Luiz Fernando Gomes: ‘VAR na história e no futuro’

Aperfeiçoar procedimentos e garantir a transparência dos critérios pode ser próximo passo

VAR
Mundial deste ano está entrando para a história como a 'Copa do VAR' (Foto: Luis Acosta/AFP)

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Há algumas maneiras de uma Copa entrar para a história. Um time dos sonhos como o Brasil de 70; uma seleção inovadora, que introduza uma nova forma de jogar ainda que não seja campeã, como a Holanda do Carrossel; um recorde no número de gols marcados - a de 1954 na Suíça foi a maior com média de 5,38; um jogo, porque não, que beira o inacreditável, como os 7 a 1 da Alemanha em 2014.

Nunca antes, contudo, a arbitragem foi a marca maior de um Mundial. Até esta Copa, nivelada por baixo, em que a raça, muito mais do que a tática ou a técnica tem dado emoção às partidas, que definitivamente entrará para os almanaques da história como a "Copa do VAR".

Os números, para quem gosta de estatísticas, sao acachapantes. Desde a já distante estreia da França contra a Australia, em que a tecnologia interferiu na marcação dos três gols do jogo - um validado pelo chip na bola, é verdade - o VAR, de acordo com o balanço da própria comissão de arbitragem da Fifa, foi acionado 17 vezes na primeira fase da Copa, com um nível de de acerto de 99,3% em suas decisões.

E este é um ponto fundamental. Esse 0,7% fazem a diferença. O que são erros e acertos afinal no uso do vídeo? Surgido para evitar polêmicas o VAR tem gerado polêmicas. Como não ter sido acionado no suposto pênalti sobre Gabriel Jesus e no empurrão sobre Miranda naquele Brasil x Suíça da nossa estreia, ou no desfecho do lance de cotovelada de Cristiano Ronaldo, livrando-se da expulsão em Portugal x Irã. Jogadas como tantas outras na primeira fase deste Mundial, que contribuiram para alimentar o discurso dos defensores do atraso, os avessos da tecnologia.

Sim, há muito o que fazer e muito o que se apreender sobre o uso do VAR. Um ponto chave e que não poderá agora ou nunca ser esquecido é que o VAR é humano. Há olhos de gente por trás e diante das câmeras que vigiam o jogo nas quatro linhas. A definição se houve ou não impedimento, se uma falta foi dentro ou fora da área e de quem foi o jogador que agrediu a outro é fácil. O problema vem quando entra a interpretação. E é inevitável, por mais que Fifa não queira, que ela surja. Não só no julgamento se houve ou não um pênalti, mas, mesmo antes disso, na decisão se o VAR deve ou não ser consultado.

A autoridade do juiz em campo, o que sopra o apito, tem de ser preservada. Isto é um fato. O desafio é fazer da tecnologia uma aliada cada vez mais inquestionável de quem comanda o espetáculo é tem de decidir sempre. Aperfeiçoar procedimentos e garantir a transparência dos critérios pode ser o próximo passo.

No vôlei, assim como no tênis, o direito de pedir a revisão das jogadas duvidosas não se restringe aos árbitros. Os treinadores – no caso do tênis os próprios jogadores - podem solicitar o tira-teima nos lances polêmicos. São dois desafios por set no vôlei mas se a reclamação se confirmar, o time tem direito a fazer outro, e assim indefinidamente. Esse, talvez seja um caminho natural de evolução do VAR no futebol, democratizando o acesso à ferramenta e evitando que a interpretação equivocada de um juiz, ao não acioná-la, mantenha erros que possam comprometer o resultado de uma partida, jogando toda a tecnologia pelo ralo.

Ideias sobre a mesa de discussões é que não faltam. E isso faz parte de todo novo processo em implantação. O que não se pode permitir, a Fifa tem obrigação de assegurar isso, é que haja retrocessos. Uma coisa é incontestável: se as coisas ainda estão confusas com o VAR, certamente estariam muito pior sem ele.

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