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NFL com Lacalle: os Cowboys precisam mudar radicalmente para chegarem ao Super Bowl

Com Jerry Jones à frente do time, existe chance dos Cowboys chegarem ao Super Bowl?

Jerry Jones comprou o Dallas Cowboys em 1989 (Imagem: Richard Shotwell/Invision/AP)
imagem cameraJerry Jones comprou o Dallas Cowboys em 1989 (Imagem: Richard Shotwell/Invision/AP)
Dan Lacalle
Colunista
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 04/11/2025
20:01

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Se você começou a acompanhar futebol americano nos anos 90, há uma boa chance de ainda sentir nostalgia pelo som da torcida dos Cowboys explodindo a cada corrida de Emmitt Smith ou passe perfeito de Troy Aikman. Não é o meu caso, eu comecei a acompanhar em 2010. Mas a verdade é que, esse som, para a torcida de Dallas, virou uma espécie de vinil raro: bonito, clássico, mas que não toca mais. E parece que nenhum "album" que veio depois disso dá a mesma energia.

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A última vez que os Cowboys levantaram o troféu Vince Lombardi foi ao final da temporada 1995, no Super Bowl XXX, em 28 de janeiro de 1996. Desde então, uma combinação de escolhas de gestão, azar em momentos decisivos e ciclos que nunca fecharam direito, mantiveram a franquia fora do topo.

O dono dos Cowboys que também é GM

Jerry Jones não é apenas o proprietário mais famoso e rico da NFL. Ele também segue com as funções executivas que normalmente cabem a um General Manager. Isso deu certo em eras passadas (os anos 90, por exemplo), mas também criou um risco óbvio: concentração de decisões difíceis em uma única pessoa.

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Ao longo das décadas, críticas sobre a gestão direta de Jones e a dificuldade dele em delegar se tornaram um refrão entre analistas e torcedores. O site oficial do Dallas Cowboys e perfis do próprio Jones confirmam que ele acumula títulos de proprietário, presidente e general manager. Não seria muita coisa para um profissional de 83 anos? Talvez.

Claro que existe aquela questão. Assim como Silvio Santos entendia de cabo a rabo todos os detalhes de como fazer uma televisão dar certo, Jerry Jones sabe cada jarda sobre o funcionamento de um time de futebol americano de sucesso. Ele comprou os Cowboys em 1989, passou por altos e baixos e sabe os caminhos para o sucesso. Mas o problema é que, com o tempo, esses caminhos, assim como a experiência de Jones, também mudaram.

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Por que isso importa? Porque no futebol americano moderno, quem constrói escala competitiva consistentemente tende a ter um departamento de futebol profissionalizado, com distribuição clara de responsabilidades. E os demais times entenderam isso. A importância de ter alguém só para a função de recrutar, gerir, e tomar decisões de campo. Ter um dono com poder de GM funciona em picos, mas cria ruído político e decisões de curto prazo quando a coisa aperta.

Talvez isso tudo ainda seja um trauma de quando ele não era o "cara" entendedor do futebol americano nos títulos que teve, já que tinha técnicos e atletas incríveis a disposição. E, talvez, nesses últimos 30 anos ele vem buscando mostrar que consegue, sim, montar por conta própria um elenco campeão do Super Bowl, tomando as decisões por todas as linhas do campo.

Mas independente se isso é trauma ou não, os Cowboys é quem estão pagando o preço. E o time de Dallas revive, todos os anos desde então, o inferno das reconstruções eternas: franquia rica, mas com jogadores de peso saindo no ano seguinte por falta de tato com os jogadores (vide Micah Parsons) e um Quarterback que não dá conta do recado. Ou, quando dá, é a linha ofensiva que não dá conta. Ou a defesa. Tem sempre um porém - que tem que cair em quem toma as decisões relacionadas a montagem do elenco. Ou seja, Jones.

Na maior parte das temporadas recentes os resultados de temporada regular respeitáveis. A contrapartida é um histórico de eliminações dolorosas. Quer um exemplo? A derrota-surpresa na rodada wildcard contra o Green Bay Packers por 48–32 em 14 de janeiro de 2024, em casa, que escancarou problemas defensivos e de ajuste tático em jogos de alta pressão. E isso que aquele Packers também decepcionou seus torcedores, depois (eu fiquei tristíssimo).

Os números mostram isso: os Cowboys seguem entre as franquias historicamente vencedoras. Cinco Super Bowls no currículo não é para qualquer um. Mas converter isso em aparições nas finais da NFL simplesmente não acontece. Embora o clube tenha mantido sucesso comercial e temporadas regulares fortes (até porque precisamos tirar o chapéu para Jerry Jones e como ele foi um pioneiro do Marketing na NFL e mudou o esporte para sempre) a trajetória pós-1995 é de altos e baixos em playoffs, sendo que o "baixo" sempre aparece como uma exclamação no final da temporada.

Problemas no projeto em toda temporada da NFL

Entre 1996 e hoje, os Cowboys testaram diversos caminhos: contrataram veteranos, apostaram em jovens promissores, tentaram ajustes táticos e sofreram com saídas e lesões em momentos cruciais. O ciclo recente mostra que, mesmo quando o time chega com potencial (temporadas de 12–5, por exemplo), o desempenho na pós-temporada e a manutenção do nível ao longo do tempo não se consolidam. Em 2024 o time teve uma queda brusca e terminou 7–10, ficando de fora dos playoffs, o que culminou na decisão de seguir com a demissão do Mike McCarthy (o que já podiam ter feito antes).

Trocar peças e técnicos é normal. O problema é quando as mudanças não atacam a raiz: cultura de decisão, modelo de avaliação de jogadores e clareza sobre filosofia de jogo. Uma organização campeã tem que ter em mente a mentalidade vencedora. Mas os Cowboys parecem que, muitas vezes, só improvisam soluções ao invés de construir um processo vencedor.

Os Cowboys são o "Time da América". E isso por si só já cria uma dupla pressão: mídia constante e expectativa irreais. Quando o elenco não corresponde, a crítica é mais feroz e a paciência menor. O valor da franquia e visibilidade tornaram a sombra do fracasso mais pesado do que para os demais times. Consequentemente, cada erro de gestão vira manchete e, muitas vezes, reformulações de elenco às pressas, para ver se conseguem beliscar algo - vide a atual trade deadline.

O distanciamento dos Cowboys de um Super Bowl não é fruto de uma única fatalidade. É o resultado de décadas em que decisões corporativas, escolhas técnicas e diversos jogos sem atitude se somaram. Para redefinir a trajetória, a franquia precisaria, de cara, separar a função de dono da de gestor de futebol americano, além de profissionalizar ainda mais a tomada de decisão e construir um processo mais eficaz de montagem de elenco. E, claro, torcer para a sorte sorrir nos playoffs.

Dallas vai continuar vendendo camisas, enchendo o estádio e dando assunto. Mas, além desses pontos, um time com tanta história e peso na camisa merece muito mais. Merece acordar com o troféu Vince Lombardi, todos os anos, no horizonte (e saber que consegue alcançá-lo).

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