“Promessa que não vingou”: ex-Santos viraliza com histórias de base
Marco Rotondano chegou a jogar com Bruno Henrique e Rodrygo

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No Brasil, a linha entre virar ídolo e cair no esquecimento pode ser tão fina quanto o joelho de um lateral em fim de treino. Marco Rotondano, ex-promessa com passagens por Cruzeiro, Coritiba, Santos e Criciúma, tinha bola de sobra para brilhar. Mas ficou marcado por uma combinação explosiva: talento, lesões, falta de cabeça — e um apelido que até hoje arranca risadas: Cachaça.
— Bola eu sempre tive. Quem jogou comigo sabe. Eu só queria jogar futebol, não existia outro assunto pra mim. Mas eu não tinha a cabeça que precisava, e o futebol não perdoa — define Marco, hoje com 26 anos.
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Autointitulado "promessa que não vingou", Rotondano trabalha com vendas e compartilha histórias dos tempos de base com leveza e desenvoltura, trazendo alegria aos seus seguidores, além de falar da realidade nem sempre glamourosa das categorias de base. E já ultrapassa a marca de 160 mil só no Instagram.
Recentemente, foi reconhecido pela Bundesliga e virou influenciador da liga alemã no Brasil, e falou da sua trajetória em entrevista ao Lance!.
Malas prontas
Nascido em São Paulo, filho de mãe baiana e pai paulista, Marco cresceu entre mudanças constantes. Passou por Ubáira (BA), Aracaju (SE) e Belo Horizonte (MG), até se firmar nas categorias de base do Cruzeiro. A adaptação, porém, não foi fácil.
— Sempre fui apaixonado por futebol. Escola, folga, fim de semana… era só bola. Mas em Aracaju não tinha base, quase nenhuma oportunidade. Então, comecei a viajar sozinho com times locais para peneiras em Minas, São Paulo, Espírito Santo. Dormíamos em colégios, em colchonetes. Com 13 anos, fui para Belo Horizonte e me alojei na Toca da Raposa 1, do Cruzeiro. Foi o início da minha vida de base — diz ele.
Se o campo era o espaço da leveza, fora dele começava a se acumular um peso invisível: a saúde mental. Solidão, ansiedade e a rotina de treinos intensos minavam a cabeça de um garoto que, até então, só queria bola.
— Eu ia pro treino pensando em dar o meu melhor, mas voltava pro quarto e batia aquele vazio. Isso ninguém vê, mas conta muito — diz ele, que também dá dicas a jovens que sonham em ser jogadores através da produção de conteúdo.
A fama de “Cachaça”
No Coritiba, Marco encontrou seu melhor momento. Despontou rapidamente, ganhou destaque e parecia pronto para explodir. Só que junto com as boas atuações veio também a fama fora de campo.
— Na frente do treinador, os caras me chamavam de ‘Cachaça’. Imagina? Todo mundo já sabia. Eu não tava nem aí, era moleque. Gostava de festa, de sair, e isso me queimou um pouco — conta.
A alcunha pegou. Dentro do vestiário, virou piada. Fora, era um estigma. Para quem tinha o talento para virar referência, “Cachaça” virou sinônimo de falta de disciplina.

Saúde mental no limite
A pressão para corresponder, somada às lesões, levou Marco a momentos críticos. Em um episódio marcante, experimentou LSD, uma droga sintética, sofreu uma crise e precisou ser internado.
— O médico me disse que eu podia ter morrido. Foi a hora que eu pensei: ‘O que eu tô fazendo com a minha vida?’. Mas mesmo assim, continuei tentando — diz ele.
No Criciúma e depois no Penapolense, tentou recomeçar. Mas o aspecto físico já não acompanhava o talento.
— Eu estava esgotado. Jogava mais contra mim mesmo do que contra o adversário. Não tinha paz, só cobrança e medo — relembra Marco, que não costumava falar do tema, mesmo com amigos e familiares.

Boa fase no Santos e baque das lesões
Se a fama fora de campo já complicava, as lesões terminaram de arruinar o plano de carreira. No Santos, em 2017, Marco estava no melhor momento técnico da vida. Mas no dia 24 de dezembro, durante um treino, o joelho estalou sozinho.
— Foi meu presente de Natal. Eu sabia que tinha perdido a maior chance da minha vida. Estava pronto pra subir pro profissional, mas do nada, acabou — conta Marco.
O lateral passou por duas cirurgias no joelho e ainda sofreu uma ruptura de posterior que “abriu 15 centímetros”. O drama físico se somava ao psicológico.
— Você entra em campo só pensando em não se machucar. E quando joga com medo, já acabou. Eu sentia isso, e era doloroso. Eu estava lá, mas já não era eu — completa.
O adeus à bola
Em 2020, durante a pandemia, Marco tomou a decisão mais dura: pendurar as chuteiras.
— Eu já não jogava pra me destacar, jogava pra não me machucar. Chegou uma hora que eu percebi: acabou. O futebol tinha me tirado muito mais do que dado — destaca.
O personagem que ficou
Se a carreira terminou cedo, a figura de Marco Rotondano segue viva como personagem. O garoto talentoso, o lateral chamado de “Cachaça”, o promissor que quase foi.
— Eu virei aquele ‘quase’. Mas, sabe? Eu prefiro ser lembrado assim do que não ser lembrado. Eu tenho história, eu tenho risada pra contar. E no fim, é isso que fica — reflete o influencer.
De promessa a personagem, Marco é a lembrança de que o futebol não vive só de títulos e craques. Vive também das histórias de quem ficou pelo caminho, mas deixou sua marca.
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