Qual o impacto do esporte no PIB do Brasil? Veja números e análise de especialista
Indústria do esporte no país tem participação dentro do esperado nas cifras gerais, mas ainda depende muito do mercado de varejo

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na sexta-feira (30) o balanço do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) no primeiro trimestre de 2025. O órgão é o responsável por levantar os números e registrou uma alta de 1,4% m comparação com os três últimos meses de 2024. Entre os setores que movimentam a economia brasileira está o mercado esportivo, responsável por movimentar R$ 130 bilhões anualmente. Qual o impacto dessas cifras para o PIB brasileiro?
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O Lance! Biz conversou com Amir Somoggi, sócio-fundador da Sports Value, em marketing, negócios e finanças no esporte. Na entrevista, o especialista destacou que o cenário no Brasil está dentro dos parâmetros de impacto da indústria esportiva em outros países do mundo, onde ocupa cerca de 1,5% do total do PIB, em atividades que englobam muito mais do que receitas de clubes de futebol, salários pagos a atletas e premiações por títulos em diversas modalidades.
O ecossistema do esporte dentro do PIB é composto por diversos setores, que vão das atividades diretamente ligadas à prática esportiva, seja ela profissional ou amadora, até o impacto do varejo, por exemplo, que tem um peso importante em território brasileiro. Segundo Somoggi, o comércio de produtos esportivos é o "carro-chefe" que compõe a indústria esportiva no país, chegando a ser responsável por 60 a 70% da cifras totais, ou algo em torno de 70 a 80 bilhões de reais.
Ao contrário do que muitos pensam, o futebol, apesar de ser o esporte mais popular do Brasil, não tem força para conduzir a indústria esportiva como a parte mais representativa. Amir Somoggi detalha que o mercado de "running e fitness" podem ser apontados como os que mais faturam e mais alavancam o setor esportivo no Brasil.
- Por exemplo, no varejo, não o futebol o mais popular. O running, que não é o esporte mais popular no país, é muito importante para o mercado. Essa indústria do esporte no Brasil depende muito do varejo. Em comparação aos Estados Unidos, por exemplo, que até tem o maior varejo do mundo, o PIB não depende muito disso. Lá eles tem um desenvolvimento muito maior do esporte profissional em relação aqui. O Brasil não depende muito no PIB tanto dos times, tanto das ligas quanto nos Estados Unidos, por exemplo, mas poderia ser melhor - afirma o fundador da Sports Value.
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O cenário apontado por Amir reflete uma realidade onde a estruturação do esporte profissional no Brasil ainda não atingiu seu mais alto nível e pode expandir, não só em tamanho, mas em qualidade também, o que ajuda a alavancar os números. Nos EUA, por conta do histórico de investimento em esportes, têm uma participação maior das ligas profissionais dentro do seu PIB que, vale ressaltar, é muito maior que o do Brasil.
- A NFL sozinha é responsável por quase 20 bilhões de dólares, mais de R$ 114 bilhões. As ligas brasileiras não movimentam tanto quanto na Europa e nos Estados Unidos. Por isso, a indústria do esporte, a indústria do futebol no Brasil está muito vinculada ao varejo - completa.
Somoggi ressalta que em território brasileiro a moda casual tem sido bastante impatante para a indútris esportiva. Ou seja, a compra e venda de itens que fazem parte do mercado esportivo, como camietas de times, tênis de corrida e até peças conhecidas como streetwear fazem parte desse universo da indústria esportiva, mas são consumidas por um público que vai além.
- A marca Vans, por exemplo, é muito consumida no Brasil. O Vans é para andar de skate, teoricamente, é uma venda da indústria do skateborading, que também é da indústria do esporte, mas não é o futebol. Mas muitas vezes a pessoa compra e nunca subiu em um skate. O mercado brasileiro evoluiu muito com essa coisa do casual. As pessoas nem praticam tanto esporte - afirma.

Políticas públicas e o impacto no esporte
A indústria de esportes no Brasil não funciona de forma independente. Isso significa que existe um cenário mais amplo que impacta diretamente no seu desenvolvimento ou estagnação. A ação do Governo Federal com políticas públicas voltadas não só para o setor esportivo, mas também para saúde da população impacta diretamente nesses números.
Amir declara que o governo brasileiro deveria tratar essa questão como uma política do Estado e trabalhar como uma frente importante. Isso diz respeito ao incentivo à prática esportiva e facilitação do acesso ao esporte na população. O impacto é econômico e de bem-estar para os brasileiros.
- Quanto mais pessoas praticarem esporte, mais impacto na economia. Se você é praticamente de esporte, você frequenta a academia, compra roupa, contrata personal trainer, gasta com vitaminas... se você têm uma população mais ativa e saudável, as pessoas têm mais saúde, você reduz gastos públicos com a saúde. Evitar doenças que são causadas pelo mau estilo de vida. Nisso tudo ainda é possível fomentar o esporte, e esse fomento desenvolve o esporte profissional - explica.
O especialista alerta, porém, que as frentes de políticas sociais interferem diretamente nessa cadeia, pelo fato do Brasil se tratar de um país com uma alta taxa da população em baixa renda, o que compromete muitas vezes o acesso às práticas esportivas que são custosas, como as academias. Por isso, ações para acesso gratuito a quadras, parques e escolinhas formam jovens atletas contribuem para a indústria da população como um todo.

Solução para o futebol
O movimento para transformar o futebol brasileiro mais presente entre as cifras do PIB brasileiro é complexo e depende diretamente de ações da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A entidade máxima do futebol no país ainda trabalha para desenvolver globalmente as marcas do clube e das suas competições, afim de atrair mais investimento do mercado estrangeiro. Amir cita, por exemplo, a Premier League, que é a liga doméstica mais consumida internacionalmente, onde tem 53% do faturamento com transmissões fora da Inglaterra.
- O futebol no Brasil não tem esse movimento, é praticamente zero. Esse movimento gera a entrada de muitos dólares para o PIB de um país, mas hoje, aqui, a única forma disso acontecer é com venda de jogador. Então você está vendendo a matéria-prima, que é o atleta, e não está ganhando nada em troca além de notas de dólar por aquela venda específica. Agora, quando você vende um espetáculo, você cira uma cadeia produtiva. Em Manchester, por exemplo, as pessoas viajam para ver o United ou City, vão à Espanha ver o Real Madrid e o Barcelona. Tem um fomento ao desenvolvimento econômico e social - destaca.
Para ele, esportes como vôlei tem um potencial interessante de crescimento por conta da qualidade técnica apresentada pelo times e pela seleção nacional, além do basquete, que tem aumentado o interesse entre o público brasileiro - por conta da NBA - mas tem uma liga ainda pouco desenvolvida em território nacional.
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