Ginástica artística feminina estreia no Pan com a missão de mostrar potência nas Américas

O Lance! entrevistou a técnica Georgette Vidor para falar sobre a evolução da modalidade no país

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Rebeca Andrade (esquerda) e Flávia Saraiva (direita) são dois dos principais nomes da Seleção feminina de ginástica artística (Foto: Ricardo Bufolin/CBG)

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A Seleção Brasileira feminina de ginástica artística faz sua estreia nos jogos Pan-Americanos de Santiago (Chile), neste domingo (22). Depois dos resultados históricos obtidos no último Mundial da modalidade, disputado na Antuérpia (Bélgica), a expectatriva é que o Brasil demonstre a sua potência no continente, na opinião de Georgette Vidor, histórica treinadora, que atualmente atua como coordenadora técnica do Flamengo.

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A profissional estava na Bélgica e viu de perto as conquistas que, de acordo com ela mesma, foram 'muito mais do que era possível imaginar'. Assim, de acordo com a técnica, o Pan se torna uma oportunidade de demonstrar a potencia do Brasil nas Américas, ainda que a competição em si não faça seus olhos brilhar tanto quanto a classificação para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.

Isso não significa, no entanto, que há desinteresse por parte dos atletas no Pan, bem pelo contrário: a ginástica artística é uma das principais esperanças de medalha para o Brasil na competição.

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- Levamos a melhor equipe, deixamos somente a Lorrane (dos Santos), pois ela tem que recuperar da lesão no pé. Os atletas sabem da importância do Pan, pelos recursos e estrutura que o Comitê (Olímpico Brasileiro) dá para os atletas de alto rendimento. Temos que mostrar a nossa potencia em relaçlão às Américas - afirmou a técnica.

Em entrevista por telefone, Georgette Vidor relatou o que viu no Mundial, falou sobre a evolução da modalidade no país e respondeu se a atual geração é 'oba do acaso' ou se sabemos como formar novas atletas do nível da atual Seleção. Veja a seguir alguns trechos da entrevista com a coordenadora técnica do Flamengo.

Lance!: O que mais te chamou a atenção no último Mundial de Ginástica?
- A vontade de disputar essa medalha por equipes. O Brasil vem entrando nas finais por equipe há alguns anos, e chegava bem perto. Dessa vez elas entraram com real possibilidade. Nossa principal ginasta estava muioto bem, a Rebeca (Andrade); a Flavinha (Saraiva) voltando à sua melhor forma; Jade (Barbosa) em um momento muito bom. Acho que elas estavam muito com a cabeça do bronze, mas quando foram vendo as possibilidades, a cada aparelho que passava e surgia uma possibilidade melhor que o bronze, elas começaram a ter um comportamento de concentração total e muita garra. Foi algo muito bonito de se ver e emocionante.

Georgette Vidor - Flamengo
Georgette Vidor atua como coordenadora técnica do Flamengo atualmente (Foto: Divulgação / Flamengo)

Quais os principais fatores para a evolução da modalidade no país?
- A gente abriu as portas, em função dos resultados tímidos que tinhamos no cenário mundial, quando a ginástica era dificílima e concentrada em poucos países, basicamrnte os da 'Cortina de Ferro'. Nesse contexto, a Luisa (Parente) foi finalista olímpica, começou ali. Depois a Soraya Carvalho foi a primeira finalista mundial, a Daniele Hypólito conquistou a medalha… conforme isso foi acontecendo, a ginástica foi se tornando mais popular, mais praticada. Através de projetos sociais também, dando mais possibilidade de descobertas de talentos. E a legislação também fez com que o COB tivesse maior segurança financeira, para prerparar melhor as confederações. Com mais recursos, melhor aparelhagem e melhores condições para participar de eventos internacionais, acabou também com os treinadores adquirindo mais conhecimento, crianças procurando praticar mais ginástica… foi juntando uma série de coisas.

Como era o trabalho de treinadora no início?
- Eu viajava sozinha com a Luisa, hoje os atletas tem massoterapeuta, fisioterapeuta, médico, psicólogos, nutricionistas… a equipe que envolve uma atleta de alto endimento na ginásticxa é muito grande e tem mais competência, pois tem mais conhecimento. E como estão trabalhando há muito tempo com esses atletas, sabem cuidar melhor das lesões. A gente fazia tudo de forma muito empírica, trabalhava sozinha, sem apoio nenhum. No primeiro mundial que eu fui, as mães das atletas pagaram minha passagem e a confederação só pagou a minha estadia. A comida nós dividíamos. Tudo é diferente, e muito bom que seja assim.

Seleção Brasileira de Ginástica
Seleção Brasileira de Ginástica está classificada para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024 (Foto: Ricardo Bufolin/CBG)

Como o Brasil tem formado seus treinadores na ginástica? Há um projeto nacional de formação?
- Não tem (projeto nacional). E é uma pretensão da Confederação fazer isso. Não sei como ou quando ou como, mas eles querem que haja um processo de formação. Quem forma os treinadores são os clubes, através dos seus programas internos e da preparação para as competições. Eles vão entrando com atletas bons nas seleções e se capacitando. E quem não tem esse tipo de coisa, na internet você tem todo o tipo de informação possível. Você não sabe como usá-las, mas as informações estão para toda e qualquer pessoa. O próprio Flamengo dá muitos cursos, a Confederação também. Mas os nossos treinadores, todos que são convidados para ir para o exterior, conseguem os vistos e são contratados pelos resultados.

O Brasil sabe como formar uma nova geração vencedora de atletas ou os resultados de agora são 'obra do acaso'?
- É obra de muito trabalho, não tem acaso nenhum. É muito difícil descobrir talentos, esses talentos quererem participar de um processo longo de preparação e a família estar preparada. Não é todo mundo que sai com nove anos de casa, como saiu a Rebeca. Não é todo treinador que abre mão da vida para criar os atletas. Então tem toda uma infraestrutura que, na ginástica, por começar muito cedo, fica muito mais difícil. Um país enorme e pobre como o nosso, não podemos esquecer isso. Tudo isso implica. Não temos uma política esportiva no país que desenvolva os talentos, como na China, com os clubes de bairro. Em todo bairro você pode praticar esporte e, descobrindo o talento, você pode encaminhar para a prática. Isso não temos, como os europeus também tem. A ginástica amerticana, por exemplo, é toda feita com academias privadas.

Rebeca Andrade
Rebeca Andrade no último Mundial da modalidade, disputado na Antuérpia (Bélgica) (Foto: Lionel Bonaventure/ AFP)

Então, temos condições de formar uma nova Rebeca Andrade no futuro?
- A gente não tem outra Rebeca, assim como os Estados Unidos tem outra Simone. Só existe uma Simone Biles, uma Rebeca Andrade. Não existem 10 Simone Biles, nem no mundo. A infraestrutura nós temos, depende de outras coisas. Temos um dos maiores e melhores centros de treinamento do mundo. Os clubes estão mais bem estruturados, temos um pessoal mais bem capacitado na gestão. O que nós não podemos é perder os treinadores que ainda temos. Isso vai inviabilizar nosso trabalho. Vai chegar uma hora que a gente não vai ter mais treinador para preparar, aí podemos ter a Simone Biles que não vai adiantar. Isso me preocupa demais. Não conseguimos ter bons salários, como no basquete, e os treinadores vão embora. É o maior problema do Brasil para a nossa continuidade.

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