Balanço do Mundial: Copa Feminina mostra evolução, mas ainda há muito a ser feito

Espanha se sagrou campeã neste domingo pela primeira vez, batendo a Inglaterra por 1 a 0, com gol de Olga Carmona

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Seleção da Espanha campeã do mundo (Foto: AFP)

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A Copa do Mundo Feminina de 2023 foi um grande sucesso. Dentro das quatro linhas, grandes partidas, surpreendentes decepções, histórias construídas e roteiros alterados nos instantes finais. Na parte extracampo, recordes de audiência para streamings e canais de televisão, grandes mobilizações e barreiras ao chão.

Porém, os holofotes voltados para as mulheres escancararam também problemas recorrentes na sociedade e que precisam parar de infertilizar um terreno tão proveitoso como o futebol feminino, que crescerá nos próximos anos e ampliará sua imagem no meio mundial. Confira com o Lance! alguns dos pontos positivos e negativos da Copa Feminina de 2023, além dos próximos passos da modalidade.


SALDO POSITIVO
Dentro da parte tática e técnica das jogadoras, algo comumente criticado por quem pouco acompanha o futebol feminino, notou-se uma evolução muito grande em todas as seleções. As seleções do continente africano, como Nigéria e África do Sul, superaram o estereótipo de que atletas negras só jogam na base da velocidade e da força física e mostraram uma aplicação estratégica gigante, superando adversárias de peso e tradição no futebol mundial. O Japão, por outro lado, deixou para trás os problemas de estatura e pouca força física, compensando em um jogo tático de dar inveja e alcançando a fase semifinal.

Muito devido a esta evolução, surpresas e mais surpresas foram vistas durante a Copa do Mundo. A Jamaica, por exemplo, eliminou o Brasil e conseguiu vaga nas oitavas de final sob a batuta de Lorne Donaldson. A Alemanha, da mesma forma, caiu na fase de grupos após derrota para a Colômbia de Linda Caicedo e empate com a Coreia do Sul. A Suécia, que corria por fora, fez uma competição exímia ao passar pelo grupo da morte com autoridade e eliminar EUA e Japão no mata-mata, esbarrando apenas na campeã, com gol de Olga Carmona nos minutos finais.

Os roteiros sensacionais que a Copa trouxe fizeram jus aos números fora de campo. A CazéTV, que transmitiu todos os jogos, bateu recordes atrás de recordes em streamings no futebol feminino. A Globo dobrou o patamar da faixa horária durante os jogos do Brasil na fase inicial, enquanto o SporTV teve a audiência multiplicada em 10 vezes. Na faixa da madrugada, um aumento de 200% para o canal fechado.

Barreiras ideológicas também foram superadas. Quinn, atleta do Canadá, se tornou a primeira pessoa trans não-binária a participar de um jogo de Copa. Sam Kerr celebrou a classificação da Austrália beijando sua namorada Kristie Mewis (jogadora dos EUA), fato repetido por Alba Redondo após a goleada da Espanha frente à Zâmbia. Nouhalia Benzina, zagueira marroquina, foi a primeira jogadora a usar a peça de roupa hijab na história da competição. A árbitra brasileira Edina Alves Batista se transformou na pessoa brasileira com mais jogos apitados em Copas, superando Carlos Eugênio Simon. O futebol, mais do que nunca, é lugar de quem quiser estar.

ONDE MELHORAR?
Porém, ainda há um grande disparate em relação às tratativas com o futebol masculino. Os investimentos são escassos na maioria das seleções, mesmo as que tem mais tradição. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, prometeu aumentar esses investimentos a partir de agora. Infelizmente, foi necessário um vexame para a Jamaica para que isso acontecesse.

Falando em Jamaica, a ida das Reggae Girlz ao Mundial foi cercada por uma crise com a federação nacional. As jogadoras precisaram de uma vaquinha feita por Sandra Phillips-Brower, mãe da meio-campista Havana Solaun, para conseguir custear a ida à Austrália.

O público brasileiro ainda não parece estar preparado para receber uma Copa do Mundo. Na estreia da competição, em duelo entre Nova Zelândia e Noruega, a produção da Cazé TV precisou desativar o chat do YouTube após uma enxurrada de comentários machistas, que criticavam as jogadoras e até o influenciador Casimiro Miguel, afirmando que ele havia "se rendido à lacração".

A balança é mais positiva do que negativa, no fim das contas. Há grande evolução em relação aos anos anteriores de futebol feminino e a forma como o mundo abraçou a competição foi digna de recordes e histórias incríveis. A Espanha completou também o seu conto de fadas e ergueu o troféu pela primeira vez em sua história, batendo a Inglaterra por 1 a 0, com gol da lateral Olga Carmona.

PRÓXIMA PARADA: BRASIL?
A próxima Copa do Mundo Feminina, que acontecerá em 2027, pode ter como país-sede o Brasil. O presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, afirmou ter intenção de trazer a competição para o território brasileiro e fechar a dobradinha, já que quer também sediar o centenário da Copa masculina na porção sul do continente americano.

- Queremos tomar a oportunidade para anunciar a que intenção não é somente abrir portas e mostrar nossa cara por aqui. A intenção é afirmar que estamos prontos para trazer a Copa do Mundo Feminina de 2027 ao Brasil e em 2030 sediar a Copa masculina, onde tudo começou cem anos antes. Queremos que o mundo veja que na América do Sul, a magia do futebol atravessa países. O futebol integra e nos identifica, é uma parte essencial de nossa cultura - disse Domínguez.

No fim das contas, o saldo da Copa do Mundo Feminina supera os problemas que as mulheres vivenciaram nas últimas semanas. A disputa na Austrália deixa saudades para quem acompanhou do início ao fim e um gostinho de "quero mais" para a Seleção Brasileira. Que venha a edição de 2027!

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