Papo com Helio Castroneves: Dia dos Pais é dia do Seu Helio
Gostaria de aproveitar o Dia dos Pais para homenagear aquele que me permitiu sonhar

- Matéria
- Mais Notícias
Olá, pessoal, tudo bem?
Relacionadas
Eu estou aqui nos Estados Unidos e, como comentei na semana passada, tenho muitas coisas para fazer por aqui. É por esse motivo que tenho diversos assuntos para abordar sobre o IMSA WeatherTech SportsCar Championship, o NTT IndyCar Series e o grande momento vivido por nossa equipe, a Meyer Shank Racing. Há também, obviamente, meu retorno ao Brasil na próxima semana para disputar, nos dias 16 e 17 de agosto, a etapa de Curvelo (MG) do BRB Stock Car PRO Series. Apesar disso tudo, peço licença para falar prioritariamente de outro assunto. Como estamos na época do Dia dos Pais, quero falar do meu pai, seu Helio.
Eu acho que existe uma base elementar na vida da gente que, na maioria das vezes, se encaixa em qualquer ramo de atividade e influencia intensamente o futuro de cada um. Isso ocorre inclusive no automobilismo, que é “minha praia”. Estou falando de “oportunidades”. Não sei se estou me fazendo entender, mas se uma pessoa alcançou sucesso na sua profissão, no esporte, nos estudos, na vida, enfim, muito provavelmente teve uma quantidade de oportunidades que a fizeram progredir. Acho que o contrário também é uma verdade.
Eu lutei muito para chegar até aqui, passei por momentos que, só de lembrar, já fico arrepiado. Dei tudo de mim para aprimorar o meu talento e fui subindo, degrau por degrau - e continuo subindo, pois o aprendizado nunca termina. Como todo piloto, tive de começar de alguma forma, e até conseguir “andar com as próprias pernas”, tive ao meu dispor diversas oportunidades oferecidas, até eu conseguir deslanchar. E essas oportunidades, que eu defino no início do texto como “base elementar” (falei bonito, hein?) para qualquer coisa, me foram dadas por um homem chamado Helio P. Z. de Castro Neves, o Helião, o Seu Helio, meu pai.
➡️ Papo com Helio Castroneves: confira todas as colunas

Estava lá quando precisei
Vejam só. Meu pai me pegou pela mão e caminhou do meu lado todos os dias da minha vida de piloto enquanto eu precisei. E permanece do meu lado, mesmo agora. Seu Helio fez todos os investimentos que foram possíveis em cada fase da minha carreira. Do meu início no kart, em 1987, até o final de 1991, quando me despedi da modalidade, meu pai bancou tudo.
Aliás, uma vez, quando eu já estava na Indy ganhando dinheiro e sem precisar mais dos investimentos dele na minha carreira, perguntei:
- Pai, quanto ‘ce’ gastou comigo no kart?
A resposta dele foi inesquecível:
- ‘Ce’ é louco? Sei lá! Se eu somasse e visse o número, ia ter um treco e você não tinha mais pai!
E não foi só no kart. Meu pai botou dinheiro na Fórmula Chevrolet e Fórmula 3 no Brasil, da mesma forma que fazia no kart: comprou carro, contratou gente, montou a equipe e dirigiu tudo da forma mais dedicada e divertida possível. Mesmo sem montar essa estrutura, também esteve lá no meu último ano de Fórmula 3 no Brasil em 1994, quando fui correr na Inglaterra de Fórmula 3 em 1995 e nos Estados Unidos de Indy Lights, aí a partir de 1996.
Antes que pensem que a gente era milionário, já vou dizendo que não era nada disso. Obviamente que a gente vivia bem, mas para me dar as oportunidades que precisava, seu Helio trabalhou tanto, mas tanto, que não sobrava nem um pedacinho do dia para ele próprio. Ele cuidava da nossa família, da empresa e da minha carreira, tudo ao mesmo tempo. Não sei onde ele encontrava energia, mas dava conta de tudo e não falta uma corrida sequer.
Quem era adulto naquela época, certamente sabe que os anos 1990 não foram fáceis no Brasil e nossa família passou por grandes problemas financeiros. Para ser muito honesto com vocês, era para minha carreira ter terminado bem antes de eu me mudar para a Europa. Era isso que aconteceria se minha família fosse ‘normal’. Mas quem disse que tinha gente ‘normal’ na casa dos Castro Neves em Ribeirão Preto? Hehehehe

Sonho de toda a família
Eu tinha um sonho e meu pai fez de tudo para que eu alcançasse esse sonho, que passou a ser o dele também.
Minha mãe, Dona Sandra, não queria que eu corresse. Vivia me matriculando em academias de tênis, basquete, natação, futebol e mais um monte de esporte. Ela, tadinha, tinha esperança de que eu me interessasse por outra coisa e deixasse o automobilismo pra lá. Não deu certo, obviamente. E quando ela viu que não tinha outro jeito, abraçou minha carreira e assumiu o meu sonho como se fosse dela.
A Kati, minha irmã, fez a mesma coisa. Foi crescendo, foi entendo as coisas, abriu mão dos sonhos dela e passou a se dedicar de corpo e alma a esse sonho, que já não era mais meu e do meu pai, mas delas também.
Aquela música do Raul Seixas traduz perfeitamente o que acontecia na nossa casa:
"Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade"
Quer dizer, todas as oportunidades que eu precisava eu recebi do meu pai, com o apoio da minha família. Sentado no kart ou num carro de corrida, eu sempre me garanti, mas nunca teria sentado sequer para tentar se não fosse Seu Helio, com o apoio inestimável da Dona Sandra e da Kati.
Então, pai, como domingo, 10, é Dia dos Pais, desejo um Feliz Dia dos Pais e muito, muito obrigado, muito obrigado mesmo por sempre acreditar em mim e de me proporcionar todas as oportunidades.
Vixi, como a coluna está ficando grande pra caramba, vou parando por aqui. Obrigado pela compreensão de todos e já deixo a promessa de voltar a falar de corridas na próxima sexta-feira.
Forte abraço e até lá!
P S.: Feliz Dia dos Pais para todos os papais!
Papo com Helio Castroneves: veja mais colunas
Todas as sextas, acompanhe os relatos e as análises do piloto Helio Castroneves sobre as principais competições automobilísticas no Brasil e no mundo.
➡️Vou “morar em aeroporto” o mês de agosto inteiro
➡️Uma pista nova atrás da outra e estou adorando!
➡️Dentro e fora das pistas, é tempo de festejar
Tudo sobre
- Matéria
- Mais Notícias