Futebol como ferramenta de transformação: projeto une esporte, cidadania e igualdade no Ceará
Projeto social criado em 2015 aposta no futebol como espaço seguro, político e de formação integral para meninas e mulheres

- Matéria
- Mais Notícias
Em um país onde o futebol feminino ainda enfrenta desigualdades estruturais, projetos sociais seguem sendo a principal porta de entrada para meninas que sonham em jogar bola — e, muitas vezes, também para aquelas que buscam dignidade, pertencimento e novas perspectivas de futuro. É nesse contexto que nasce e se consolida o Futebol pela Igualdade, iniciativa do Instituto Esporte Mais, no Ceará, que há quase uma década utiliza o esporte como ferramenta de transformação social.
Relacionadas
Criado em 2015, o projeto surgiu muito antes do recente crescimento do futebol feminino no Brasil. À época, a proposta não era apenas oferecer treinos, mas criar um espaço seguro para meninas e mulheres refletirem sobre seus direitos dentro e fora de campo. Oficinas, rodas de conversa e debates sobre violência, assédio e desigualdade de gênero fizeram parte do ponto de partida da iniciativa.
— A gente nunca quis ser só um lugar de treino. Desde o início, o Futebol pela Igualdade foi um projeto político, no sentido de questionar práticas normalizadas no futebol feminino e mostrar que muitas situações não eram aceitáveis — explica Jéssyca Rodrigues, coordenadora do projeto.
➡️ Tudo sobre Futebol Feminino agora no WhatsApp. Siga nosso novo canal Lance! Futebol Feminino
Com o passar dos anos, a iniciativa avançou para o desenvolvimento esportivo. A partir de 2020, com a entrada em leis de incentivo ao esporte, o projeto passou a contar com uma estrutura multidisciplinar, envolvendo treinadoras, psicóloga, nutricionista e assistente social. Trata-se de um entendimento fundamental em um contexto no qual muitas atletas convivem com vulnerabilidades sociais, familiares e econômicas.
Hoje, o Futebol pela Igualdade atende cerca de 150 meninas e mulheres, entre 8 e 29 anos, distribuídas em quatro núcleos. O trabalho vai além da formação de atletas: algumas participantes seguem carreira no esporte como árbitras, treinadoras, fotógrafas, jornalistas ou profissionais da área da saúde, ampliando o campo de possibilidades dentro do futebol.
— A diferença entre o futebol feminino e o masculino começa no sonho. O menino sonha em ser jogador milionário. A menina precisa enxergar outros caminhos dentro do esporte para continuar — pontua Jéssyca.
➡️ Do litoral do Paraná à Europa: a Soxxer e a formação no futebol feminino
Formação, base e enfrentamento de desigualdades
Nos últimos anos, o projeto deu um passo importante ao se filiar à Federação Cearense de Futebol e disputar competições oficiais de base, como os campeonatos sub-15, sub-16 e sub-17. Em 2024, a equipe foi vice-campeã estadual nas categorias sub-15 e sub-16.
Ainda assim, as dificuldades persistem. A falta de campos adequados, a desorganização de competições e o tratamento desigual em relação a clubes tradicionais seguem sendo obstáculos recorrentes. Em um dos episódios mais graves, uma partida do estadual sub-17 foi cancelada poucas horas antes do início por falha de comunicação da federação, mesmo com atletas, comissão técnica e logística já mobilizadas.
— Enquanto clubes grandes jogam em campos de alto nível, projetos como o nosso são empurrados para estruturas precárias. Isso interfere diretamente no desenvolvimento esportivo e no acesso às oportunidades — denuncia a coordenadora.
Copa do Mundo de 2027 e o desafio do legado
Com Fortaleza confirmada como uma das sedes da Copa do Mundo Feminina de 2027, a expectativa é que o evento deixe um legado concreto para o futebol feminino local. Algo que, segundo Jessyca, ainda precisa sair do discurso e se materializar em políticas públicas, investimentos e programas permanentes.
— Não dá mais para tratar o futebol feminino como algo provisório, que depende do desempenho do masculino. A Copa é uma oportunidade histórica, mas o legado só existe se houver continuidade, autonomia e respeito à modalidade — afirma Jéssyca.
Enquanto isso, o Futebol pela Igualdade segue buscando alternativas: parcerias com projetos e clubes do Sudeste, intercâmbios esportivos e iniciativas internacionais estão no radar para garantir que as atletas cearenses tenham visibilidade e oportunidades compatíveis com seu talento.

Tudo sobre
- Matéria
- Mais Notícias


















