Montagem de elenco e fraco desempenho em casa conduzem o Juventude à Série B
Ano foi marcado por oscilações, dificuldades competitivas e pouca força nos jogos decisivos

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É uma velha máxima, mas nem sempre o futebol é um esporte justo. O Juventude vem, nos últimos anos, tentando construir um cenário sólido, evitando gastar mais do que arrecada e, paralelamente a isso, formando elencos a partir de "oportunidades" de mercado para se manter na Série A. Em 2025, a estratégia não funcionou.
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Um exemplo prático foi Lucas Barbosa, emprestado pelo Santos em 2024 por uma temporada. Tratou-se de uma aposta que deu certo: o atacante disputou 54 jogos, marcou 14 gols e distribuiu sete assistências, sendo um dos destaques do time gaúcho nas últimas 15 temporadas. Em 2025, o Juventude não conseguiu repetir a receita.
— O rebaixamento do Juventude passa mais pela questão técnica que administrativa. O clube administrativamente está muito bem gerido, vem em crescimento e saudável financeiramente. A questão técnica prevaleceu. Como o Juventude não tem condições de fazer grandes contratações, de peso, com altos salários, o clube tem que fazer apostas em jogadores em busca de oportunidade. Em 2024 essa receita deu certo. Em 2025 as apostas não deram e tecnicamente ficaram muito a desejar — conta o jornalista Tiago Nunes, que acompanha o Juventude no "Pioneiro", jornal que acompanha notícias de Caxias do Sul e região.
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Um exemplo negativo está no atacante Gilberto, que teve dificuldades para manter regularidade em campo. Ele disputou apenas 25 jogos, marcou quatro gols e deu duas assistências. Considerado um dos principais nomes da equipe e um dos atletas de custo mais alto do elenco, não conseguiu corresponder ao investimento.
— Vejo que em 2025 o Juventude errou muito nas contratações. Esse foi o grande ponto. O clube fez muitas apostas e elas não deram resultado em campo. Até nos nomes mais experientes, como Gilberto. Com alto custo, o benefício dele em campo foi muito pequeno. Foram várias idas ao Departamento Médico e poucos gols para um camisa 9. No meio da temporada, o Juventude se desfez de 11 atletas, um time inteiro na parada para a Copa do Mundo de Clubes — completou Tiago.

Os números do Juventude
O Juventude encerrou sua campanha no Brasileirão 2025 com 38 partidas realizadas e desempenho abaixo do esperado. A equipe somou 9 vitórias, 8 empates e 21 derrotas, resultando em 30.7% de aproveitamento. Ao longo da trajetória, marcou 35 gols e sofreu 69, números que ilustram um ano de rendimento instável e dificuldades em competir de igual para igual na elite.
Mesmo no Alfredo Jaconi, onde costuma ser mais forte, o Juventude encontrou muita dificuldade. Em 19 jogos como mandante, venceu 6, empatou 5 e perdeu 8, o que corresponde a 40.3% de aproveitamento. A campanha em casa, com 21 gols marcados e 26 sofridos, foi insuficiente para sustentar a permanência na Série A e influenciou diretamente o rebaixamento.
— O Juventude sempre fez do Jaconi a sua grande fortaleza. Esse ano esse foi um ponto determinante também para a queda. Foram só seis vitórias, oito derrotas e cinco empates. A queda passou muito pelos jogos em casa sim. A equipe também sofreu muitos gols, foram 26 em casa e marcou apenas 21. Nas últimas campanhas, a permanência passou pelo Jaconi — explicou Tiago.
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Fora de casa, o cenário foi ainda mais duro. Em 19 partidas, o time venceu apenas 3 vezes, empatou 3 e perdeu 13, chegando a apenas 21% de aproveitamento. A defesa sofreu 43 gols, enquanto o ataque marcou 14, números que reforçam as fragilidades e ajudam a explicar o desfecho da temporada.
— Impossível citar somente um (momentos dolorosos na competição), mas falando de Brasileirão o grande golpe foi certamente a goleada sofrida pelo Flamengo que mudou o rumo das coisas ainda no primeiro turno e em segundo a virada sofrida pelo Fortaleza no Alfredo Jaconi com direito a pênalti perdido enquanto estava 1 a 0 para nós, com Gilberto que era um dos pilares do time sendo o vilão na ocasião — comenta o torcedor Giovane Zago, em entrevista ao LANCE!.
Dança das cadeiras
Na temporada, o Juventude teve três treinadores. O ano começou com Fábio Matias, que havia assumido a equipe em outubro de 2024 com o desafio de garantir a permanência na Série A do Campeonato Brasileiro. A meta foi alcançada com uma rodada de antecedência. Ele comandou o Verdão no Gauchão, competição em que chegou às semifinais, além da Copa do Brasil e do Brasileirão 2025. No nacional, foram cinco derrotas em sete jogos, resultado que levou à sua demissão.
Em seguida, Claudio Tencati assumiu o comando, mas permaneceu por pouco tempo. O treinador deixou a equipe após sete partidas, somando cinco derrotas, um empate e apenas uma vitória.

Por fim, Thiago Carpini assumiu com o objetivo de tentar evitar o rebaixamento. Personagem marcante na história do clube, foi o profissional que mais comandou o Juventude na temporada, porém não conseguiu impedir a queda para a Série B. Em 22 jogos, somou seis vitórias, seis empates e onze derrotas, com aproveitamento de 36,36%. O treinador não permanecerá para 2026.
— Eu acho que o que fica de lição é que era possível e que a gente conseguiu despertar nesses atletas um pouco mais da capacidade técnica, da competitividade, não se sentirem inferiorizados por conta de resultados momentâneos. Fico chateado pelo não objetivo alcançado, mas feliz pela performance coletiva e conseguir extrair mais desse mesmo grupo — disse o treinador após o empate com o Corinthians.
— O futebol hoje é de muita competitividade e para algumas situações nós conseguimos nivelar e aí foram os detalhes técnicos que nos custaram resultados. Fica esse legado de acreditar, de persistir, de buscar a melhora a cada jogo, de não achar que está no limite, independente da idade, se você é o Nenê com 44 ou o Scatolin com 17 — completou.
Estrutura do Juventude
A longa ausência do Juventude na Série A ainda deixa reflexos na realidade do clube. O período de 13 fora da elite impactou diretamente o desenvolvimento estrutural, que ficou estagnado por muito tempo. Desde o retorno em 2020/2021, o clube tem promovido melhorias no CT e no Alfredo Jaconi, mas os investimentos pesam no orçamento destinado ao futebol e geram divergências internas.
Parte da torcida cobra um elenco mais caro, enquanto a direção prioriza avanços estruturais considerados fundamentais para o futuro. Esse cenário, segundo Zago, influencia o desempenho da equipe dentro de campo porque o clube ainda atravessa um processo de reconstrução conduzido de forma responsável.
— O Juventude passou 13 anos longe da Série A, isso custou caro em diversos aspectos, entre eles o nível estrutural do clube que havia parado no tempo e que vem em crescente, tanto o CT quanto o Alfredo Jaconi passam por melhorias nos últimos anos desde sua primeira volta a elite em 2020/21. Mas essas obras tem um preço e refletem no orçamento para o futebol, ao mesmo tempo que o clube dá passos importantes em busca da estabilidade gera uma insatisfação grande em parte da torcida que preferia um time "mais caro" ao invés de melhorias essenciais para as ambições do clube. Então, impacta diretamente e fortemente no resultado de campo o nível estrutural, pelo simples fato dele estar em transformação e sendo executado de forma responsável — disse Zago.

A outra perspectiva dentro do próprio clube avalia que a estrutura atual já está em um nível satisfatório. Nos últimos anos, o Juventude entregou vestiários modernos, qualificou gramados e inaugurou um prédio exclusivo para o departamento de futebol profissional, elevando o padrão de trabalho oferecido aos atletas.
— Não vejo a estrutura do Juventude considerada ruim. Era ruim em 2020. Depois que subiu o clube vem investindo forte na sua infraestrutura. Os atletas contam com vestiários modernos e até um novo prédio somente do departamento de futebol profissional foi inaugurado no CT com tudo que os atletas precisam. Claro que se comparado aos gigantes do futebol brasileiro a estrutura do clube não é igual. Os gramados do Estádio e do CT são ótimos. E o Juventude vem investindo na sua estrutura. Não tivemos nenhum relato de atletas de descontentamento sobre isso. O rebaixamento não passou por isso — apontou Tiago.
O atual elenco tem salvação?
A temporada do Juventude teve em Gabriel Taliari o principal nome em participação direta nos gols. Ele liderou o elenco com 12 ações decisivas, além de ser o artilheiro da equipe com 8 gols e dividir a vice-liderança das assistências, com 4 passes para gol. Nenê e Marcelo Hermes também apareceram com destaque na criação e nas finalizações. Ambos somaram 7 participações diretas: o meia marcou 3 gols e deu 4 assistências, enquanto o lateral balançou a rede 1 vez e distribuiu 5 passes decisivos.
No quesito artilharia, a dependência ofensiva ficou evidente. Atrás de Taliari, Emerson Batalla anotou 4 gols e foi o segundo maior goleador da equipe, seguido por Nenê, com 3. Já nas assistências, Marcelo Hermes terminou como o principal garçom, com 5 passes para gol, mostrando regularidade mesmo em um ano de dificuldades coletivas.

Quanto à utilização do elenco, Jádson foi quem mais esteve em campo ao longo da temporada, com 35 partidas disputadas. Em seguida apareceram Gabriel Taliari, com 34 jogos, e Mandaca, com 32 atuações, reforçando a importância desse núcleo de jogadores no funcionamento da equipe ao longo do ano.
— Ao meu ver os maiores destaques foram Caique, Taliari e Mandaca, pilares nos melhores momentos do clube no ano e a maior decepção sem sombra de dúvida foi Gilberto, maior salário da história do clube conviveu com lesões novamente e quando esteve em campo tirando relapsos de lucidez foi insuficiente e impotente, Gabriel Veron merece menção honrosa, veio com grande expectativas pelo talento que tem mas foi totalmente sem sal, não dribla, não chuta e só toca para trás, se seguir assim pobre do Porto que terá rasgado dinheiro — disse o torcedor Giovane Zago.
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