Do que falo, quando falo de maratonas! Parafraseando Murakami
Pensando em recordes, mas antes falemos sobre vidas salvas

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Depois de um abril desembestado, onde muita coisa interessante e estranha aconteceu, resolvi parar, respirar fundo, preparar um forte café, e propor a todos vocês, 11 ou 12 assíduos comparsas: precisamos conversar sobre as maratonas de abril!
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Algumas performances especiais e alguns fatos relevantes aconteceram nas maratonas de abril, no hemisfério norte, mais precisamente em Paris, Boston e Londres.
Um fato comum às três provas foi a altíssima adesão, mostrando que o número de inscritos é infinitamente menor do que o de pretendentes, por contado rigor dos organizadores quanto à segurança e conforto dos participantes. Tanto Paris como Londres tiveram mais de 50 mil participantes cada (Paris: 57.000 e Londres: 56.500), mas o que assusta e quase me faz engasgar com o café recém feito, são os números de inscritos para os respectivos sorteios de inscrições: 830 mil e 845 mil, respectivamente!
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Quanto a Boston, os números são forçadamente menores, por conta dos tempos de prova exigidos para cada categoria de idade. Mesmo assim, se tivesse livre acesso, mataria Woodstock de inveja.
Mas eu gostaria de conjecturar (gostei, não a uso há tempos) sobre dois casos, um ocorrido em Boston e reverberou muito nas redes sociais, e outro, em Londres, uma estreia estrondosa, que nos faz sonhar com recordes:
Boston, 21 de abril, a 300 metros da chegada...
... o maratonista brasileiro de Niterói, Pedro Arieta (um ótimo triatleta que tinha a corrida como sua melhor modalidade, e acabou dedicando suas últimas temporadas à maratona, e queria baixar de 2h40 em Boston) seguia firme para atingir a chegada e a meta de sub 2h40. Só que uma imagem logo à sua frente faz mudar seu destino na prova: um atleta ajoelhado, tenta se erguer e seguir para a chegada, mas, provavelmente, por exaustão e baixo nível de oxigênio e glicose no cérebro, não conseguia coordenar seus movimentos, denotando severo descontrole motor. Nesse momento, por compaixão, empatia e humanidade, Arieta abre mão de seu sonhado sub-2h40 e tenta erguer e arrastar seu adversário (na verdade, nas categorias de idade, numa maratona, nosso grande adversário é o tempo), para juntos tentarem cruzar a desejada linha de chegada. O público enorme que se concentra próximo à chegada aplaude e incentiva freneticamente, e como se empurrados por esta multidão barulhenta, a dupla cambaleante enfim cruza a linha de chegada!
Foi bonito e tocante o auxílio de Arieta, ajudando ao atleta desconhecido a cumprir sua maratona, a resposta a este ato de fraternidade inundou a mídia e redes sociais mundo afora.
Mas, após passados alguns dias e assistido várias vezes aquele momento tocante, e apresentando o “caso” a alguns amigos médicos e paramédicos, fiz a eles a seguinte pergunta: E SE ISSO VIRA MODA?
Explico: quando um atleta amador, bem treinado, chega ao ponto de quase desfalecer, perder a coordenação motora e a lucidez, devemos arrastá-lo em direção à linha de chegada, ou buscarmos socorro imediato, para tentar reverter um quadro que pode ser fatal?
E se esta perda da coordenação motora, falência muscular, quadro de torpor e confusão, for por conta de alguma falha cardíaca, ou obstrução? Ou a incongruente, porém factível “morte súbita em esportes”?
Os dados estatísticos mostram que eventos fatais em maratonas e meias maratonas acontecem no último décimo de prova (últimos 4,2km e 2,1km respectivamente).
Compilando todas as informações sobre o caso Boston e seus desdobramentos, devemos redobrar as atenções para os seguintes fatos:
- Proibir o auxílio dramático entre atletas, afinal uma das regras das grandes maratonas é que o atleta só deve se deslocar usando SEUS PRÓPRIOS RECURSOS FÍSICOS. Sob pena de desclassificação.
- As organizações de provas devem dedicar atenção médica especial ao último décimo do percurso das provas, deslocando médicos, paramédicos com ressuscitadores em motos, ambulâncias e hospitais de campanha para esta região.
Desta forma, conseguiríamos frear uma verdadeira onda de “influencers” entrando em ação, desastrosamente, atrás de likes e notoriedade em fins de maratonas, onde a possibilidade de eventos fatais acontece em maior número e o PRONTO ATENDIMENTO É CRUCIAL!!
O que aconteceu em Boston, no finzinho da prova, me assustou. Mostrou a empatia e solidariedade de Pedro Arieta, que renunciou a seu objetivo já quase na chegada, mas também mostrou o despreparo da organização de Boston para um “caso” de fácil solução. Não havia staff no km 42 da Maratona, apenas seguranças!! Preocupados apenas com terroristas e bombas, e nenhum deles, se prontificou a auxiliar ou chamar por rádio o atendimento médico, que talvez o atleta caído precisasse com urgência.
Londres, 27 de abril, na linha de chegada da maratona...
... Onde pudemos ver o ugandense Jacob Kiplimo sorridente, quase eufórico. Não era para menos, ele acabava de cruzar a linha de chegada da espetacular Maratona de Londres em segundo lugar em sua estreia como maratonista. Na minha coluna dedicada à prova, chutei despreocupado com números, que o recorde mundial, e talvez a barreira das 2 horas na maratona, já tinham dono, Jacob Kiplimo. Será?

Vamos lá, Kiplimo em números:
Idade: 24 anos Altura: 1,75 Peso: 54,5
Marcas analisadas, em resultados nos últimos 300 dias:
Meia Maratona - 56:42 (02/2025) Barcelona à predição de maratona: 1h58’56”
15km - 40:42 (11/2024) Holanda à predição de maratona: 2h01’02”
10km - 26:32 (12/2024) à predição de maratona: 2h01’24
5km - 12:40 (05/2024) Bislet, NOR. - predição de maratona: 2h01’10
Se este garoto escolher Berlim, Chicago ou Valência, a sua maratona de outono, este ano teremos quebra de Recorde Mundial!
Até terça, torcendo pela camisa magenta, fúcsia, ou flicts da nossa ex-canarinho!
Lauter Nogueira
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