NFL com Lacalle: Dallas Cowboys esqueceu que, além do Micah Parsons, o vestiário é feito de gente
Jerry Jones e Micah Parsons se estranham antes da temporada do Dallas Cowboys na NFL

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A NFL é o maior espetáculo esportivo dos Estados Unidos. Nenhuma liga movimenta tanto dinheiro, paixão e debate no mundo inteiro. Mas por trás dos Touchdowns e contratos bilionários, há uma faísca silenciosa e perigosa na relação entre donos e jogadores. E ela ficou evidente novamente nesta semana, quando Jerry Jones, proprietário do Dallas Cowboys, contestou a possível renovação de contrato do Edge Micah Parsons, dizendo que assinar com o atleta não significa contar com ele para a temporada.
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- Não é porque assinamos com ele que vamos pode contar com ele. Ele (Parsons) ficou machucado seis jogos no último ano. Eu me lembro de assinar com um jogador, sendo ele o mais bem pago da NFL, e ele ficar de fora por dois terços do ano (Dak Prescott) - afirmou Jerry Jones, dono do Dallas Cowboys, em entrevista coletiva.
A frase caiu como uma bomba. Não só pela falta de tato ao falar sobre um dos maiores talentos defensivos da liga. Mas porque escancarou, mais uma vez, a desconexão que muitos donos ainda têm com a realidade dos seus próprios jogadores.
Frio. Pragmático. E calculista. E tudo bem, até porque a NFL é um negócio, não? Até certo ponto. O problema é que a liga não é um jogo de Fantasy. É um negócio feito de carne, osso, sangue e pancadas que custam anos de vida.
Os donos sentem menos. Os jogadores sentem tudo.
O próprio Jerry Jones tem 81 anos. É bilionário. Tem um iate que custa mais do que o teto salarial de um elenco inteiro. Não precisa se preocupar se vai conseguir andar sem dor depois dos 50 anos. Micah Parsons tem 25. Já jogou 50 jogos de temporada regular, 6 de playoffs, e mesmo com apenas 4 anos de carreira, está entre os defensores mais dominantes da liga. Em 2023, ele foi o Edge com maior taxa de pressão em Quarterbacks da NFL (21,8%, segundo o PFF). Não é exagero dizer que é o motor da defesa dos Cowboys.
E ainda assim, seu nome foi tratado publicamente como um peso. Um saco de ossos dispensável.
Jogadores não esquecem esse tipo de coisa. Porque lutam há tempos com a NFL para serem tratados com empatia. O contrato de um jogador da NFL não é totalmente garantido. Se você se machuca, pode ser dispensado com um aceno e um “obrigado pelos serviços”. Os donos, por outro lado, lucram mesmo perdendo. Vide o Washington Commanders, que foram vendidos em 2023 por 6 bilhões de dólares, mesmo vindo de anos de caos e derrotas.
Mas quando o dono cuida, o vestiário responde
É fácil apontar o dedo para o pragmatismo do Jerry Jones, mas há exemplos de como a empatia mesmo dentro do capitalismo agressivo da NFL. E isso pode sim ser um diferencial.
Em 2022, após Damar Hamlin sofrer uma parada cardíaca em campo, o Buffalo Bills manteve seu contrato ativo, mesmo que pudessem dispensá-lo sem custos. O General Manager Brandon Beane afirmou que isso era o certo a se fazer. O vestiário respondeu. O time se uniu em torno do caso. Hamlin virou símbolo. E os Bills continuaram fortes dentro de campo.
Outro exemplo é o Philadelphia Eagles, que em 2020 se recusou a renegociar o contrato de Jason Kelce para reduzir salários, mesmo em meio à crise do cap. Resultado? Kelce virou líder eterno e a franquia disputou dois Super Bowls em seis anos, ganhando um deles.
Tem algo que os donos, por mais ricos que sejam, parecem esquecer: jogador feliz raramente é problema. Quando se sentem valorizados como humanos, eles não apenas se dedicam mais. Eles evitam drama, seguram a barra e até topam reestruturações de contrato quando o time precisa. E na NFL, evitar drama é um bônus e tanto.
Micah Parsons não está pedindo mais dinheiro agora. Só queria ser reconhecido e, mais do que isso, não gostaria de ter sido menosprezado dessa forma. E o mais irônico? O próprio Jerry Jones sabe o que acontece quando o vestiário deixa de confiar na diretoria. O fim da era Jimmy Johnson nos anos 90, mesmo com um elenco lendário, foi antecipado por causa de desentendimentos de ego e falta de alinhamento com os jogadores. Desde então, os Cowboys jamais voltaram a um Super Bowl.
Empatia não é caridade. É humanidade e pode ser usado como estratégia. Numa liga em que a carreira média de um jogador é de apenas 3 a 4 anos, segundo dados da NFLPA, a associação dos jogadores, (NFLPA), enxergar os atletas como ativos descartáveis é um erro tático, além de moral.
Micah Parsons merece mais. E os Cowboys, se quiserem vencer, precisam começar a lembrar que antes de estatísticas e do dinheiro, quem move tudo isso é o vestiário. E os vestiários são feitos de gente.
Gente que sente.
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