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Como reportagem na TV com praia, chopp e camarão motivou título brasileiro do Coritiba há 40 anos

Coxa usou 'soberba' do Bangu para calar o Maracanã

imagem cameraCoritiba posa para foto na final do Campeonato Brasileiro de 1985, no Maracanã. Foto: Divulgação/Coritiba
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Guilherme Moreira
Curitiba (PR)
Dia 31/07/2025
08:00
Atualizado há 1 minutos

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Há 40 anos, o Coritiba conquistava o título do Campeonato Brasileiro de 1985 no Rio de Janeiro, mas "somente" o troféu inédito não foi suficiente para motivar o elenco alviverde. A partida única no Maracanã e uma reportagem na televisão com festa antecipada regada a camarão e chopp pelo Bangu ajudaram a inflamar os jogadores do Coxa na véspera da finalíssima.

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Bangu escolhe o Maracanã, mas queria jogar no domingo

A guerra de bastidores começou após o Coritiba passar pelo Atlético-MG e o Bangu eliminar o Brasil de Pelotas nas semifinais. Castor de Andrade, bicheiro que financiava o time carioca, quis mudar a data da finalíssima de quarta-feira para domingo, com objetivo de ter maior arrecadação na bilheteria.

- Vou à CBF pleitear o direito de jogar a final no domingo. Não há nada contra e por que o jogo não pode ser realizado no domingo. Vou conversar com os dirigentes da CBF para resolver isso. A meu ver e acho que esse seja até o pensamento do nosso adversário, o melhor dia para a decisão seria no domingo. Vai depender única e exclusivamente da CBF - declarou Castor de Andrade ao Jornal dos Sports.

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Já o Coxa reclamava que o confronto fosse disputado em uma só partida e longe da capital paranaense. A alegação era de que o Coritiba enfrentou adversários mais complicados na primeira e na segunda fases em relação ao Bangu e merecia atuar no Couto Pereira.

Em reunião, três dias antes da final, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cumpriu o regulamento, que previa o time de melhor campanha com o direito da escolha do estádio e no dia previamente acordado. A diretoria alviverde, sem conseguir convencer o Bangu por jogos de ida e volta, vetou a troca da partida para domingo.

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Festa, praia, camarão e chopp

Moisés Andrade, técnico do Bangu, come camarão na praia dias antes da final contra o Coritiba. Foto: Reprodução/Globo

Com data (31 de julho) e horário (20h30) marcados, restou que os times se preparassem. O Coxa tinha a rotina normal até que, um dia antes da final, o grupo alviverde almoçava em um hotel na capital e passava uma matéria de encerramento no tradicional programa Globo Esporte.

A reportagem mostrava o técnico do Bangu, Moisés Andrade, sem camisa e na beira da praia, rodeado pelos jogadores. A festa antecipada era servida com camarões e chopp, além de exalar uma alegria exagerada.

- Foi uma injustiça muita grande ser um jogo só no Maracanã. A gente pegou Flamengo, Cruzeiro, São Paulo, Corinthians, Atlético-MG, Santos na campanha. E eles enfrentaram times mais fragéis em outro grupo. Ficamos indignados com isso. Ao mesmo tempo, nos deu motivação. E outra coisa que deu motivação, vontade de ser campeão foi a entrevista do Moisés. A gente ficou muito revoltado assistindo. Isso foi determinante, decidimos ali 'vamos ganhar, ir pra cima dos caras' - afirmou Édson, atacante que atuava pelo lado esquerdo, à rádio Jovem Pan News.

- O Bangu dava como certa a conquista deles. O Moisés comendo o camarão na praia, essa cena mexeu com o brio de todos. Era todo o Rio de Janeiro contra nós. Isso fez com que algo fosse superado, com torcedores de Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco torcendo pelo Bangu. Tivemos essa a ousadia de superar e sermos campeões - completou Elizeu, meia que não entrou na final.

O Coritiba não sabia, mas o bicheiro Castor de Andrade também promoveu uma festança na sede social do clube, três dias antes da partida. Na ocasião, até as camisas de jogo do time foram vendidas para os torcedores, e o clube teve que improvisar um kit de camisa branca, sem a fornecedora Adidas, para jogar a decisão.

Na terça-feira, véspera da final, o Bangu ainda abriu o treino para a torcida e vendia as tradicionais faixas de campeão brasileiro de 1985. Só não combinou com o Coritiba.

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Campeões não receberam medalha e nem bicho do Coritiba

Coritiba faz medalha comemorativa de 40 anos do título brasileiro de 1985. Foto: Luís Lisbôa/Coritiba

Apesar da glória em campo, os jogadores campeões de 1985 convivem com desgastes no extracampo. Nenhum deles recebeu a medalha original do título e pouquíssimos receberam o bicho, tradicional premiação em dinheiro por objetivos alcançados.

Quatro décadas depois, o Coritiba tentou amenizar a falta do objeto e fez uma medalha comemorativa aos herois alviverdes. Antes, eles tinha recebido uma réplica da original que, segundo os atletas, não é sequer parecida. O paradeiro das medalhas nunca foi explicado publicamente. Nos bastidores, a versão é de que dirigentes da época pegaram pra si ou revenderam.

A CBF, agora comandada por Samir Xaud, alega não ter conhecimento do caso, mas prometeu resolver o impasse. O presidente da entidade, que esteve presente no Couto Pereira no domingo (27), solicitou a confecção de medalhas da época para entregar aos jogadores em agosto.

Além do objeto, o elenco coxa-branca também não viu a cor do dinheiro - e esse nunca teve promessa de correção. Os bichos por jogo ou classificação já eram comuns no futebol brasileiro. No Coritiba de 1985, não foi diferente.

O presidente Evangelino Costa Neves, conhecido também como "Chinês", já tinha pago premiações que variavam de R$ 1 mil a R$ 2,7 mil (já convertido do cruzeiros) em jogos contra o Sport, Corinthians e Joinville na segunda fase. A classificação para a semifinal contra o Atlético-MG, por exemplo, aumentou consideravelmente para R$ 120 mil.

Na final, de acordo com relatos dos atletas da época, o bicho pelo título seria de aproximadamente R$ 240 mil. Os atletas que saíram do Coritiba ao final da temporada não ganharam nada. Contudo, raros conseguiram receber e somente os que permaneceram no Alto da Glória, caso de Édson.

- Fui um dos pouquíssimos que recebeu. O Evangelino (presidente) era de dia (humor). Eu tinha dado sinal da compra de uma casa e faltavam 48 prestações, que davam exatamente o preço do bicho. Dois dias depois do título, fui na sala dele, que me atendeu. Devia estar muito feliz pelo título. Explique toda a situação, ele pediu para a secretária bater o cheque e quitei tudo. Só que o Rafael (goleiro) foi no dia seguinte e ele nem recebeu. O pessoal é muito magoado com a administração - explicou Édson.

A campanha do título: altos e baixos até a consagração do Coritiba

Índio comemora gol do Coritiba contra o Bangu, no Brasileiro de 1985. Foto: Helênicos/Coritiba

O Coritiba iniciou sua trajetória na primeira fase no Grupo A, onde enfrentou clubes tradicionais como Corinthians, Atlético-MG, Guarani, Grêmio e Palmeiras. O início foi irregular, com vitórias contra São Paulo e Cruzeiro, mas também derrotas para Vasco, Internacional e Portuguesa. Nesse período, o técnico Dino Sani aceitou proposta da seleção do Catar e entrou Ênio Andrade. Ainda assim, o clube conseguiu se classificar à segunda fase, com vitórias importantes na reta final, como diante do Santos, em casa, por 2 a 1.

Na segunda fase, o Coritiba foi alocado no Grupo G ao lado de Corinthians, Sport e Joinville. A equipe paranaense voltou a crescer no momento decisivo, vencendo Corinthians (1 a 0), Joinville (2 a 1) e empatando com Sport (0 a 0), garantindo a liderança do grupo e uma vaga na semifinal contra o poderoso Atlético-MG.

A semifinal foi disputada em dois jogos equilibrados. No Couto Pereira, o Coritiba venceu por 1 a 0, com gol de Heraldo, e segurou o empate sem gols no Mineirão diante de mais de 64 mil torcedores. O acesso à final foi merecido e construído com coragem, solidez defensiva e inteligência tática.

Na decisão contra o Bangu, o time comandado por Ênio Andrade saiu na frente com Índio, mas sofreu o empate ainda no primeiro tempo. O jogo seguiu equilibrado até o apito final, sem gols na prorrogação. Nos pênaltis, o Coritiba foi impecável: Índio, Marco Aurélio, Édson, Lela, Vavá e Gomes converteram suas cobranças, enquanto Ado desperdiçou para o Bangu, chutando por cima. O Coxa conquistava, assim, seu primeiro Campeonato Brasileiro já na madrugada de 1 de agosto.

No total, a campanha do Coritiba no Brasileirão de 1985 teve 12 vitórias, sete empates e 10 derrotas, com 25 gols marcados e 27 sofridos.

O elenco campeão e os destaques do torneio

Jogadores campeões de 1985 do Coritiba deram volta olímpica no Couto Pereira no domingo (27). Foto: Luís Lisbôa/Coritiba

O Coritiba campeão brasileiro de 1985 era um time que combinava juventude e experiência, liderado por um treinador renomado e com jogadores que marcaram época no clube. O goleiro Rafael, eleito para a seleção da Bola de Prata, foi decisivo em vários momentos. Na defesa, Gomes, Heraldo e Dida formaram um sistema seguro e compacto. No meio, Toby e Almir davam sustentação à criação ofensiva, enquanto Lela, Índio e Édson eram responsáveis pelas ações no ataque.

Com apenas 12 vitórias em 29 partidas, o Coritiba não teve uma campanha dominante em números, mas soube crescer nas fases decisivas. O título consagrou o coletivo, a disciplina tática e o espírito aguerrido do elenco.

Naquele ano, o artilheiro do campeonato foi Edmar, do Guarani, com 20 gols. Outros destaques individuais incluíram Marinho e Ado, do Bangu, além de Rubén Paz e Mauro Galvão, do Internacional. O prêmio Bola de Ouro ficou com Edmar, enquanto a seleção da Bola de Prata contou com representantes do Coritiba e de outros clubes que se destacaram.

✅ FICHA TÉCNICA
BANGU (5) 1X1 (6) CORITIBA
FINAL ÚNICA - TAÇA DE OURO (CAMPEONATO BRASILEIRO)

📆 Data e horário: Quarta-feira, 31 de julho de 1985, às 21h45 (de Brasília)
📍 Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
🥅 Gols: Índio 25/1T (CFC); Lulinha 35/1T (BAN)
🟨 Cartões amarelos: Mário (BAN); Dida, Gomes e Rafael (CFC)

🏟️ Público: 91.527
💰 Renda: Cr$ 848.064.000,00

🟨 Árbitro: Romualdo Arppi Filho (Fifa-SP)
🚩 Assistentes: Osvaldo Campos (SP) e Joel Caires (SP)

⚽ESCALAÇÕES

BANGU (Técnico: Moisés Andrade)
Gilmar; Márcio, Jair, Oliveira e Baby; Israel, Lulinha (Gílson) e Mário; Marinho, João Cláudio (Pingo) e Ado.

CORITIBA (Técnico: Ênio Andrade)
Rafael; André, Gomes, Heraldo e Dida; Almir (Vavá), Marildo (Marco Aurélio) e Tóbi; Lela, Índio e Edson.

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