Com número crescente de parcerias, mercado de eSports se aproxima cada vez mais dos esportes tradicionais

Marcas oriundas do universo eletrônico quebram barreiras e chegam a modalidades como futebol, basquete e automobilismo

(Foto: Divulgação)
Marcas oriundas do universo eletrônico quebram barreiras e chegam a modalidades como futebol, basquete e automobilismo (Foto: Divulgação)

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O mercado de esportes eletrônicos segue em ascensão e em contato com áreas de audiências consolidadas e públicos distintos. De acordo com a Newzoo, consultoria especializada no ramo, o setor faturou, em 2021, US$ 1,08 bilhão, um aumento de 14,5% após os efeitos da pandemia em 2020. A expectativa para a indústria se mantém otimista, com estimativa de taxa de crescimento anual, contabilizando de 2019 até 2024, de 11,1%, um faturamento total de U$ 1,6 bilhão.

Pelo alto poder lucrativo, o mercado global de eSports passou a dialogar nos últimos anos com esferas dos esportes tradicionais, da moda e a cultura geek. Uma prova desse sucesso é o aumento de clubes de esportes tradicionais como Flamengo, Corinthians, Cruzeiro e Santos investindo nos eSports e em alguns casos com conquistas importantes nas mais diversas competições desse segmento.

Outro exemplo no futebol envolve Garena e CBF, que firmaram um acordo de dois anos. A parceria engloba a inserção de itens exclusivos da Seleção Brasileira no game Free Fire, bem como a exposição da marca em placas de publicidade nos campos de treinamento da Seleção, backdrop de entrevistas e artes dos ingressos.

Para Armênio Neto, especialista em novos negócios no esporte e que intermediou o contrato entre a empresa e a entidade esportiva, esse tipo de vínculo abre um novo leque de opções no mercado e gera ganhos para ambas as partes.

“Patrocinar futebol é um atalho para tornar qualquer produto ou marca altamente popular. Free Fire já era um gigante do cenário gamer e o patrocínio à Seleção, ainda mais em ano de Copa do Mundo, serve para mostrar a sua força, impactar novos públicos e gerar receita relevante com a venda de skins. A CBF, por sua vez, se aproxima de um universo que mostrou, definitivamente, a sua potência nos anos de pandemia. O ineditismo de ser patrocinado por um game, que aparentemente não possui nenhuma relação com o futebol, abre novas possibilidades de negócio e aproxima a Seleção de um público diferente, jovem e com alto poder de consumo”, afirma Armênio Neto.

As organizações de eSports também reconhecem a influência na participação de ativações dentro dos esportes tradicionais. A FaZe Clan, dos EUA - uma das organizações mais tradicionais dos esportes eletrônicos que no Brasil investe um time de Rainbow Six Siege - firmou parceria com o clube inglês Manchester City, que entrou em campo com o logotipo da organização norte-americana. Além desta ativação, foi lançada uma coleção de roupas em uma collab entre as duas organizações. Outra ação de marketing de destaque foi a parceria com o rapper Snoop Dogg para criação de conteúdo exclusivo, um bom exemplo do potencial de investimento da FaZe em outras áreas.

A Team Liquid, equipe holandesa, é a terceira mais valiosa do mundo, avaliada em R$ 1,7 bilhão de acordo com a Forbes, e também abriu os olhos para o grande mercado. A organização coleciona parcerias com Marvel e Naruto, proporcionando maior identificação com públicos mais jovens.

Equipes e personalidades dos eSports começam a olhar para o caminho inverso

Um reflexo deste crescimento é o movimento recente que tem ganhado cada vez mais força: o de equipes, marcas e personalidades ligadas aos eSports investindo de diferentes formas nos esportes tradicionais. Estas marcas buscam cada vez mais expandir seus alcances e conquistar fãs ao redor do mundo.

Um dos casos mais conhecidos é da EVOS Esports, equipe da Indonésia que conta com participação em diversas modalidades nos esportes eletrônicos. Ela decidiu expandir suas atividades e criou um time de basquete para a disputa da liga local do país. A EVOS possui uma grande gama de fãs no Sudeste da Ásia, graças aos diversos times no cenário de eSports mobile.

No Brasil, o caso mais famoso é da FURIA Esports, equipe que tem como um dos seus fundadores o jogador profissional de Poker, André Akkari, e o jogador de futebol Neymar como um dos seus maiores apoiadores. A Pantera, forma como a organização é conhecida, já patrocinou o enxadrista Krikor Mekhitarian, bicampeão brasileiro da modalidade, a lutadora Livinha Souza, que já figurou no quadro do UFC (principal torneio de MMA do mundo), skimboard com o campeão mundial Lucas Fink e os irmãos Enzo e Pietro Fittipaldi no automobilismo. Além disso, Jaime Pádua - CEO da organização - revelou, em entrevista recente para o ge.Globo durante a Rio2C, o desejo de montar um time de futebol profissional.

Pietro, que estava cotado para assumir o lugar do russo Nikita Mazepin na equipe de Fórmula 1 Haas, possui [grande base de fãs na internet pela ligação com a Tribo, como é conhecido o público/audiência do canal do streamer Alexandre "Gaules" Borba, ex-jogador profissional de Counter Strike e um dos maiores streamers do país, com mais de 70 mil inscritos em seu canal na Twitch. O brasileiro correu nos últimos anos com o adesivo do canal do Gaules estampado em seu carro.

- Acredito que esse movimento tem tudo para se tornar cada vez mais comum. Organizações de esportes eletrônicos crescem cada vez mais e alcançam poderio financeiro. Em contrapartida, times tradicionais passam por dificuldades. Isso torna mais atrativo que parcerias nesse sentido sejam firmadas - afirma Bruno Maia, especialista em marketing esportivo.

Gaules também encabeça outra tendência recente: o de produtores de conteúdo e plataformas originalmente presentes no mundo dos games passando a transmitir eventos de esportes tradicionais. Em consequência do alcance atingido na Twitch, Gau, como é carinhosamente chamado pelos seguidores, adquiriu os direitos de transmissão da NBA e do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1. Outro exemplo dessa integração é a transmissão de jogos do Campeonato Carioca de 2022 na Twitch, plataforma que conta com um público majoritariamente gamer, em parceria com streamers como Casimiro Miguel e o podcast Flow.

- Estes criadores de conteúdo entenderam como ninguém a forma de se relacionar atualmente com o público. As livestreams já atraíam a atenção dos mais jovens, tirando o foco da televisão, muito por conta da democratização e interatividade que alcançaram. Disponibilizar as transmissões esportivas nestas plataformas e com esse tipo de linguagem só faz com que a audiência se renove cada vez mais - completou Bruno Maia.

FaZe Clan, FURIA e Team Liquid são três das dez equipes participantes do Campeonato Brasileiro de Rainbow Six Siege, torneio organizado pela própria desenvolvedora do game - a Ubisoft - e um dos mais relevantes do cenário de esportes eletrônicos do país. A competição já foi palco dessas ativações transmidiáticas, como uma música composta especialmente para a final da competição e de equipes com uniformes de times em parcerias com empresas famosas de quadrinhos e mangás.

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