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Aerodinâmica da F1: saiba como as asas geram velocidades nas curvas

Como o downforce permite a um F1 fazer curvas em velocidade "impossível".

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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 06/12/2025
22:17
Red Bull Racing's Japanese driver Yuki Tsunoda (R) and Alpine's French driver Pierre Gasly (L) race during the practice session for the United States Formula One Grand Prix at the Circuit of the Americas in Austin, Texas, on October 17, 2025. (Photo by RONALDO SCHEMIDT / AFP)
imagem cameraDetalhe da asa dianteira e traseira de um carro de F1 nos boxes: cada milímetro do aerofólio decide quanta velocidade o piloto leva para a curva. (RONALDO SCHEMIDT / AFP)

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A aerodinâmica é crucial na Fórmula 1, permitindo curvas a mais de 250 km/h com forças laterais de 5 a 6G.
As asas dianteira e traseira geram downforce e controle, enquanto o efeito solo se tornou predominante desde 2022.
O DRS reduz arrasto em retas, aumentando eficiência aerodinâmica e facilitando ultrapassagens.
Resumo supervisionado pelo jornalista!

A imagem clássica da Fórmula 1 costuma ser a de um carro rasgando a reta principal a mais de 320 km/h. Mas, na prática, é nas curvas que a verdadeira magia acontece. Um monoposto de F1 moderno é capaz de contornar uma curva de alta a mais de 250 km/h gerando forças laterais de 5 a 6G – algo inalcançável para carros comuns, mesmo superesportivos. O Lance! explica como funciona a aerodinâmica da F1.

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O segredo por trás desse desempenho brutal não está apenas no motor ou nos pneus, mas sobretudo na aerodinâmica. As asas dianteira e traseira, o assoalho e o difusor trabalham juntos para criar downforce, uma força que literalmente "cola" o carro no asfalto. É essa pressão extra sobre os pneus que permite frear mais tarde, mudar de direção mais rápido e acelerar antes da concorrência.

Neste guia, você vai entender como as asas de um carro de Fórmula 1 geram velocidade nas curvas, qual a diferença entre downforce e arrasto, porque o efeito solo se tornou o protagonista da aerodinâmica moderna e como tudo isso se traduz na pilotagem que você vê na TV.

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Aerodinâmica da F1: saiba como funciona

Downforce: o "peso extra" invisível que faz o carro grudar no chão

Do ponto de vista da física, um F1 não é muito diferente de um avião – a grande diferença é a orientação das asas. Enquanto um avião usa asas para criar sustentação e subir, o carro de F1 usa asas invertidas para criar downforce, ou seja, uma força empurrando o carro para baixo.

Essa força nasce da diferença de pressão entre a parte de cima e a parte de baixo dos elementos aerodinâmicos. Pelo princípio de Bernoulli:

  • Onde o ar passa mais rápido, a pressão é menor.
  • Onde o ar passa mais devagar, a pressão é maior.

No avião, o fluxo rápido em cima da asa cria baixa pressão e "puxa" o avião para cima.
No F1, o perfil é invertido: o ar acelera por baixo da asa, a pressão ali cai e o carro é "sugado" em direção ao solo.

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O resultado prático:

  • Mais downforce = mais carga sobre os pneus.
  • Mais carga = mais aderência.
  • Mais aderência = o carro consegue fazer curvas muito mais rápido sem escorregar.

E tem um detalhe crucial: o downforce cresce com o quadrado da velocidade. Se você dobrar a velocidade, a força aerodinâmica tende a ser quatro vezes maior. Por isso um F1 em baixa velocidade parece "normal", mas em alta parece grudado na pista.

Asa dianteira: o "cérebro" do fluxo de ar

A asa dianteira é o primeiro componente a encontrar o ar "limpo" e é responsável por duas funções essenciais: gerar downforce na frente e organizar o fluxo para o resto do carro. Essas são partes essenciais na aerodinâmica da F1.

Funções principais da asa dianteira

Downforce no eixo dianteiro:
Ela garante que as rodas da frente tenham aderência suficiente para responder imediatamente às ordens do volante. Sem carga na frente, o carro sofre de substerço (não entra na curva).

Gerenciamento do fluxo de ar:
A asa dianteira não só empurra o carro para baixo, como também "tira" a sujeira aerodinâmica da frente dos pneus e direciona o ar para:

  1. o assoalho (onde o efeito solo faz a maior parte do trabalho);
  2. os sidepods (entradas de ar para arrefecimento);
  3. a parte traseira, alimentando o difusor.

Ajuste de equilíbrio:
Alterar o ângulo dos flaps da asa dianteira permite deslocar o equilíbrio do carro para mais frente ou mais traseira. Em termos simplificados:

  1. mais ângulo = mais downforce dianteira = carro mais “arisco” de frente;
  2. menos ângulo = frente mais solta, útil em pistas de reta longa.

Em muitos carros, a asa dianteira responde por uma fatia significativa do downforce total e, mais importante ainda, define o "começo da história" aerodinâmica: se ela trabalha mal, todo o resto do carro sofre.

Asa traseira: estabilidade, tração e o papel do DRS na F1

Se a asa dianteira é o cérebro, a traseira é a grande âncora de estabilidade do conjunto. Ela atua diretamente sobre tração e controle na saída de curva, quando o piloto está acelerando com o carro ainda inclinado.

O que a asa traseira faz na prática

Gera downforce no eixo traseiro:
Isso mantém a traseira plantada na pista, reduzindo a tendência ao sobresterço (quando a traseira "escapa").

Ajuda na tração:
Com mais carga nas rodas de trás, o piloto pode acelerar mais cedo na saída de curva sem gerar tanto wheelspin (patinagem).

Define boa parte do arrasto total:
A asa traseira é um dos principais vilões do drag. Quanto maior o ângulo, maior o downforce… e maior o "freio aerodinâmico" nas retas.

DRS: abrindo mão de downforce em troca de velocidade na F1

A asa traseira ainda abriga um dos sistemas mais falados da F1 moderna: o DRS (Drag Reduction System). Essa mudança aerodinâmica na F1 chegará ao fim na temporada de 2026.

Quando o DRS é ativado em zonas específicas:

  • a aba superior da asa traseira se abre;
  • o downforce da asa diminui drasticamente;
  • o arrasto cai e o carro ganha cerca de 10–15 km/h de velocidade extra na reta.

Quando fechado, a asa volta ao seu perfil normal, devolvendo o downforce necessário para frear e contornar a próxima curva.

Na prática, o DRS é uma forma controlada de "desligar" a aerodinâmica da traseira na hora que ela menos faz falta (reta), e religá-la tudo no momento em que o piloto realmente precisa (curvas e frenagens).

O novo protagonista da F1: efeito solo e o assoalho dos carros atuais

Desde o regulamento introduzido em 2022, a F1 passou a depender muito mais do efeito solo do que das asas tradicionais. Em vez de gerar a maior parte da carga em elementos externos, os carros modernos tiram a maior fatia do downforce de baixo para cima, através do assoalho.

Como funciona o efeito solo

  • O assoalho é desenhado com túneis que aceleram o ar que passa sob o carro (efeito Venturi).
  • Esse ar muito rápido cria uma grande zona de baixa pressão abaixo do chassi.
  • O carro é literalmente “sugado” em direção ao asfalto.

Vantagens desse conceito:

Muito downforce com menos arrasto:
O efeito solo é mais eficiente que asas externas; você ganha aderência sem "pagar" tanto em perda de velocidade de reta.

Menos turbulência para o carro de trás:
O ar é "trabalhado" mais por baixo, deixando o fluxo que sai atrás do carro um pouco mais limpo, ajudando ultrapassagens.

Na prática, nos carros atuais, o assoalho e o difusor podem ser responsáveis pela maior parte do downforce total, com asas dianteira e traseira complementando, refinando o equilíbrio e ajustando o carro para o tipo de pista.

A batalha eterna da aerodinâmica da F1: downforce x velocidade de reta

Se fosse só colocar "mais asa" e ganhar downforce, a vida seria fácil. Mas cada quilograma de força aerodinâmica extra vem acompanhado de mais arrasto, que freia o carro nas retas. Por isso, cada circuito é um exercício diferente de compromisso.

Pistas de baixa carga, como Monza:

  1. As equipes de F1 reduzem bastante o ângulo das asas;
  2. o carro fica menos colado no chão nas curvas;
  3. em compensação, ganha velocidade máxima nas longas retas.

Pistas de alta carga, como Mônaco ou Hungaroring:

  • As asas são configuradas em máximos de downforce;
  • pouco importa perder alguns km/h nas retas;
  • o que manda é ter estabilidade e aderência nas curvas lentas e médias.

Durante um fim de semana, engenheiros e pilotos testam diferentes níveis de asa nos treinos até encontrar o ponto em que o carro:

  • vira tempo forte nas curvas,
  • sem se tornar um “pára-quedas” nas retas.

É o famoso equilíbrio entre ser rápido em uma volta lançada e ter ritmo de corrida consistente, sem se tornar presa fácil com DRS aberto dos rivais.

O que acontece com o carro de F1 em uma curva de alta velocidade

Juntando tudo – asas, assoalho, difusor e DRS fechado –, o que você vê em uma curva rápida é um festival de física aplicada. Em uma sequência de alta, como Maggots/Becketts em Silverstone ou o Eau Rouge–Raidillon em Spa, o processo é mais ou menos assim:

Entrada de curva (frenagem):

O piloto freia muito tarde, porque o downforce adicional aumenta a carga sobre os pneus;

com mais carga, o limite de aderência na frenagem é muito mais alto do que em um carro comum.

Apex (meio da curva):

  • A velocidade ainda é altíssima;
  • o downforce está no seu auge, porque cresce com o quadrado da velocidade;
  • as forças laterais chegam a 5–6G, comprimindo o piloto no banco;
  • mesmo assim, os pneus continuam agarrados ao asfalto graças à combinação de grip mecânico + aerodinâmico.

Saída de curva (aceleração):

  1. O piloto começa a abrir o volante e pisa cada vez mais fundo;
  2. a asa traseira e o assoalho mantêm a traseira colada, evitando patinagem;
  3. o carro já está “apontado” para a reta quando o motor é liberado por completo.

Se você tirasse todo o downforce, mantendo motor e pneus iguais, esse mesmo carro seria dezenas de km/h mais lento em curva e frenagem. Em muitos trechos, simplesmente não conseguiria fazer o contorno sem sair reto ou rodar.

As asas de um carro de Fórmula 1 são muito mais do que um detalhe estético: elas são parte central de um sistema aerodinâmico que transforma velocidade em aderência. Em conjunto com o assoalho e o efeito solo, criam um carro capaz de fazer curvas em velocidades que parecem contra a lógica do dia a dia. No fim das contas, quando você vê um F1 "desafiando a gravidade" em uma curva de alta, é a aerodinâmica – e principalmente o downforce – que está segurando tudo no lugar.

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