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Lauter no Lance!: Ah! Mas que sujeito chato sou eu, que não acha nada engraçado…

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Urso Misha, mascote de Moscou-1980, marcou a abertura
imagem cameraUrso Misha, mascote de Moscou-1980, marcou a abertura e encerramento
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 22/07/2025
15:36
Atualizado há 2 minutos

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… Era um domingo cinza e quase frio de verão. Na tarde/noite do dia 3 de agosto de 1980, em plena cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Moscou, tida como a “Olimpíada Triste”, que de tão triste, a recordação mais lembrada - agora nesse futuro distante - é a do ursinho Misha chorando por meio de um espetacular mosaico humano, nas arquibancadas do Estádio Olímpico.

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Talvez Misha estivesse chorando pelos atletas que não puderam participar, desta e da seguinte olimpíada, por conta de um estúpido boicote, proposto por Jimmy Carter, presidente americano, em retaliação à invasão soviética no Afeganistão, em dezembro de 1979. Carter e seu estafe se esqueceram que a Olimpíada seguinte seria em Los Angeles e haveria troco do bloco socialista. E houve!

Leonid Brezhnev, primeiro-ministro soviético e seu sucessor, Konstantin Chernenko, trabalharam em silêncio e, na hora certa, propuseram o boicote, aceito prontamente pelos países do bloco socialista quase todo, e mais alguns países-satélite. Com isso, uma geração de estupendos atletas se perdeu. Centenas de grandes histórias deixaram de ser escritas e, por consequência, contadas, ao longo de quase uma década.

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Esporte atrelado à política e a batalhas

Lanço mão deste enredo histórico para constatar o quanto o esporte, principalmente o esporte olímpico, está atrelado à política e a batalhas, políticas e militares. Tanto os Jogos de Moscou, em 1980, e o de Los Angeles, em 1984, apesar dos boicotes, tiveram razoável participação: 82 e 140 países, respectivamente, mas com uma enorme e incalculável perda de qualidade.

Recentemente, temos notado uma movimentação enorme do Comitê Olímpico russo e de seu comandante geral, quase caudilho, desde 1999, Vladimir Putin, de forçar o retorno olímpico (a partir do próximo ano, nos Jogos de Inverno) da Rússia. Neste momento o país está proibido de participar de competições internacionais por conta da descoberta de um sistema, quase estatal, de uso de doping, em várias modalidades, encoberto pelas federações esportivas russas e compactuada com o Comitê Olímpico Russo. E reforçada a proibição por conta da invasão à Ucrânia, em 2014, com a anexação da Crimeia.

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Campeonato Mundial de Atletismo em 2013

Meses antes, em agosto de 2013, a Rússia sediou o 14º Campeonato Mundial de Atletismo, tentando passar uma impressão de normalidade política internacional. Foi um Mundial, no mínimo, estranho. Havia cheiro de pólvora no ar! A tensão nas arquibancadas do velho Estádio Olímpico (o que viu Misha chorar, lembram?) era quase palpável. Duelos esportivos que contavam com a presença de russos e ucranianos, como a final da prova de salto em altura masculino, onde os grandes favoritos eram a dupla ucraniana e a trinca russa (essa estava pronta para ocupar o pódio completo).

Neste dia, presenciei a força de mobilização de um povo historicamente oprimido, na casa de seu opressor. A arquibancada, por encanto, se tingiu de azul e amarelo. Foram mais de 30 mil deles que atravessaram a fronteira e “deram o troco” invadindo Moscou, e levando o “ouro dos tolos”.

Que festa linda, dentro do parque olímpico, e o desfile desse exército de eufóricos soldados da paz, descendo a avenida banhada pelo Rio Moscou. Que linda batalha, onde não se derramou uma gota de sangue, mas muito suor e até lágrimas, que se confundiam em rostos felizes e orgulhosos. De forma pacífica terminaram, em frente o enorme e suntuoso Hotel Saturn, sob olhares atentos de soltados e policiais russos. O dia terminava em paz e vitorioso.

Eles não tinham ideia do que aconteceria meses depois! A tensão e pequenas incursões russas ao território ucraniano, que acontecia desde 2009, sistematicamente, em fevereiro de 2014, se transforma em invasão, e escala de forma quase viral. A guerra, enfim se tornou realidade, dolorosa realidade.

Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi em 2014

Saltemos no tempo, como o grande campeão do salto em altura em Moscou, Bohdan Bondarenko, e pousemos na bela e inexpugnável Sochi, em fins de fevereiro de 2014, durante os Jogos Olímpicos de Inverno. Que linda festa do esporte. Mas, dias após o fim dos Jogos, a Rússia anexa a Crimeia à força, muita força. E, em 6 de abril, inicia batalha sangrenta em Dombas. Coincidência? Quantas vidas valiam uma medalha de ouro?

Copa do Mundo de 2018

É hora de nos prepararmos para mais um salto no tempo, para 2018. Quem lembra da Copa do Mundo da Rússia? Que cidades belas, aconchegantes, povo pacato e gentil (e as minorias? São respeitadas?), tidos por todos como Copa da Paz. Afinal estava em andamento uma cúpula entre ministros dos dois países com o novo e surpreendente Zelensky, que estavam prestes a encontrar o caminho da paz.
Findado o Mundial, três semanas depois, fecham-se as portas do Kremlin, o duro Putin endurece a fala e retorna às batalhas de fronteira e bombardeios sistemáticos.

E a tal da paz? Fica para uma próxima ocasião, afinal Zelensky quer a proteção da Otan. Mais um “ouro de tolo” pendurado no peito da humanidade. Ah, esses russos! Bem que meu avô falava do tal de “ouro de Moscou”.

Retorno da Rússia ao esporte?

Agora, com a punição ao esporte russo, pelas peraltices éticas e bélicas, eles começam a, tristemente, querer usar novamente o esporte como cortina de fumaça ao se candidatarem a sediar o Mundial de Atletismo de 2029 e os Jogos Olímpicos de 2036. Mas a batalha mais próxima já acontece contra o Conselho Executivo do COI (Comitê Olímpico Internacional) na tentativa desesperada de seus atletas poderem competir sob a bandeira de seu país, e não como atletas neutros*, nos Jogos Olímpicos de Inverno do próximo ano, na Itália.

A pressão russa é enorme, mas existirá sempre um Bondarenko para frear os ímpetos beligerantes de Moscou, e não deixar que pendurem em nossos peitos mais um ouro de tolo sem o menor brilho!

“… Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...”
Ouro de Tolo, Raul Seixas

Lauter Nogueira

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Lauter Nogueira escreve sua coluna no Lance! todas as terças e sextas. Confira outras postagens do colunista:

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