sanções ao Barcelona em um contexto continental.

Joan Laporta: atual presidente do Barcelona, desde 2021 à frente do clube (assumiu após a renúncia de Bartomeu). Está sendo responsável por conduzir provas de inocência do clube.

Joan Laporta, presidente do Barcelona
Joan Laporta, presidente do Barcelona (Foto: LLUIS GENE / AFP)

COMEÇO DO PROBLEMA
O Ministério Público começou a investigar o Barcelona por possíveis corrupções empresariais em maio do ano passado. As investigações apontavam que as diretorias anteriores, de Rosell e Bartomeu, estariam fornecendo pagamentos à empresa de Enríquez Negreira, DASNIL 95 SL, em troca de favorecimentos nos jogos nacionais. Os pagamentos começaram a ser feitos até mesmo em gestões anteriores a Rosell e Bartomeu, de Joan Gaspart e do próprio Laporta. Entre 2001 e 2018, o MP afirmou que mais de 7,5 milhões de euros haviam sido transferidos à empresa para que Negreira pudesse ajudar o clube de alguma forma.

+ MP detalha pagamentos a empresa de Negreira

Negreira, então, dava presentes aos árbitros da RFEF para que pudessem favorecer o Barcelona nas partidas. Ingressos para jogos, artigos de praia, utensílios domésticos e até comidas como presuntos e queijos caros eram entregues aos subordinados do vice-presidente do comitê de arbitragem espanhol. O próprio Negreira também convidava os árbitros para comer em restaurantes caros da Espanha, com valores que superavam 2 mil euros por refeição.

PROVA CONTRA O BARÇA
​A primeira prova surgiu cerca de duas semanas atrás, quando o jornal espanhol "OK Diario" divulgou uma conversa por WhatsApp do filho de Negreira, Javier Enríquez, com o ex-diretor esportivo do Barcelona, Albert Soler, em 2017. Na ocasião, o Barça enfrentava o Atlético de Madrid pela semifinal da Copa do Rei. Jesús Gil Manzano, árbitro da partida, teve uma atuação bastante polêmica, ignorando um pênalti claro em Fernando Torres, anulando um gol legítimo de Griezmann, marcando um pênalti duvidoso e expulsando dois jogadores catalães. O placar terminou em 1 a 1 e o Barcelona conseguiu se classificar por ter vencido a ida por 2 a 1 no Vicente Calderón.

Após a partida, Soler e Javier conversaram, de acordo com o periódico, pois Soler não gostou da atuação do árbitro. Javier respondeu pedindo a Soler que o ligasse para tratar do assunto, mas que podia garantir que Manzano estava inclinado apenas a ajudar o Barcelona. No print divulgado, a ligação ficou para o dia seguinte. A torcida do Atlético até hoje reclama da arbitragem do jogo, já que a última partida da história do estádio colchonero seria justamente a final daquela Copa do Rei, na qual o Barça se sagrou campeão ao bater o Alavés.

Suárez - Barcelona x Atlético de Madrid
Manzano expulsa Suárez em clássico (Foto: Lluis Gene / AFP)

DOCUMENTO FALSO
Na segunda-feira, o presidente da La Liga, Javier Tebas, foi acusado pelo periódico "La Vanguardia" de entregar ao Ministério Público um documento forjado que acusava Rosell e Bartomeu. Nele, nomes e sobrenomes eram ligados por Tebas de forma hipotética, através de suposições. Porém, o documento havia sido extraído de um outro caso, o caso Soule, que investiga um suposto desvio de fundos da Federação Espanhola, no qual a liga nacional está sendo acusada. A família de um ex-treinador, envolvido no caso, esclareceu quem eram as pessoas, que nada tinham a ver com os dois ex-presidentes.

+ Confira declaração do Barcelona contra presidente da liga

Minutos depois, Tebas foi até o Twitter para repreender o periódico e dizer que não havia acusado ninguém. O Barça, vendo a oportunidade de uma reviravolta nas acusações, emitiu um documento sugerindo que Tebas renunciasse ao cargo, pois abusou de poderes que não o pertencem e desrespeitou o cargo de presidente da liga. Javier voltou a responder, com um print de uma declaração oficial que pedia uma retratação por parte do "La Vanguardia". Em resposta, o jornal apenas fixou a primeira matéria que acusava o presidente e não abriu mão do posicionamento.

RIVAIS DO BARÇA

Boa parte dos demais clubes da La Liga se posicionou em relação às investigações e assinou um documento que permitia ao MP buscar provas para incriminar o Barça. Dos 19 clubes da primeira divisão que poderiam realizar a assinatura, apenas um não o fez: o rival Real Madrid, alegando que não queria se envolver de início. Entretanto, após os pagamentos feitos pelos catalães serem detalhados, o presidente dos Merengues, Florentino Pérez, posicionou-se e disse que queria colaborar com a Justiça.

- O Conselho de Administração do Real Madrid CF, em reunião, tomou conhecimento das graves acusações formuladas pelo Ministério Público de Barcelona contra o FC Barcelona, com base em possíveis crimes, entre outros, de corrupção no campo esportivo. O Real Madrid expressa sua profunda preocupação com a gravidade dos fatos e reitera sua total confiança na ação da justiça e concordou que, em defesa de seus legítimos interesses, comparecerá ao processo assim que o juiz o abrir às partes prejudicadas - informou o clube em nota oficial, divulgada no dia 12 de março.

INFLUÊNCIA NAS QUATRO LINHAS
Apesar da gravidade da situação ser elevada, os jogadores e a comissão técnica parecem não se importar com a parte extracampo. O Barcelona tem 12 pontos de vantagem sobre o Real na liderança do Campeonato Espanhol e caminha a passos largos para conquistar o seu 27º título de La Liga. Nesta quarta, tem pela frente um clássico contra o próprio Real pela semifinal da Copa do Rei, com vantagem de um gol conquistada na ida. Em coletiva pré-jogo, o técnico Xavi falou sobre como a equipe tem se preparado para lidar com as investigações.

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- Eu não leio nada e escuto muito pouco, para ser sincero. Nós valorizamos as coisas de dentro do clube e não de fora. O presidente, que é nosso chefe, está contente, então isso não tem que nos importar em nada. Os temas além do esporte não entram no vestiário. Aqui dentro não falamos de Negreira, de Javier Tebas, nem da Uefa. O Real vem com sede de vingança e nós temos que mostrar nosso controle. O resto não nos cabe nem podemos controlar - disse Xavi.

UEFA NO JOGO
A Uefa também decidiu entrar nas investigações para incriminar o Barça. De acordo com a entidade europeia, as diretorias do clube violaram o regulamento combinado, o que confere o direito de entrada com investigadores por parte da comissão de ética e disciplina da federação. Agora, o Barcelona está contra a parede nas participações de Uefa, La Liga e RFEF. O presidente da federação, Aleksander Ceferin, também falou sobre a sequência do processo.

- Essa situação é extremamente séria. É uma das situações mais graves que eu já vi no futebol. Não posso comentar diretamente, mas posso dizer algo. Informado, a situação é muito grave - declarou Ceferin, em entrevista ao jornal Ekipe, da Eslovênia, na última segunda-feira

Aleksander Ceferin - presidente da Uefa
Aleksander Ceferin em congresso da Uefa (Foto: Andreas Solaro / AFP)

POSSÍVEIS SANÇÕES
As investigações, dependendo do rumo que tomarão nas próximas semanas, podem acarretar em punições severas para o Barça. Apesar da eclosão de Tebas e diretoria blaugrana com a matéria do "La Vanguardia", o presidente da La Liga já havia confirmado que não haverá punição desportiva ao clube dentro do âmbito nacional. A lista de infrações gravíssimas do Real Decreto da Disciplina Esportiva, legislação que comanda o regimento de regras esportivas na Espanha, afirma que ‘ações destinadas a predeterminar, por preço, intimidação ou simples acordos, o resultado de prova ou concurso’ podem levar a perda de categoria ou o rebaixamento.

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Entretanto, Tebas disse que as regras da La Liga impedem sanções desportivas nacionais quando o crime em questão já completou três anos de existência. O último pagamento realizado pela diretoria blaugrana foi em 2018, já próximo de completar os cinco anos, não caracterizando passibilidade de punição. Já no âmbito europeu, Ceferin garantiu que não há nada prescrito que impeça o Barcelona de ser punido como acontece na esfera nacional. Porém, afirmou que há possíveis punições como a proibição de disputas nas competições europeias, ainda não definidas e dependentes do resultado das investigações.

NEGREIRA ISENTO
Falando em sanções, as informações do jornal "Relevo" disseram que Negreira apresentou à Justiça um laudo que comprova uma doença de Alzheimer, além de um leve grau de demência.​ Com isso, o ex-árbitro de 77 anos se tornaria inimputável, ou seja, incapaz de ser punido pelos seus atos. A possível confirmação do estado de Negreira também tiraria a obrigatoriedade de prestar depoimento por não ter condições de dar declarações ou ser alvo de um processo penal.

Enríquez visitou um centro de cuidados de Alzheimer em setembro de 2022, acompanhado de seu filho Javier e sua esposa, alegando distúrbios de ansiedade, raciocínio e falhas de memória. Após exames, teria sido diagnosticado com demência leve, doença neurodegenerativa e um traumatismo cranioencefálico decorrente de um acidente de carro que sofreu há 20 anos. A juíza do caso, Silvia López, deve pedir aos médicos legistas um novo laudo independente para decidir se Negreira tem aptidão para ser julgado ou se o laudo apresentado inicialmente foi forjado para fugir das obrigações do processo.

Real Madrid x Barcelona
Jogadores celebram gol contra de Militão na ida (Javier Soriano/ AFP)

Apesar das investigações, os jogadores e a comissão técnica não querem saber do Caso Negreira e focam em seguir na temporada. Nesta quarta-feira, às 16h, o Barça enfrenta o Real Madrid pela Copa do Rei valendo vaga na final e tem em vista conquistar a dobradinha na Espanha, aproximando-se cada vez mais do título da La Liga.

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