Quando surgem os torcedores? Estudo aponta 'idade crucial' na escolha do clube do coração
Decisão está ligada a momentos da infância, quando experiências deixam impressões duradouras

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A escolha de um time costuma parecer fruto de afinidade, influência familiar ou simples acaso. No entanto, estudos indicam que a decisão pode estar ligada a momentos específicos da infância, quando experiências marcantes deixam impressões duradouras e formam os torcedores. Títulos, grandes campanhas e ídolos vistos ainda nos primeiros anos de vida tendem a definir, muitas vezes de forma inconsciente, as preferências esportivas que acompanhamos até a vida adulta.
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Um estudo do cientista de dados Seth Stephens-Davidowitz, em colaboração com Bill Marsh e publicado em 2014 no "The New York Times", reforça essa relação. Usando o beisebol como exemplo, a pesquisa mostra que o desempenho das equipes durante a infância, especialmente na faixa dos 8 anos, influencia diretamente qual time uma pessoa apoia na vida adulta — sobretudo entre homens.
A análise foi baseada em dados públicos do "Facebook Ads", que indicam a quantidade de torcedores de cada equipe, separados por idade e gênero. O levantamento mostrou que a proporção de torcedores do New York Yankees em relação aos do New York Mets varia fortemente conforme o ano de nascimento. Homens nascidos em 1961 e 1978 tendem a torcer mais pelos Mets, anos em que o time venceu a World Series. Entre mulheres, essa variação por idade é muito menor.
Segundo Stephens-Davidowitz, a influência do sucesso esportivo na infância é significativa. Ele modelou a probabilidade de uma pessoa apoiar uma equipe considerando idade, gênero e desempenho do time durante cada ano de sua infância. O resultado apontou que o pico de influência ocorre aos 8 anos.
— Se um time vence a World Series quando um garoto tem 8 anos, a probabilidade de ele torcer por esse time na vida adulta aumenta cerca de 8% — afirmou o autor.
Depois dos 14 anos, o efeito diminui rapidamente. Um título aos 20 anos tem apenas um oitavo da influência de um título aos 8. O modelo, contudo, mostra que o sucesso de uma equipe deixa marcas duradouras. Stephens-Davidowitz exemplifica com o caso do St. Louis Cardinals, que venceu três campeonatos nos anos 1940.
— Cerca de 20% dos torcedores homens de 80 anos do Cardinals hoje não seriam fãs do time se não fosse pela campanha daquela época — explicou.
O pesquisador destaca que outros fatores também moldam o gosto dos torcedores, como herança familiar e identificação cultural, mas o sucesso esportivo exerce papel determinante. Ele também observou que o impacto de vitórias não se limita ao curto prazo.
Tradicionalmente, economistas mensuram o valor de um título por meio do aumento imediato nas receitas — como ingressos, bebidas e produtos —, mas os dados indicam que as vitórias também criam novos torcedores de longo prazo, algo não captado nas análises convencionais.
Stephens-Davidowitz calcula que a conquista da World Series de 2012 pelo San Francisco Giants, por exemplo, gerou aproximadamente US$ 33 milhões em valor presente líquido apenas pelo aumento de torcedores entre 5 e 15 anos, além das receitas imediatas.
— Uma temporada de campeonato é pelo menos duas vezes mais valiosa do que se imaginava — concluiu.
O autor aponta ainda que as descobertas podem se estender a outras áreas da vida. Ele cita pesquisas que relacionam experiências da juventude a escolhas políticas e comportamentais na vida adulta. Entre os exemplos, estudos de Ebonya Washington e Sendhil Mullainathan mostram que eleitores tendem a manter o apoio ao partido em que votaram pela primeira vez, enquanto Ulrike Malmendier e Stefan Nagel identificaram que quem cresce em tempos de crise econômica tende a ser mais avesso ao risco.
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— Sou obcecado pelos Mets e acho que essa obsessão explica parte da minha decepção com a vida adulta. Os Mets me conquistaram quando eu era garoto, e os dados mostram que, se eu tivesse nascido dez anos antes ou depois, provavelmente não estaria nessa situação — encerra Stephens-Davidowitz, com um tom pessoal.

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