Cleveland segue Washington e vai retirar ‘Indians’ do nome; decisão pressiona Kansas City Chiefs, atual campeão da NFL

Luta dos nativos norte-americanos para o fim do uso de seus símbolos pelas franquias esportivas do país ganha um novo capítulo

Chefe Wahoo
Indians já tinha retirado de sua logo o chefe Wahoo de forma definitiva em 2018 (Reprodução / Twitter)

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Seguindo os passos do Washington Football Team, o Cleveland Indians, uma das franquias mais tradicionais da MLB, a liga de beisebol profissional de Estados Unidos e Canadá, decidiu retirar de seu nome o apelido Indians (índios, em português). A informação foi noticiada inicialmente pelo jornal 'The New York Times'. A franquia ainda não definiu qual será seu novo nome, mas existe um movimento nas redes sociais para que Cleveland adote o apelido de Spiders, uma alusão ao antigo time de beisebol da cidade entre os anos de 1887 a 1889. A medida é mais um marco nos esportes norte-americanos no tocante à longa luta dos nativos do país contra a utilização de suas representações com tons pejorativos, injúrias raciais e como mascotes. 

A decisão de Cleveland pressiona o Kansas City, atual campeão da NFL, que leva em seu nome o apelido de Chiefs, 'chefes' em português. A apropriação da franquia do Missouri dos temas referentes aos nativos americanos é notória, inclusive com os torcedores comparecendo ao Arrowhead Stadium - menção indígena à ponta da flecha, adereço de força, coragem e proteção - fantasiados, fazendo o grito e o gesto Tomahawk antes das partidas, além de outras representações. Até os anos 1980, o time tinha como mascote principal o cavalo Warpaint, montado sem sela por Bob Johnson, que usava um cocar no estilo do traje cerimonial dos índios americanos. Warpaint sempre circulava o campo no início de cada jogo e após cada touchdown. Os Chiefs trouxeram de volta a tradição em 2009, mas oficialmente o mascote da equipe é o KC Wolf, um lobo. 

Há uma grande discussão nos Estados Unidos sobre a questão indígena e os Chiefs sempre retrataram a cultura dos nativos com menções selvagens. Reza a história que a justificativa para a escolha do apelido 'Chiefs' não teria origem em qualquer menção aos indígenas norte-americanos, o que supostamente diferenciaria o caso de Kansas City dos seus 'parentes' Redskins, Braves e Indians. O 'Chiefs' seria então uma homenagem ao ex-prefeito de Kansas City, H. Roe Bartle, que ajudou a cidade a ter um time de futebol americano nos anos 1960, convencendo Lamar Hunt a levar o Dallas Texans para o Missouri. Bartle era conhecido como 'The Chief', 'o chefe' em português.  

Os Chiefs fizeram algumas mudanças em seus rituais do dia do jogo, proibindo, por exemplo, o uso de cocares por parte dos torcedores. A equipe, no final de agosto, considerava ainda se continuaria com o “Arrowhead Chop”, um grito típico dos times que trazem no nome referências indígenas, como o Seminoles, a equipe de futebol americano da Universidade da Flórida. Os Chiefs também discutiam se o toque do tambor antes das partidas continuaria. Muitos nativos norte-americanos já se manifestaram também de forma contrária ao uso de machadinhas de espuma pelos times. O adereço dos torcedores é visto como "humilhante" para a comunidade indígena, que já pediu o banimento da comercialização do produto. 

O polêmico chefe Wahoo

A decisão do Cleveland Indians segue a esteira da política adotada pela franquia na tentativa de se 'livrar', literalmente, do estereótipo criado pelo antigo mascote do time, o chefe Wahoo. Mais de 115 organizações profissionais que representam os direitos civis, educacionais, esportivos e especialistas científicos publicaram resoluções e políticas que declaram que qualquer uso de Nativos Nomes ou símbolos americanos por equipes esportivas não nativas são uma forma prejudicial de estereótipos étnicos que promove mal-entendidos e preconceitos e contribui para outros problemas enfrentados pelos nativos americanos.

O chefe Wahoo, especificamente, foi uma caricatura criada em 1932 por Fred George Reinert, publicada pela primeira vez no jornal Plain Dealer, o principal de Cleveland, para representar uma grande vitória conquistada pela franquia. Os traços caricatos expressam um estereótipo extremamente mal formulado dos indígenas norte-americanos, com traços pejorativos. A ideia, no entanto,  agradou os diretores do time à epoca, que passaram a adotar o chefe Wahoo. O mascote, que também foi logo da equipe, permaneceu até 2018, quando foi oficialmente abandonado pelos Indians. 

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