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Como surgiu o banho de champanhe na F1?

A história do espumante que saiu do acaso e virou o ritual no automobilismo.

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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 06/12/2025
21:04
Dan Gurney em Le Mans 1967, sacudindo a garrafa de champanhe no pódio: um gesto espontâneo que virou o símbolo definitivo da vitória no automobilismo. (Foto: Le Mans)
imagem cameraDan Gurney em Le Mans 1967, sacudindo a garrafa de champanhe no pódio: um gesto espontâneo que virou o símbolo definitivo da vitória no automobilismo. (Foto: Le Mans)

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O banho de champanhe na F1 começou por acaso em 1950 com Juan Manuel Fangio recebendo uma garrafa.
O gesto virou tradição após Dan Gurney borrifar champanhe em 1967 e Jackie Stewart popularizá-lo em 1969.
A celebração evoluiu com diversos pilotos, incluindo o "shoey" de Daniel Ricciardo, mas o banho de espumante permanece central.
Resumo supervisionado pelo jornalista!

O hino termina, os troféus brilham, os pilotos se alinham no pódio. Por um segundo, tudo parece protocolar. Até que uma rolha voa, um jato de espumante explode no ar e transforma a cerimônia em caos alegre: mecânicos encharcados, pilotos rindo, jornalistas fugindo da chuva de champanhe. Essa cena é tão natural hoje que parece ter nascido junto com a própria Fórmula 1. Mas não nasceu. O Lance! explica como surgiu o banho de champanhe na F1.

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O banho de champanhe no pódio da F1 é fruto de um misto de acaso, calor, garrafas muito pressionadas e um piloto que decidiu transformar um erro em espetáculo. A tradição não saiu de um manual de marketing ou de uma reunião da FIA. Ela foi construída em camadas: um acidente aqui, uma foto icônica ali, um campeão carismático repetindo o gesto – até virar um ritual obrigatório de qualquer vitória importante no automobilismo.

Para entender como o espumante virou sinônimo de glória, é preciso voltar no tempo. Não para um Grande Prêmio, mas para as corridas de resistência e para um fim de semana histórico em Le Mans. Entenda como surgiu o banho de champanhe na F1.

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Como surgiu o banho de champanhe na F1?

Antes do spray: o champanhe como prêmio silencioso

Muito antes de alguém pensar em "tomar banho" de champanhe, a bebida já estava no pódio. A ligação entre corridas e espumante começou de forma bem mais discreta.

Em 1950, no Grande Prêmio da França, em Reims – coração da região de Champagne – Juan Manuel Fangio recebeu uma garrafa de champanhe como parte da premiação pela vitória. Era um gesto elegante, quase aristocrático: o vencedor brindava, posava para fotos e, muitas vezes, levava a garrafa intacta para casa como troféu líquido.

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Por mais de uma década, o ritual era esse: champanhe como símbolo de prestígio, não de festa caótica. A bebida estava ali, mas ainda não tinha encontrado seu papel como protagonista da celebração. A explosão de espuma que a gente conhece hoje ainda estava alguns acidentes de distância.

Jo Siffert e a primeira "explosão acidental"

Antes de Dan Gurney ficar imortalizado, há um capítulo anterior que ajuda a explicar como a ideia do spray surgiu. Em 1966, o suíço Jo Siffert venceu uma corrida de endurance e recebeu uma garrafa de champanhe no pódio.

O problema – ou a sorte, dependendo do ponto de vista – é que a garrafa estava quente, exposta ao sol e sob pressão depois de horas de corrida e comemoração. Quando Siffert abriu, o champanhe jorrou para fora com violência, respingando em todo mundo ao redor.

Não há indícios de que ele tenha feito isso de propósito. Foi um acidente, um estouro descontrolado. Mas aquele momento plantou a semente: o champanhe podia ser mais do que um brinde comportado. Podia ser espetáculo.

Dan Gurney em Le Mans 1967: o erro que virou ícone

A grande virada, porém, veio um ano depois, em um dos palcos mais míticos do automobilismo: as 24 Horas de Le Mans, em 1967.

  • Data: 11 de junho de 1967
  • Local: Circuito de La Sarthe, Le Mans
  • Dupla: Dan Gurney e A.J. Foyt
  • Carro: Ford GT40 Mk IV
  • Contexto: Ford x Ferrari, a guerra mais famosa do endurance

Gurney e Foyt acabavam de conquistar uma vitória histórica: era a primeira vez que um conjunto totalmente americano – carro, motor, pneus e pilotos – vencia Le Mans. No pódio, cercado por Henry Ford II, Carroll Shelby, outros pilotos e uma multidão em êxtase, Gurney recebeu uma magnum de Moët & Chandon.

Ele mesmo contou depois: estava tão eufórico que, em vez de simplesmente erguer a garrafa ou tomar um gole, sacudiu com força e começou a borrifar champanhe em todo mundo – fotógrafos, executivos, pilotos, esposas, quem estivesse na frente.

Não foi ensaiado. Não foi combinado com patrocinador. Foi um gesto instintivo de alguém que tinha acabado de vencer a corrida de sua vida no cenário mais pesado possível.

A foto daquele momento correu o mundo, virou pôster ("Spray it again, Dan") e, de repente, o banho de champanhe deixou de ser um respingo acidental para virar imagem de marca da vitória.

Jackie Stewart leva o banho de champanhe para a Fórmula 1

Curiosamente, a F1 não adotou o gesto no dia seguinte. Foi preciso mais um capítulo para que a tradição cruzasse oficialmente a fronteira para os Grandes Prêmios.

Em 1969, no Grande Prêmio da França, em Reims – novamente na região de Champagne – Jackie Stewart venceu a corrida e recebeu a garrafa no pódio. Assim como com Siffert e Gurney, a combinação de calor, pressão e comemoração fez o espumante espumar forte.

Em vez de tentar controlar a bagunça, Stewart abraçou o caos: virou a garrafa em direção ao público e começou a espirrar champanhe em todo mundo. Anos depois, ele mesmo diria em entrevista:

"Fui a primeira pessoa a borrifar champanhe na Fórmula 1."

Se Gurney havia criado o espetáculo em Le Mans, Stewart transformou aquilo em ritual de pódio na F1. Deu ao gesto um caráter quase oficial: não era só fotógrafos e VIPs sendo alvos; era o público, os mecânicos, o próprio ambiente de Grande Prêmio entrando na festa.

A partir daí, a década de 1970 consolidou o banho de champanhe como parte inseparável da celebração.

Dos anos 70 em diante: da Fórmula 1 para o imaginário do esporte

Uma vez estabelecido, o banho de champanhe virou parte do DNA da Fórmula 1. Campeões como Graham Hill, Niki Lauda, Ayrton Senna, Alain Prost, Michael Schumacher, Fernando Alonso, Lewis Hamilton e tantos outros repetiram o gesto dezenas de vezes.

Alguns momentos entraram para o folclore:

  1. Senna em Mônaco 1987: vitória icônica nas ruas do principado, com a família real monegasca recebendo boa parte do jato de champanhe. Um choque inicial de protocolo, que depois virou quase uma tradição.
  2. Domínios históricos: títulos decididos com pilotos encharcando mecânicos, engenheiros e até chefes de equipe com champanhe – a catarse máxima de temporadas intensas.

A cena ficou tão forte que outras categorias simplesmente copiaram: MotoGP, IndyCar, NASCAR e praticamente qualquer campeonato que tenha pódio e patrocinador abraçaram sua versão do banho de espumante.

As marcas por trás da espuma: de Moët a Ferrari Trento

Por trás do ritual, também existe um jogo comercial importante. O rótulo da garrafa que aparece nas fotos do pódio vale muito.

Moët & Chandon:

  • Associada às corridas desde os anos 1950, quando Fangio recebeu uma garrafa em Reims.
  • Virou praticamente sinônimo de pódio da F1 por décadas.
  • Retomou o posto de parceira oficial em 2025, reforçando a ligação histórica com a categoria.

G.H. Mumm:

  • Assumiu o protagonismo em vários períodos, especialmente nos anos 2000, com forte presença visual nos pódios e campanhas de marketing ligando a marca à F1.

Ferrari Trento (2021–2024):

  • Espumante italiano que substituiu o champanhe francês como bebida oficial.
  • Tecnicamente não é “champanhe” (denominação protegida pela região francesa), mas ocupou o mesmo papel simbólico: a bebida que marca a vitória.
  • A bebida em si pode mudar – champanhe francês, espumante italiano, rótulos diferentes – mas o gesto permanece o mesmo: sacudir, estourar e dividir a vitória em forma de chuva alcoólica.

Shoey, troféus quebrados e novas versões da festa da Fórmula 1

Como se não bastasse o banho de champanhe, os pilotos mais recentes ainda encontraram maneiras de reinventar a celebração.

Shoey de Daniel Ricciardo (a partir de 2016):
O australiano popularizou o "shoey": beber o espumante direto do próprio sapato de corrida, recém-tirado do pé. Uma mistura de nojeira, carisma e marketing perfeito, que virou marca registrada de suas raras, mas memoráveis aparições no pódio.

Momentos constrangedoramente memoráveis:
Em algumas ocasiões, o excesso de empolgação passou do ponto – como quando Lando Norris, ao bater o fundo da garrafa no pódio para "abrir melhor" o espumante, acabou derrubando e quebrando o troféu do vencedor. A festa virou meme instantâneo.

Mesmo com essas variações, o banho de espumante continua sendo o centro da celebração. É o gesto que o mundo espera quando vê três pilotos alinhados, cada um com uma garrafa na mão e um sorriso pronto para ser lavado por litros de bolhas.

O banho de champanhe na Fórmula 1 nasceu de uma sequência improvável de fatores: garrafas quentes sob o sol, pilotos eufóricos, fotógrafos no lugar certo e um gesto espontâneo que se mostrou perfeito para as lentes. Jo Siffert respingou sem querer, Dan Gurney transformou em espetáculo, Jackie Stewart levou o ritual para o pódio da F1 e, em poucos anos, o jato de espumante se tornou tão importante quanto a bandeira quadriculada.

Hoje, cada vez que um piloto estoura a garrafa no pódio, ele não está apenas comemorando uma vitória. Está repetindo, sem perceber, uma história que começou em 1967, com um americano "stoked" em Le Mans e uma garrafa sob pressão prestes a mudar para sempre a forma como o automobilismo celebra seus heróis.

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