A Copa do Mundo que pode mudar tudo: Jill Ellis explica por que 2027 será histórico
Em entrevista exclusiva ao Lance!, diretora da Fifa detalhou projetos da entidade para o futebol feminino

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Em uma entrevista marcada por visão, franqueza e profundo respeito pela história do futebol feminino, Jill Ellis traçou um panorama otimista para a Copa do Mundo de 2027. Para a treinadora bicampeã mundial, não há dúvidas: o torneio que será disputado pela primeira vez na América do Sul, com o Brasil como sede, tem tudo para se tornar a maior e mais competitiva edição já realizada.
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Na última semana, o Lance! foi a Brasília (DF) para entrevista exclusiva com a ex-jogadora, treinadora e hoje gestora da Fifa. Com visão ampla do futebol de mulheres, Jill tratou de temas como a Copa do Mundo Feminina, como também dos desafios que persistem na modalidade.
— 2027 será a maior Copa do Mundo Feminina já realizada. Acho que será a melhor e, em grande parte, por causa do crescimento do jogo e do nível das seleções — descreveu a dirigente.
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A primeira Copa do Mundo Feminina na América do Sul
Ellis recordou a surpresa causada por equipes emergentes como o Marrocos em 2023 e acredita que o nível global só aumentou desde então. Com a energia dos estádios brasileiros e o magnetismo das cidades-sede, ela prevê uma atmosfera única, capaz de transformar o Mundial em uma celebração sem precedentes.
Ao ser questionada sobre o desafio de garantir ingressos acessíveis em uma região marcada por desigualdades econômicas, Ellis reconheceu a complexidade do tema. Explicou que a estratégia de bilhetagem da FIFA inclui pesquisas de mercado, análises de preços de ligas locais e estudos de comportamento do torcedor. O objetivo é claro: estádios cheios e políticas inclusivas, que permitam a presença do público local e internacional sem comprometer a sustentabilidade do evento.
— Nós reconhecemos que o futebol feminino ainda está crescendo. Queremos atrair torcedores. Queremos tornar os ingressos acessíveis. Queremos ver pessoas nos estádios, estádios lotados. Esses são estádios grandes. Então, queremos garantir que isso seja acessível para as pessoas locais e também para quem vier de várias partes do mundo assistir. Então estamos trabalhando muito nisso. Temos uma equipe só de estratégia de ingressos — detalha.
Jill Ellis destaca a importância dos clubes
O debate então avançou para a estrutura do futebol na América do Sul. Ellis foi direta: seleções fortes dependem de ligas fortes. Ela lembrou que os Estados Unidos também enfrentaram duas tentativas frustradas antes de consolidar a National Women's Soccer League (NWSL) e destacou que construir uma liga profissional sustentável leva tempo, investimento e planejamento.
Segundo ela, a FIFA tem buscado acelerar esse processo globalmente com iniciativas como o Mundial de Clubes feminino, a criação de padrões mínimos para ligas profissionais e a contratação de especialistas dedicados exclusivamente ao desenvolvimento do futebol feminino de clubes.
— Na FIFA, criamos deliberadamente um Mundial de Clubes feminino para incentivar as pessoas a investir em infraestrutura do futebol de clubes. O futebol de clubes é muito importante. É a casa da jogadora, é onde ela está toda semana, treina, os clubes têm seus caminhos de desenvolvimento. Isso constrói torcidas locais. Então o futebol de clubes é extremamente importante e reconhecemos isso — defende Jill.
Governança no futebol feminino
Quando o tema passou para governança e transferências, Ellis revelou que a FIFA trabalha há mais de dois anos para implementar um sistema de compensação por formação semelhante ao do futebol masculino.
Com o crescimento das taxas de transferência e negociações milionárias envolvendo jogadoras, a necessidade de recompensar clubes formadores tornou-se urgente. O processo exige alinhamento jurídico, consenso esportivo e articulação internacional, mas Ellis acredita que, até 2027, o modelo estará pronto para ser adotado globalmente.
Jill Ellis fala sobre Marta
O momento mais emotivo da conversa veio ao citar Marta. Após enfrentá-la inúmeras vezes como treinadora rival, Ellis falou com admiração.
Dizer se Marta jogará em 2027 é decisão da própria atleta e de sua comissão técnica, mas Ellis confessou que adoraria vê-la representar o Brasil mais uma vez. A eventual presença de Marta, segundo Ellis, renderia uma narrativa tão poderosa quanto a de Messi retornando à Copa do Mundo de 2026.
— Como fã, como alguém que competiu contra ela e viu ela atormentar minhas equipes, acho que ela é uma jogadora extremamente especial, uma jogadora geracional, e sim, eu adoraria vê-la jogar aqui em 2027 — confessa.
Mulheres treinadoras
O papel das mulheres em cargos técnicos e de liderança também ganhou destaque. Ellis observou que, embora o futebol feminino cresça rapidamente, o número de mulheres em posições de comando não acompanha essa evolução.
Ela destacou que a FIFA já exige ao menos uma treinadora ou assistente mulher nas Copas Sub-17 e Sub-20 e defendeu que, muitas vezes, políticas ativas são necessárias para acelerar mudanças. A federação tem ampliado o apoio financeiro para licenças de treinadoras, criado caminhos mais claros para ex-jogadoras e pressionado por maior presença feminina em cargos de tomada de decisão. Sua própria contratação, afirmou, simboliza esse compromisso: trazer novas perspectivas às discussões centrais do futebol mundial.

Honrar legados no futebol feminino
O passado voltou à cena com a participação de Marisa, primeira capitã da seleção brasileira e representante das pioneiras dos anos 80 e 90. Ela revelou o desejo coletivo do grupo: entrar em campo ao lado das atletas da atual geração na cerimônia de abertura da Copa de 2027. Emocionada, pediu o apoio da FIFA para que o sonho seja possível, consciente de que a chancela oficial é indispensável.
Ellis respondeu com sensibilidade. Depois de assistir a um documentário sobre essas pioneiras, disse acreditar que homenageá-las na Copa de 2027 é não apenas possível, mas necessário. Mencionou que o FIFA Legends Program pode contribuir e sugeriu incluir uma representante das pioneiras em um grupo de trabalho dedicado ao legado do torneio. Para ela, legado vai além de gestos simbólicos: significa garantir oportunidades reais para as gerações futuras.
— Eu assisti ao documentário. Acho inspirador. Sou dos anos 80, então lembro da Copa de 1991, na qual muitas dessas jogadoras participaram e muitas amigas minhas jogaram pelos EUA contra elas. Uma das coisas mais importantes quando falamos de legado é honrar o passado. E acho que, se tivermos a oportunidade de celebrar essas jogadoras, encontraremos uma forma especial de fazer isso — diz Jill.
A treinadora descreveu o trabalho da FIFA na criação de academias ao redor do mundo, em parceria com o Talent Development Scheme de Arsène Wenger, voltado a oferecer chances concretas a todo talento emergente. Recordou uma visita a um projeto de futsal em que todas as meninas levantaram a mão quando questionadas se sonhavam em ganhar uma Copa do Mundo. "Essa é a essência do esporte", afirmou, destacando o poder transformador do futebol na vida de meninas e mulheres.
No encerramento da entrevista, Ellis retomou a mensagem central que atravessou toda a conversa: a Copa do Mundo Feminina de 2027 será muito mais que um torneio. Será uma celebração das pioneiras, um palco para a excelência atual e um terreno fértil para o futuro. E, na América do Sul, com sua paixão e potencial, ela acredita que o futebol feminino está pronto para dar um salto histórico.
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