O que os titulares do Flamengo ficaram fazendo no Rio de Janeiro ao serem poupados por Tite?
Comissão técnica abriu mão de viagem ao Sul para preparação especial, mas equipe teve péssima atuação diante do Peñarol
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A queda do Flamengo na Libertadores, diante do Peñarol, foi dolorida para os torcedores. Mas não por conta de uma virada, um erro individual ou gols perdidos como em anos anteriores. E sim de doer os olhos com tudo o que se viu no Campeón del Siglo.
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Um time que transmitia confiança há cerca de um mês, mesmo com desfalques, derreteu-se por completo. A liquefação do desempenho dos comandados de Tite já deixou de ser algo corriqueiro, por desgaste e lesões, e se tornou um panorama assombroso, como se não houvesse solução para sair de um labirinto. E isso não é apenas uma frase com tons poéticos, mas sim a tradução literal de cerca de 200 minutos do embate.
O Flamengo não conseguiu encontrar soluções para fugir do ferrolho uruguaio, e se perdeu em seu próprio jogo. De uma equipe propositiva e aguda como poderia e deveria ser, virou um time que dava sinais de despreparo para a perspectiva do confronto. Despreparo. Mas não seria este o time que abdicou de visitar o Grêmio no último final de semana para ficar no Rio de Janeiro... se preparando?
Não saberemos o que os atletas e a comissão de Tite (excetuando o técnico, que viajou ao Rio Grande do Sul) treinaram, combinaram e fizeram no Ninho do Urubu ao longo dos seis dias de espaço entre a ida e a volta. Mas a cabeça do torcedor se transforma em um turbilhão de questionamentos em relação ao tema, e os números comprovam a razoabilidade destas dúvidas.
✈️ EXCESSO DE BOLA AÉREA
Na ida, o Rubro-Negro possivelmente não contava que sofreria um gol aos 13 minutos da primeira etapa, e, por isso, pode-se compreender os 29 cruzamentos feitos em direção à retranca carbonera. Já era de se imaginar, porém, que a área seria ainda mais difícil de se adentrar fora de casa. Ainda assim, dias e dias para que a comissão encontrasse soluções.
Em campo, a realidade foi outra. Os levantamentos nos últimos 11 metros do campo aumentaram para 34, sendo apenas 10 certos. Perdidos, os atletas apelavam para o modo desespero. Um valente Gerson e um mui perdido De La Cruz procuravam um companheiro na ponta, e a bola era levantada no meio da confusão. E quando o companheiro era o agora centroavante Bruno Henrique, apenas os mais baixos Arrascaeta e Plata - posteriormente, também Wesley e Gabigol - brigariam.
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O resultado da aposta excessiva nos números é claro. Ao todo, dois chutes ao gol na partida desta quinta. Para um time que precisava balançar as redes pelo menos uma vez para sobreviver, a quantidade é irrisória.
Recurso individual para o qualificado elenco não falta. Mas a escassez de recursos coletivos ficou nítida na noite de quinta-feira. E isso passa pelo trabalho da comissão. Um movimento diferente, um passo à frente da linha, uma aproximação conduzida. Termos que parecem ser desconhecidos na Gávea em 2024, e que deveriam ter sido trabalhados no tal período de preparação.
🔁 MEXIDAS DESCONEXAS
A cada vez que a placa subia, o torcedor do Flamengo arregalava os olhos e forçava o cérebro para tentar ler o que Tite imaginava para o jogo. A entrada de Gabigol, restando ainda meia hora de partida, para tocar cinco vezes na bola em todo o seu período no campo, quebrou o time pela saída de Plata. Ataques pela direita eram única e exclusivamente com Wesley; após as duas alterações, o Peñarol gastou entre 10 e 15 minutos sem ser afetado, usando o lado esquerdo para fazer o tempo passar. Inteligência e leitura de jogo de Diego Aguirre.
A entrada de Ayrton Lucas no lugar de Alex Sandro anulou a construção do jogo por baixo, e a principal característica do camisa 6, sua velocidade, não foi explorada em praticamente nenhum lance. E somente aos 38', Tite percebeu o vazio pela direita e tentou compensar com Matheus Gonçalves, além de David Luiz, que foi colocado para armar o time e fatiar bolas na confusão.
Mas o mais chocante não foi quem entrou, e sim quem não entrou. A apelação para a bola aérea era enorme, e no banco, havia o renegado Carlinhos. A altura de 1,95m não foi utilizada no momento mais propício desde sua chegada ao clube. Ao invés disso, brigavam contra os zagueiros do Peñarol Arrascaeta e Gabigol, de 1,78m cada, e Wesley, de 1,73. Foi necessária uma ordem de David Luiz para que Bruno Henrique deixasse a ponta e voltasse a adentrar a área, já nos últimos suspiros.
Carlos Alcaraz foi trazido da Europa a peso de ouro pela diretoria: cerca de R$ 110 milhões. Um jogador que atua de camisa 10 sendo usado como volante nos últimos jogos e que simplesmente não recebeu a oportunidade de entrar um segundo sequer em Montevidéu. Sentado no frio uruguaio, via a clara ineficiência dos meias que estavam em campo.
👋 LABIRINTO SEM SAÍDA
Faltou ler o jogo, faltou encontrar artifícios para furar o bloqueio do adversário... faltou muito. Faltou muito para o Flamengo sair do Campeón del Siglo com a classificação rumo às semifinais da Libertadores.
Mas o ponto mais questionável é: por que faltou tanto? Preparação especial de uma semana no Rio de Janeiro, ano de investimento mais alto da gestão de Rodolfo Landim, técnico de duas Copas do Mundo, infraestrutura de ponta... o panorama deveria ter sido muito mais positivo do que foi.
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O Flamengo, em sua longa história na Libertadores, caiu atirando, lutando pela vida, em várias vezes. Desta vez, o tiro de Javier Cabrera em pleno Maracanã foi certeiro; não se viu cérebro, não se viu mental, não se viu psicológico e não se viu frieza dos cariocas ao longo de 200 minutos.
O tal preparo feito pela comissão de Tite foi insuficiente. O torcedor tem a opção de acreditar naquilo que ele quiser. Ele pode crer que foram dias de festa, churrascos e resenhas, ou pode crer que foram dias de trabalho intenso e foco no Peñarol. Mas o tal gol prometido pelo comandante após a ida não saiu. Passou longe de sair. Quem sai é o Flamengo.
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