NFL com Lacalle: a liga assumiu os riscos e começou a dar aula de expansão global
A NFL "ganhou" desafios diários para a expansão do futebol americano para o mundo

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Se você acha que a NFL só vive touchdowns e tackles, é melhor começar a pensar de novo. Nos últimos anos, a liga vem montando um plano sofisticado e multifacetado para levar o futebol americano muito além dos Estados Unidos e está usando todos os artefatos possíveis para isso: jogos internacionais, streamings, programas de desenvolvimento, direitos de marketing em diversos países e parcerias comerciais. Ou seja, o esporte se alinhou ao entretenimento, trabalho forte de branding e expansão global, tornando tudo isso uma combinação estratégica.
Um dos pilares dessa expansão é o chamado Global Markets Program, lançado pela NFL em 2022. Ele concede a cada franquia os "direitos de marketing internacional" em regiões geográficas específicas, para que possam desenvolver a marca, fazer ações com torcedores para aumentar sua base, eventos estratégicos e, claro, trabalhar em cima do licenciamento e merchandising fora dos EUA.
Por exemplo, em 2025 o programa adicionou quatro novas franquias e dois novos mercados, elevando a participação para 29 clubes em 21 mercados internacionais. Isso significa que mais times da NFL estão ativamente "plantando sementes" fora de casa e literalmente indo onde há oportunidade de crescimento de fãs.
Isso, para o fã de futebol americano, é um ponto incrível. Aproxima as franquias dos torcedores, traz a possibilidade de jogos internacionais com estádios lotados e, principalmente, encanta a todos que antes só conseguiam sentir a presença da NFL pela televisão. Essa proximidade e senso de comunidade foi algo que vimos despontar aqui no Brasil, nos últimos anos.
A NFL já realiza há anos, desde 2007, jogos fora dos Estados Unidos. Começaram em Londres e expandiram para Berlim, Frankfurt, São Paulo, entre diversas outras cidades. E há ainda o anúncio de uma sequência de jogos em Madrid, e em países como Austrália e de novo um jogo no Brasil, para o ano que vem. Isso, no plano comercial, reforça que a NFL não é apenas uma liga americana, mas que sim, vem buscando ser uma marca global. Assim como a NBA conseguiu já há alguns anos.
Streaming e acessibilidade de conteúdo
Não vou mentir. A assinatura de um NFL Gamepass no início da temporada pode não ser tão acessível, já que este serviço é focado no fim do funil do fã de NFL, visto que quem assina é aquele torcedor mais heavy user. Mas, agora, a plataforma anunciou realizar todos os jogos da rodada com narração e comentários em português. E, ainda, a liga vem buscando colocar a competição em cada vez mais plataformas acessíveis.
Jogos com transmissão ao vivo e de graça no Youtube e em TV aberta ajudam a expandir ainda mais o que é o futebol americano para um público que as vezes não tinha tanto contato. Expandir para o mundo exige mais do que mandar um time para um jogo internacional. É preciso garantir que os fãs internacionais tenham acesso ao produto. E nesse sentido, a NFL tem investido fortemente em plataformas digitais, parcerias de streaming e conteúdo local.
Além da liga principal, a NFL investe em formatos mais acessíveis internacionalmente. Por exemplo, programas como o International Player Pathway permitem que atletas de fora dos Estados UNidos entrem na liga, ajudado a criar identificação local de torcedores. E isso já aconteceu duas vezes no Brasil, com Durval Queiroz Neto e Leandro Santos, ambos selecionados pelo programa, mas que não tiveram uma trajetória longa na competição.
Ainda, há também o crescimento do formato do flag football, que a liga tem impulsionado como parte de sua estratégia global de crescimento e como ponte para os Jogos Olímpicos. Isso, combinando o núcleo de torcedores que consomem o esporte de forma mais assídua, mas também, atingindo o público emergente de novos países, que passam a ter contato com uma modalidade mais descomplicada de assistir.
A ambição é grande e os números suprem a necessidade da NFL de seguir como a liga esportiva mais lucrativa do planeta. Mas há desafios reais: logística de deslocamento, diferenças de fuso horário (em Londres mesmo eu tentei assistir ao Sunday Night Football e foi impossível. Assisti até o final do terceiro quarto e já eram quase 4 da manhã), riscos de lesão em viagens longas, saturação do calendário, além da questão cultural de que em muitos países o futebol americano é nicho. Um fã em Berlim ou São Paulo ainda estará comparando com futebol da bola redonda. E é um desafio diário desmistificar esse preconceito.
E antes fosse esses serem o maior desafio da liga. Mas sim, a maior dificuldade é tocar tudo isso sem que pareça tudo marketing. Até porque os torcedores de esportes americanos são extremamente inteligentes - e vão perceber.
A NFL tem sido sutil em um trabalho desafiador
Vale eu ressaltar o óbvio aqui. Quanto mais audiência global, mais patrocínios, licenças, direitos de mídia, merchandising e parcerias internacionais. E, claro, o cuidado com a marca é uma das principais diretrizes da NFL. Ela não quer ser apenas mais "uma liga americana". Mas sim, a National Football League busca ser o "futebol americano para o mundo". E, claro, o futuro importa. Ao fortalecer suas bases fora dos Estados Unidos, a liga se protege de riscos do mercado doméstico saturado e abre espaço para crescimento de longo prazo.
Em termos práticos, se daqui a cinco ou dez anos um fã no Brasil, Índia ou Nigéria puder assistir, entender, torcer e consumir conteúdo da NFL com quase a mesma naturalidade de um norte-americano, significa que a estratégia deu certo.
Eu, particularmente, vejo toda a estratégia da NFL como exemplar para um esporte que busca ser globalizado. Movimentos inteligentes, abrangentes e milimetricamente bem executados. E com todas as dificuldades, a chave para equilibrar todo esse espetáculo é uma coisa que eu amo: fazer com que os torcedores internacionais sejam cada vez mais parte da história, e não apenas espectadores distantes.
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