Lauter no Lance!: O mundo dos esportes ensinando humanidade à humanidade
O esporte ensinando cidadania aos cidadãos, seja no interior da França, nas águas quentes de Cingapura, ou nas pistas de Londres

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E, se de repente, o estúpido e inábil zagueiro do time adversário voasse com os 2 pés, e os pousasse abruptamente no peito do centroavante que tinha a bola e o gol, praticamente, dominados?
E, se o juiz perguntasse ao troglodita imbecil, por que ele fez isso? E ele respondesse fazendo biquinho com os lábios: porque eu posso!
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E, se o jogo continuasse. E, automaticamente, todo o time adversário cercasse o árbitro magnânimo (em causa própria, claro), e em coro perguntassem o óbvio: por que não marcou falta e expulsou o psicopata de chuteiras? E se o árbitro de topete alaranjado esvoaçante, fazendo muxoxo, respondesse: porque eu posso!
Não, isso, na esfera esportiva não acontece. Existem regras de civilidade e convivência. Existem ferramentas (VAR, photo-finish…) que neutralizam esta aberração!
E, quando, nenhuma das ferramentas da área da justiça desportiva não funcionam, a desportividade brota do chão mais áspero e hostil, como aconteceu anteontem, na 12ª etapa do Tour de France (sempre ele, ensinando dignidade, apesar dos escândalos de doping, e caráter), quando o favorito maior (entre 8 ou 9 possíveis postulantes ao pódio geral, ao retornarem à Paris) Tadej Pogačar, no meio de um pelotão que perseguia os líderes, é derrubado por um adversário, e se estatela no asfalto. Tadej Pogačar cai, desliza dolorosamente no asfalto quente, se levanta tonto, levanta a bike e a autoestima, recoloca a corrente (de transmissão de energia à roda traseira) com a ajuda de um, dos vários, mecânico da prova que flanam próximos aos pelotões para este tipo de socorro ligeiro, e tenta acelerar. Tadej consegue se pôr em movimento, a princípio, mais lento. O pelotão pequeno que liderava e o que Pogačar fazia parte, estranhamente não aceleram tentando deixar o grande favorito para trás, eles aguardam pacientemente notícia sobre o estado, e principalmente, se ele já havia se recomposto. Ao receberem a confirmação de que, mesmo muito ralado e com dores, o líder da prova, voltou ao ritmo, mais de 4 minutos atrás deles.
E, então, a mágica do esporte se faz: todos os 2 pelotões que iam à frente diminuem bruscamente o ritmo, e aguardam, PACIENTEMENTE, o retorno de Tadej Pogačar à posição que ele se encontrava antes da queda!!
Meu Deus, que nó estreito na garganta, que enorme orgulho que estes atletas, este esporte, me deram! Hoje, TODOS os participantes do Tour, deveriam largar usando a “camisa amarela” que o líder, Pogačar (todo remendado de curativos ainda) veste. O mundo do esporte ensinando humanidade a humanidade!
Bom, vou mudar drasticamente de assunto. Não ousem me perguntar “Por quê?”. Responderei prontamente: Porque posso!!
Um Trem Pras Estrelas - E o Trem Bala do Atletismo mundial, chamado Diamond League, se aproxima, como sempre veloz, à sua 11ª estação. Londres, amanhã (sábado, 19/07) às 11 horas (Sportv2), o meu saudoso Estádio Olímpico sedia algumas provas que valem ser destacadas aí embaixo. Vem carregado de muita gente boa, prometendo grandes duelos, e uma chuva de grandes histórias:
- O duelo dos mais velozes do mundo, no momento - Noah Lyles, que venceu em Mônaco na semana passada, derrotando Letsile Tebogo num 200 metros fortíssimos, uma prova em que ambos não se sentiram tão à vontade, prometem um duelo eletrizante nos 100 metros em Londres. Mas não estarão sós. Teremos Akani Simbini em ótima forma na sua especialidade (os 100m), acompanhado do jamaicano Oblique Seville, vice-líder do ranking mundial! É tempo de tempaços em Londres
- Sifan Hassan, a etíope emprestada à Holanda na milha - A clássica distância do meio fundo no hemisfério norte, a milha (1609m), ganha um campo de batalha incrível, em Londres. Irá proporcionar um duelo estelar, nas 4 voltas e 9 metros. Apesar de ter se dedicado mais, nos últimos anos, ao asfalto (21km e maratona), do que ao “tartan”, Hassan gosta do sofrimento mais intenso e curto do meio fundo moderno feminino. Duelando com a jovem estrela Jess Hull (Austrália), que vem colecionando marcas espetaculares, Hassan quer se testar ao máximo. Com coragem, se entrega de corpo e alma a este duelo épico, já pensando no delicioso cardápio do Mundial de Tóquio, este ano, e na distante L.A28, onde deverá lutar por 2 medalhas de difícil composição, os 5 mil no tartan e a Maratona, no asfalto quente.
- Com o corpo em Londres, mas o coração em Dnipro - A saltadora ucraniana Yaroslava Mahuchikh, que vive em Dnipro, uma bela cidade ucraniana, perigosamente próxima a Kharkiv, uma cidade fronteiriça à Rússia, dilacerada por bombas e artilharia pesada, tentou, nas últimas semanas, voltar ao treinamento pesado, para poder voltar à Diamond League em Londres, e em condições de vencer a australiana Olyslagers, seu algoz das últimas etapas. A vencedora de Paris2024, teve que deixar a Ucrânia às pressas e tentar se adaptar a centros de treinamento distantes, e com a preocupação pela vida de seus amigos e familiares aumentando, Mahuchikh imergiu em sessões pesadas de treinos, pois a vitória em Londres não será apenas uma vitória esportiva. Será um grito de socorro, de basta, para tanta insanidade. Que os aplausos vindos das arquibancadas, aliviem a sua dor.
Aos incautos de plantão: não relaxem! Mantenham atenção dobrada, alguns eventos globais espetaculares estão acontecendo, e grandes histórias sendo escritas. Seja em Cingapura, no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, que está produzindo disputas espetaculares na maratona aquática e no polo idem! Também espetaculares estão as Ligas Mundiais de Vôlei (masculina e feminina) em suas fases finais. Brasil mostrando que está renascendo forte, graças aos magos Bernardo e Zé Roberto.
Portanto, as duas etapas do Tour de France e a Diamond League em Londres são imperdíveis. Mas façam intervalos de descanso, se divertindo com o vôlei e as provas d’água em Cingapura.
Ótimo fim de semana!
Até terça,
Lauter Nogueira
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