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Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais: relembre o que era, campeões e regras

Torneio colocou em campo seleções formadas pelos melhores jogadores dos estados.

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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 19/10/2025
07:32
Seleções de São Paulo e do então Distrito Federal (Rio de Janeiro) protagonizaram a maior rivalidade do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. (Reprodução)
imagem cameraSeleções de São Paulo e do então Distrito Federal (Rio de Janeiro) protagonizaram a maior rivalidade do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. (Reprodução)

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O Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais foi disputado entre 1922 e 1987, destacando talentos regionais.
A competição nasceu em um contexto de fragmentação do futebol, promovendo rivalidades entre estados e democratizando o acesso aos melhores jogadores.
Apesar de sua extinção, deixou um legado importante na formação da identidade do futebol brasileiro, rivalidades regionais e palcos históricos.
Resumo supervisionado pelo jornalista!

Antes do protagonismo absoluto dos clubes e do calendário nacional moderno, o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais foi uma vitrine de talentos e identidades regionais. Disputado majoritariamente entre 1922 e 1962, com uma edição derradeira em 1987, o torneio reunia os melhores jogadores atuando nos clubes de cada estado — a convocação era vinculada ao estado do time do atleta, e não ao local de nascimento. Assim, um mineiro como Pelé pôde defender a Seleção Paulista, por jogar no Santos. O Lance! relembra o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

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O campeonato nasceu num Brasil de futebol ainda fragmentado por ligas e federações, com o eixo São Paulo–Distrito Federal (Rio de Janeiro) ditando o ritmo técnico e político do jogo. A competição, organizada ao longo do tempo por CBD/CBF e pela dissidente FBF (em meados da década de 1930), serviu como laboratório tático, palco de rivalidades e grande fonte de manchetes, quando os estaduais eram longos e as excursões internacionais de clubes começavam a ganhar força.

A primeira edição, em 1922, já expôs a essência do torneio: São Paulo 4 a 1 Distrito Federal, no Parque Antarctica, em final exaltada pela imprensa paulista pela “técnica impecável” de seus dianteiros. Ainda nos anos 1920 e 1930, o campeonato ajudou a formar a memória do torcedor sobre craques e estilos estaduais, com goleadas estrondosas e arquibancadas cheias em praças históricas como Laranjeiras e o próprio Parque Antarctica.

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O auge veio com a consolidação do confronto entre paulistas e cariocas (à época, Distrito Federal), que monopolizaram a maioria dos títulos. Ainda assim, houve respiros e surpresas — Bahia foi campeã em 1934 (CBD) e Minas Gerais quebrou a hegemonia em 1962, já em tempos de transição, quando a Taça Brasil e as competições continentais deslocavam o foco do calendário para os clubes.

Nos anos 1960, a força crescente das competições entre clubes (Taça Brasil, depois Libertadores e Intercontinental), as agendas de excursões e a necessidade de liberar jogadores para a Seleção Brasileira tornaram o torneio de seleções estaduais um corpo estranho no calendário. Em 1987, a CBF ainda tentou um epílogo, vencido pelo Rio de Janeiro, mas sem o prestígio de outrora e com público modesto, selando o fim de uma era.

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Origem e contexto histórico do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais

O nome oficial dado pela CBD — “Campeonato Brasileiro” ou “Campeonato Brasileiro de Futebol” — situa a competição como um embrião do que viria a ser a organização nacional do esporte. Já havia antecedentes simbólicos: a Taça Brasil de 1907 (entre seleções do Rio e de São Paulo) e experiências da FBF nos anos 1930. A disputa de seleções estaduais, porém, foi a primeira a se sustentar por décadas, com 30 edições somando os períodos CBD/FBF/CBF, alternando cadências anuais, bienais e trienais conforme crises, pacificações institucionais e ajustes de calendário.

A década de 1930 trouxe tensão entre amadorismo (CBD) e profissionalismo (FBF). Em certos anos, houve duas versões (CBD e FBF), e em 1937 a FBF migrou para um torneio entre clubes — um capítulo que, décadas à frente, alimentaria debates sobre as origens do Brasileirão.

Como funcionava: formato e regras

O formato variou ao longo das décadas, mas manteve alguns pilares:

  1. Seleções estaduais formadas por jogadores que atuavam em clubes daquele estado.
  2. Fases eliminatórias ou quadrangulares finais, com jogos em ida e volta ou em sede única, de acordo com a edição.
  3. Critérios de desempate clássicos do período (saldo, prorrogação e, em edições mais recentes, pênaltis).
  4. Calendário móvel, ora anual, ora com intervalos maiores, conforme as demandas de estaduais, excursões e amistosos da Seleção Brasileira.

Em momentos específicos, o campeonato conviveu com torneios paralelos (amadores, juvenis e juniores) e com competições regionais entre seleções, refletindo a capilaridade do futebol no país.

Campeões e hegemonias no Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais

A disputa foi marcada pela dupla hegemonia de Rio de Janeiro (ao longo do tempo como Distrito Federal, depois Guanabara e, em 1987, já como Rio de Janeiro unificado) e São Paulo:

  • Rio de Janeiro / Distrito Federal / Guanabara: 15 títulos ao todo, sendo o último em 1987.
  • São Paulo: 13 títulos, incluindo os pioneiros de 1922 e 1923, e conquistas importantes nas décadas seguintes.
  • Bahia (1934 – CBD) e Minas Gerais (1962): títulos que romperam a lógica do eixo e deram lastro nacional ao torneio.

A primeira edição (1922) consagrou São Paulo, e a derradeira (1987) ficou com o Rio. Entre esses marcos, as finais e quadrangulares reuniram também Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Ceará, Espírito Santo, entre outros, compondo um mosaico competitivo e identitário.

Jogos marcantes e goleadas históricas

O campeonato também entrou para o folclore pelo placar elástico de algumas partidas, características de um futebol ainda em formação tática e de profundas assimetrias regionais. Entre os resultados mais lembrados estão:

  • São Paulo 16 x 0 Santa Catarina (1926), no Parque Antarctica.
  • Pernambuco 15 x 0 Paraíba (1939).
  • São Paulo 13 x 0 Minas Gerais (1922) e Rio de Janeiro 13 x 1 Sergipe (1927).

Essas goleadas não eram regra, mas mostram como o torneio também serviu para medir forças, acelerar processos de profissionalização e estabelecer parâmetros técnicos entre estados.

Artilheiros e craques

Alguns dos maiores nomes do período brilham nas listas de artilharia do campeonato. O lendário Arthur Friedenreich e Neco despontam já em 1922; Petronilho de Brito (1926), Nilo (várias edições), Russinho (1929) e tantos outros ajudaram a popularizar o torneio. Décadas depois, na edição final de 1987, ídolos como Romário e Roberto Dinamite apareceram pela seleção do Rio, um testemunho de como a competição seguia capaz de atrair estrelas — mesmo quando o modelo já parecia anacrônico.

Por que o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais acabou

Três vetores empurraram o Campeonato de Seleções para fora do calendário:

  1. Nacionalização do futebol de clubes com a Taça Brasil (a partir de 1959) e, posteriormente, competições continentais (Libertadores) e intercontinentais.
  2. Internacionalização da agenda dos clubes, que multiplicaram excursões e compromissos, tornando inviável ceder seus principais jogadores com frequência para seleções estaduais.
  3. Ascensão da Seleção Brasileira como produto global após os títulos mundiais, competindo por datas e prioridades de convocação.

O resultado foi o espaçamento crescente entre edições, perda de tração esportiva e comercial e, por fim, a inativação. A tentativa de 1987 — em meio à ebulição política do futebol de clubes e à Copa União — rendeu um título ao Rio de Janeiro, porém com baixa adesão de público e sem continuidade.

Legado

Mesmo extinto, o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais deixou marcas importantes. Ele ajudou a forjar a rivalidade entre centros, deu palco a craques fundacionais, consolidou estádios e torcidas como atores do espetáculo e registrou, em súmulas e manchetes, placares históricos que ainda alimentam a memória do torcedor. Sobretudo, serviu de ponte entre um país de futebol estadualizado e o Brasil que, aos poucos, organizaria um calendário nacional de clubes capaz de dialogar com a América e com o mundo.

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