ANÁLISE: Derrota não foi surpresa, e Seleção Brasileira precisa definir um rumo ‘para ontem’

Brasil não era favorito contra Senegal e tem urgência para saber o que fará da vida. Ramon é mais uma vítima

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Seleção Brasileira foi derrotada por Guiné com um resultado que não foi surpresa (Foto: Joilson Marconne/CBF)

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Imagine você trabalhar em uma empresa em que não há um chefe definido, nem um direcionamento de seus afazeres, nem uma organização mínima para entender a quem recorrer em caso de necessidades gerais. Ruim, né? Pois é... Assim deve se sentir o elenco da Seleção Brasileira enquanto espera uma definição sobre o novo técnico. O reflexo está na atuação e na derrota por 4 a 2 para Senegal. O resultado é vergonhoso, mas não é surpreendente. O que causa surpresa mesmo é encarar com naturalidade um período tão longo sem um treinador efetivo. É preciso definir um rumo de forma urgente.

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Colocar a culpa pelo desempenho ruim em Ramon Menezes chega a ser covardia. É claro que foi ele que convocou, foi ele que escalou, que treinou, etc. No entanto, seria ele o personagem ideal para estar ali neste momento? A questão não é nem julgar a capacidade, mas sim a ocasião. Ramon é técnico do sub-20 da Seleção e estava dirigindo os jovens no Mundial da categoria quando teve que convocar o selecionado principal. A situação não faz sentido, mas aconteceu. Ramon é vítima nessa história, não réu. É ele quem acaba levando as pedradas das críticas.

O Brasil jogou mal, não há como negar isso. Um time desorganizado, sem esquema definido, sem variações de jogadas que não fossem jogar a bola para Vini Jr. fazer alguma coisa. Na defesa, por exemplo, fazia muito tempo que não se via uma atuação tão fraca. Não à toa que a última vez que se tomou tantos gols em uma partida foi na trágica Copa de 2014. E pensar que Senegal poderia ter feito mais do que os quatro merecidos tentos. A equipe africana jogou muito melhor, é mais organizada, tem um time de fato, não um amontoado de jogadores.

Pior do que um amontoado de jogadores, é um amontoado de jogadores sem saber qual é o plano da Seleção para o futuro. Como querem que o time jogue? Quem comandará essa transição? Ancelotti está mesmo fechado? Ramon permanecerá na comissão técnica? Quem é que manda do departamento de seleções? Nada disso foi respondido publicamente e parece que nem mesmo internamente. Trata-se de uma Seleção sem rumo.

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Contra Guiné, que não é um adversário muito exigente, a qualidade acaba se sobressaindo e encobrindo os buracos da falta de organização. Mas diante de um rival "pronto" como Senegal, aí não há perdão. O time mais competente e mais eficiente vai vencer sempre nessas condições. Hoje, o Brasil não é competente (no aspecto coletivo) e passa longe de ser eficiente, até porque claramente não sabia o que fazer com a bola a não ser entregá-la para Vini Jr.

Se a ideia da entidade era entregar plenos poderes a Carlo Ancelotti de qualquer forma, mesmo que tivesse que aguardar o término do contrato do italiano com o Real Madrid, era preciso ter feito um plano de transição melhor do que esse. No "dia 1" após a saída de Tite (sabida desde o início de 2022), já deveria ter um técnico pronto para fazer esse trabalho até a chegada do tão sonhado alvo da CBF. Alguém que compartilhasse das ideias de Ancelotti e que tivesse identificação com seus métodos de trabalho. O que temos hoje é algo aleatório.

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Por isso, se a ideia for mesmo esperar por Ancelotti e confiar na palavrar do treinador do Real Madrid, é preciso definir uma transição de forma urgente, é preciso estabelecer um rumo para "ontem", porque a derrota é somente uma consequência, não o fato novo. Do jeito que está, a tendência é somente piorar e entregar um time em farrapos, sem confiança, sem comando, sem identidade, sem nada. Ainda dá tempo de corrigir a rota, mas com a consciência de que esses erros cometidos serão "cobrados" a qualquer momento.

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