Tite e Lionel Scaloni: os caminhos para Brasil e Argentina levarem a melhor na decisão da Copa América
Entre a organização e a perspicácia, treinadores da Seleção Brasileira e da equipe argentina tentam, neste sábado no Maracanã, chancelar trabalho com o troféu do torneio
O reencontro de Brasil e Argentina em uma final da Copa América gera grandes expectativas também na beira do campo. Neste sábado, a partir das 21h, no Maracanã, Tite e Lionel Scaloni tentam chancelar com uma conquista os ideais de trabalho que têm para suas respectivas seleções levando a melhor em um grande capítulo da tradicional rivalidade.
BUSCA POR CONSISTÊNCIA: A GRANDE EXIGÊNCIA DE TITE NO BRASIL
Solidez (e seus sinônimos), palavra utilizada com frequência por Tite e sua comissão técnica na rotina da Seleção Brasileira, ficou mais recorrente durante a Copa América. Há mais de cinco anos no comando canarinho, a busca por dar consistência à equipe em todos os setores terá uma prova de fogo neste duelo no Maraca.
- A gente é organizado, mas tem a consciência que a qualidade técnica individual é que faz a grande diferença em grandes equipes. Isso e a mentalidade, a capacidade solidária que cada um tem de entender os processos, tudo o que busca e de transformar isso em números, sempre dentro da característica do futebol brasileiro - afirmou Tite, na coletiva da véspera do que considera "grande jogo, grande espetáculo".
Os jogadores estão cientes da busca recorrente pelo equilíbrio.
- Quando a gente perde a bola tem de recuperar o mais rápido possível, o que exige empenho de todos os jogadores. Creio que a gente respeitando essa origem de pressionar logo e pegar a bola tiramos a chance do adversário, tirando a bola e dar munição para grandes jogadores - afirmou o lateral-direito Danilo, um dos destaques da campanha canarinha.
O desafio se acentua quando, ao avançar, a equipe tem de redobrar seu ímpeto ofensivo, com Paquetá movimentando as jogadas para acionar a linha de frente formada por Neymar, Richarlison e Everton Cebolinha (que larga na frente entre os cotados para substituir Gabriel Jesus).
LIONEL SCALONI: A PERSPICÁCIA PARA FORTALECER A ARGENTINA
Anunciado como sucessor de jorge Sampaoli, Lionel Scaloni precisou de respaldo da AFA para se consolidar no comando da Argentina. Porém, com o tempo foi progredindo na beira do campo.
- É um treinador que está aprendendo. Mas se mostra um bom selecionador, percebe logo quais jogadores têm potencial e dá chance a eles na seleção da Argentina. Além disto, não pestaneja em fazer mudanças na equipe se acha que está desagradando - afirmou Diego Macias, jornalista do "Olé", que ressalta:
- Não dá para comparar com a experiência de Tite. Scaloni ainda está em crescimento, é de outra geração. Naturalmente, experiência nem sempre faz tanta diferença quando começa uma partida - completou.
O treinador projeta uma partida que exigirá sangue frio logo mais.
- Tentaremos jogar da nossa maneira. Todos sabem que há momentos que não dá para dominar os 90 minutos. Escutei isso de Marquinhos, concordo com ele. O rival joga, tem de tentar dominar o mais tempo possível. Quando é dominado, ser compacto e depois voltar a encontrar domínio. Tentaremos ter a posse de bola e avançar quando conseguirmos.
O comandante acredita que os argentinos se sentem representados pelos albicelestes.
- Um treinador está sempre obrigado a fazer com que a equipe tenha resultados, corresponda ao que ele quer e fazer com que o torcedor se sinta identificado. Estou seguro que toda gente está identificada e a equipe vai se dedicar até o último minuto - declarou.
Diego Macias, do "Olé", aponta uma qualidade que o técnico agregou à seleção.
- Ele deu peso próprio a jogadores como De Paul, Paredes e Lo Celso e isto contribuiu para que Messi tivesse respaldo futebolístico - afirmou.
NEYMAR E MESSI: COMO JOGAR COM OS ASTROS
Outro desafio de Tite e Lionel Scaloni é lidar com astros que estarão em campo. O comandante da Seleção Brasileira contará com Neymar como seu camisa 10, enquanto a 10 argentina estará mais uma vez ostentada por Messi.
Em entrevista coletiva, Tite falou sobre segredo para marcar Messi.
- Eu sei, mas não vou dizer. A gente não neutraliza, a gente diminui ações do adversário - e fez uma brincadeira:
- Se tu disser como faz para marcar o Neymar, a gente abre como marca o Messi também (risos) - completou.
Lionel Scaloni reforça o impacto que seu camisa 10 tem no futebol.
- Leo não necessita de um título para demostrar que é o melhor da história. Os adversários também reconhecem.
Diego Macias, do "Olé", aponta que o atacante mudou seu perfil.
- Agora ele é mais instintivo, encara jogadores, age como um líder, é diferente. Depois de 15 anos na elite do futebol mundial, Messi continua a se reinventar em campo - afirmou o jornalista.
Neymar, por sua vez, destacou, em entrevista divulgada pela CBF TV, a maneira como o técnico Tite conduziu a equipe até agora.
- Pelo sistema que o Tite impõe, é uma equipe que defende muito bem. Temos jogadores no nosso suporte de defesa que são craques. Isso acaba facilitando também - declarou.
O técnico disse o que pesa para isto se consolidar em vantagem no campo.
- Nós somos a equipe que mais dribla, a que mais finta e a que tem mais criatividade pessoal. Se tem organização, mas também quer ter lúdico, criativo e gol... - disse Tite.
A BATALHA NO MARACANÃ
Na contagem regressiva para a decisão da Copa América, cada técnico aponta como espera levar a melhor no emblemático Brasil e Argentina. Tite, porém, se esquiva de falar sobre um "merecedor do título".
- Não sei, mas é um grande mote para analisar e aprofundar os dois trabalhos. Não tenho dimensão. Por mais que conheça o (Lionel) Scaloni, a seleção argentina eu não conheço o contexto todo. Não posso ser tendencioso ou superficial e dizer que mereço mais porque o outro não merece - declarou.
Suas exigências recaem sobre quem estiver em campo.
- Quero que nossa equipe tenha excelência, quero que seja excelência, competitivo e leal. Comparar o que é um ou outro, isso não dá porque não tenho a devida profundidade e não teria a devida resposta para isso - pontuou.
Lionel Scaloni também destaca o brio dos argentinos que disputam a competição.
- Eu sinto muita emoção por liderar um grupo de jogadores que demonstrou que realmente sabe o que é representar um país. Estou profundamente orgulhoso deles. E se cada argentino soubesse o que nossos jogadores pensam estariam orgulhosos de tudo o que deram nesse tempo em que viemos nos concentrando - e detalhou:
- Eles fizeram um esforço enorme, alguns até viraram pais, outros não veem seus filhos há muito tempo porque jogam na Europa. Outros não viram pais e avós. É um triunfo chegar até aqui porque esses jogadores mostraram que querem ganhar - completou.
O treinador argentino garantiu que o Maracanã torna mais forte a disputa do título da Copa América. Mas fez uma exigência.
- Isso agiganta, abrilhanta (o jogo). Pode dar mais ansiedade, mas amanhã é uma final. Temos de jogar como se fosse em Santiago, Barranquilla, onde quer que fosse. Não temos de pensar que estamos na casa deles. Obviamente que é um estado mítico, mas temos de entrar pensando que estamos jogando em um campo neutro - disse.
Prestes a tentar conquistar sua segunda Copa América consecutiva, Tite é categórico sobre tentar projetar um merecedor.
- Fundamentalmente, vão ser os 90 minutos ou mais refletidos nessa final que vão contribuir para isso - declarou.
Cada técnico tem seus trunfos para que Brasil ou Argentina saia de campo com o troféu.