‘Você acha que dá para fazer futebol assim?’, pergunta presidente do pior time do Brasil em 2016

Atlético de Roraima foi o lanterna do Estadual que está em último no ranking da CBF. Clubes da região sentem saudades do amadorismo, que acabou em 1995

Atlético Roraima disputa atualmente o Campeonaro de Roraima Sub-20
(foto:Divulgação)

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O pior futebol do Brasil tem saudades do amadorismo. No ranking das federações montado pela CBF, Roraima é a última colocada. O Estadual de 2016 teve apenas quatro times. Ninguém sabe quantos estarão em campo em 2017. Os públicos são indigentes. Se quiser, a torcida não precisa pagar ingressos para ver os jogos, já que os campos são abertos. Não há dinheiro para concluir o estádio construído para, teoricamente, ser subsede da Copa de 2014.

- Eu vou te contar quando o futebol aqui acabou. Foi em 1995, quando aconteceu a profissionalização das equipes. Ali, acabou tudo – constata Carlos Alberto dos Santos, presidente do Atlético Roraima.

A equipe foi a última colocada do mais fraco Estadual do País em 2016 e as trapalhadas do Atlético resumem os apuros dos times de Roraima. Foram seis jogos disputados no ano. Cinco derrotas e um empate. Dois gols marcados e 24 sofridos.

- É difícil achar quem tenha condição de arcar com um time competitivo para participar desse campeonato. A gente sobrevive com o mínimo possível. Não apenas o Atlético. Todas as equipes – constata Adroir Bassorici, presidente do Náutico.

Ao pedir para parcelar a rescisão contratual de um jogador do clube chamado Alex Goes, Bassorici foi agredido a socos e pontapés.

No caso do Atlético Roraima, as receitas no ano passado foram de R$ 17 mil. Descontadas as despesas, sobraram R$ 288,31. Ironicamente, o apelido do time é “milionários”. Quase uma falsidade ideológica.

- Você acha que dá para fazer futebol assim? A gente precisa se esforçar para pagar um salário bom para os reforços - questiona Carlos Alberto.

No futebol de Roraima, “salário bom” é R$ 1 mil por mês, mais café da manhã, almoço e jantar.

Ao LANCE!, o presidente confessa decepção. Nesta temporada, fez parceria com empresa local, a MM Eventos, que ficou encarregada de cuidar de todo o futebol. Na estreia, a equipe entrou em campo para enfrentar o Baré com dez jogadores. Apenas oito eram profissionais. Dois foram chamados do Sub-20. Sem goleiro, o lateral Zezinho foi improvisado no gol e as luvas só chegaram no intervalo. No banco de reservas estavam apenas os integrantes da comissão técnica. Não havia nenhum atleta. Quando o contrato de parceria foi acertado, ficou combinada a contratação de 16 reforços. Chegaram quatro.

Claro que o Atlético Roraima perdeu: 4 a 0.

- No dia da partida contra o Baré, descobri pela Federação que os nomes dos jogadores que deveriam ter sido contratados não estavam no BID (Boletim Informativo Diário) da CBF. Eu não tinha o que fazer – lamenta Carlos Alberto.

Seria até possível ficar compadecido da situação do clube, se a falta de atletas fosse novidade. Em 2014, diante do mesmo Baré, o Atlético atuou com nove porque os outros também não haviam sido inscritos. A partida foi interrompida aos 20 minutos do segundo tempo depois de dois serem expulsos e outro se contundir. Três jogadores de Minas Gerais denunciaram o clube por dormirem em galpão sem refrigeração e por receberem qualquer dinheiro. Moradores locais fizeram vaquinha para que eles pudessem voltar para casa.

atletico roraima , Wesley Oliveira , Bruno Chagas  e Carlos Alberto, presidente do Atlético Roraima
Carlos Alberto (à dir.) preside o Atlético (Foto: Nailson Wapichana)

No ano anterior, o elenco ficou uma semana sem treinar porque a diretoria não achava campo. O grupo tinha 28 jogadores e nenhum goleiro. Eles reclamaram salários atrasados e não terem condições de pagar alimentação ou comprar produtos de higiene pessoal.

Os dirigentes garantem que na época do amadorismo, antes de 1995, nada disso acontecia.

- Havia mais dinheiro – resume Bassorici.

- A gente recebia subsídios da Prefeitura e do governo do Estado. As pessoas iam aos estádios. Os torneios eram mais disputados. Hoje em dia, para conseguir a transferência do registro de atleta, tem de pagar R$ 350 ou R$ 400. Se vier da Federação Paulista, tem de pagar R$ 1 mil. Não tem condições – alega Carlos Alberto.

Ele afirma ser “contra político”, mas o que mais sonha, assim como todos os colegas, é receber dinheiro público.

- Não gosto de política, mas a gente precisa de ajuda. A Prefeitura de Rio Branco, pelo menos, ainda oferece estrutura – completa.

Apesar das queixas, o Atlético é o maior campeão de Roraima na era do profissionalismo. Tem oito títulos e três vices.

O futebol do Estado é mais um daqueles casos em que todos reclamam, mas ninguém abandona o barco. O presidente da Federação, José Gama Xauad, está no cargo há 39 anos.

- A gente até pensou em ficar fora do campeonato deste ano. Mas ele (o parceiro) chegou e disse que ia dar certo. Mas não deu. Acho que, em 2017, vai dar. Graças a Deus, sou muito conhecido aqui. Tenho de fazer dar certo – explica Carlos Alberto.

A esperança dele é um empresário paulista de futebol. Também diz conhecer “um amigo do Zico” que deseja ajudar.

O pior do time do Brasil em 2016 vive na corda bamba. Reflexo do que é o futebol de Roraima.

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