Copa Tática: França e o elenco que exige futebol de alto nível

A escolha dos 23 convocados era um grande desafio para Deschamps, já que o país conta com muitas opções de qualidade. De positivo no ciclo, apenas o olhar para as lições da Euro

Griezmann e Giroud - França x Holanda
(Foto: Christophe Simon / AFP)

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Em qualquer lista dos três ou quatro times mais fortes da Copa do Mundo, a França estará presente. Não é por acaso. A escolha dos 23 convocados era um grande desafio para Didier Deschamps, já que o país conta com muitas opções de qualidade. No fim, nomes como Payet, Rabiot, Coman, Lacazette e Martial ficaram fora. E a cobrança naturalmente será por um futebol que justifique o favoritismo. O LANCE! publica nesta sexta mais um capítulo da série Copa Tática, com análises diárias das 32 seleções até 13 de junho - clique no fim do texto e veja também como jogam os outros três times do Grupo C: Peru, Dinamarca e Austrália. 

A seleção francesa não empolgou no ciclo para a Copa. Tropeços recentes contra Luxemburgo e Suécia ligaram novamente o sinal de alerta sobre o desempenho. Mesmo nas vitórias, foram poucas atuações totalmente convincentes. De positivo, apenas o olhar para as lições da Euro 2016.

A estrutura tática da França viveu um dilema durante a Eurocopa. Pogba se sentia mais cômodo em um trio de meio-campistas, mas o rendimento de Griezmann acabou modificando o sistema, permitindo que o atacante do Atlético de Madrid não fosse ponta e nem 9, ocupando assim o espaço do '10', ainda que com uma função diferente.

Com a consolidação de Griezmann como pilar da seleção, o 4-2-3-1 se estabeleceu, com o atacante tendo a liberdade para atacar os espaços, se movimentar e buscar a referência do pivô para não ficar preso entre os zagueiros. Estava resolvido o principal problema, privilegiando a capacidade do jogador mais decisivo, ainda que a opção afetasse o rendimento de Pogba.

Atuar em uma dupla de volantes era uma dificuldade nos tempos em que o meio-campista funcionava tão bem em outro desenho na Juventus, mas a ida para o Manchester United tornou a função mais habitual. Em um primeiro momento, Mourinho teve o mesmo dilema para acomodar Pogba e Rooney em espaços conflitantes, mas 2017/18 já teve melhor funcionamento com Pogba ao lado de Matic.

É o que se espera ao lado de Kanté, ainda que com características diferentes. Ao optar por Pogba e Kanté na dupla de volantes, Deschamps abre mão da infiltração de Matuidi ou Tolisso, mas conta com a ocupação de espaços para a retomada da bola, especialidade de Kanté. Por outro lado, ao não ter um passador como Rabiot, Pogba ganha a responsabilidade de iniciar a organização, muitas vezes mais recuado do que de costume, recebendo dos zagueiros.

Entre os convocados, N'Zonzi é quem pode oferecer uma alternativa para auxiliar no primeiro passe sem perder em força física, permitindo uma variação que libere Pogba para uma zona mais avançada do campo. O volante do Sevilla é, inclusive, o responsável pela possibilidade de utilização de um 4-3-2-1 que abriria mão de um dos meias para preencher o meio, liberando Pogba. O mesmo desenho poderia ter Kanté mais preso, com Pogba ao lado de um infiltrador, como Tolisso ou Matuidi.

Pelos lados, são muitas as opções de alto nível, mas o time titular parece encaminhado. Apesar de não ser dos mais badalados, Lemar parte da esquerda, mas ajuda na construção por dentro. Na direita, Mbappé é uma grande arma em velocidade na direção do gol, seja pelos dribles nas pontas, pela profundidade para ser lançado nas costas da defesa ou por atacar os espaços mais próximos do '9'.

Mesmo que seja questionado por muitos, Giroud tem um perfil único na lista de convocados: a referência, capaz de usar o físico não só para o jogo aéreo, mas também para prender a bola e se associar com as estrelas que atacam a área. Pode não ser um atacante do mesmo nível que os demais, mas tem justamente a missão de potencializar Griezmann e Mbappé.

Como Deschamps não chamou Lacazette e Benzema estava fora dos planos, o plano B do ataque passará por outros estilos. Fekir e Mbappé podem ocupar a posição central de formas diferentes, o que abriria a ponta para Dembélé. Embora muito prejudicado pelas lesões, Dembélé terminou a temporada em seu melhor nível pelo Barcelona. Em forma, é quem pode ter o maior impacto vindo do banco, já que pode substituir Lemar ou Giroud, oferecendo diferentes desenhos e estilos ao time.

Já Thauvin viveu seu ano mais decisivo na Ligue 1, como artilheiro do Olympique de Marselha, mas ficou devendo em muitos dos chamados "jogos grandes". Mesmo com tantos nomes de alto nível, os desfalques de Coman e Payet são relevantes. Ambos viviam momentos excelentes quando se lesionaram por Bayern e Olympique. Estrela na Euro 2016, Payet seria um meia criativo bastante diferente dos demais na lista dos 23.

Se o ataque apresenta alternativas, as laterais preocupam. Diante das lesões de Sidibé e Mendy, surpreende que as escolhas de Deschamps tenham apontado reservas de perfis tão diferentes dos titulares. Mendy, em especial, ficou sete meses sem jogar. Voltou no fim de abril e teve menos de 70 minutos pelo Manchester City desde então. A falta de ritmo é o grande obstáculo para um jogador de tanta potência física nas chegadas ao fundo. Sua convocação era uma dúvida até o último momento e chama atenção que o reserva escolhido seja Lucas Hernández, um defensor que compõe o lado de forma mais sólida.

Mesmo em baixa no Barcelona, Lucas Digne parecia um reserva mais natural. Na direita, Pavard também tem característica diferente de Sidibé. A preocupação não tem a ver com a qualidade dos reservas, mas sim com o funcionamento coletivo da equipe, já que a França utiliza seus dois laterais
muito avançados no campo.

Na defesa, Varane e Umtiti são zagueiros de alto nível, mas oscilaram na temporada. Umtiti foi excelente na primeira metade e caiu após a lesão. Varane cresceu no mata-mata da Champions e recuperou seu melhor nível. Defensivamente, o maior temor é com as transições, já que o time se propõe a atacar com laterais abrindo o campo, e os dois titulares voltam de lesão. A escolha das peças de meio-campo também definirá a altura em que a França
pretenderá iniciar seu trabalho de pressão sem a bola, um fator importante para manter o controle e evitar que o adversário acelere nos espaços cedidos.

Por maior que seja o fôlego de Kanté para as coberturas, a coordenação precisa funcionar, até para compensar o fato de Pogba não ter a mesma capacidade para pressionar por muito tempo ou recompor. Qualidade não falta ao elenco e alguns amistosos pré-Copa sinalizaram o potencial que a equipe pode alcançar.

Curiosamente, as vitórias contra Irlanda e Itália foram com formações alternativas, e não com a teoricamente titular. Um dos pesadelos de Deschamps é a constante sensação de que algumas opções de banco podem compor um time melhor do que o titular. A Copa de 2018 é o momento para provar o contrário e espantar a desconfiança sobre a capacidade do técnico administrar um elenco tão qualificado individualmente.

Jogos no Grupo C
​16/6 - 7h - França x Austrália
​21/6 - 12h - França x Peru
26/6 - 11h - Austrália x Peru

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