Campo Neutro: Por que os EUA têm poucos nadadores negros de elite?

José Inácio Werneck fala sobre o menor número de nadadores negros de destaque nos EUA

Estados Unidos - Campeões Olímpicos da Natação - Revezamento 4x100
Colunista do LANCE! fala sobre predominância branca de atletas de alto rendimento na natação americana (Foto: OLI SCARFF / AFP)

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Amigos, ontem fui assistir a uma competição de atletismo entre escolas secundárias, aqui chamadas de High Schools, em uma cidade próxima. Nível excelente. Fiquei refletindo em como, desde os tempos de Jesse Owens, na década de 30, de Carl Lewis, na década de 80, os Estados Unidos dominam o atletismo mundial. Dominam sobretudo com seus atletas negros, enquanto, na natação, dominam com seus nadadores brancos. Cabe a pergunta: por que quase não vemos nadadores americanos negros?

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Muitas teorias já foram apresentadas e uma das mais repetidas é a de haver alguma incompatibilidade da raça negra com a natação: explicações como uma maior densidade óssea, que levaria o nadador negro a flutuar menos do que o branco. E assim por diante.

A verdade é que a explicação para o pequeno número de grandes nadadores negros nos Estados Unidos é muito simples e está à vista de todos. Tem a ver, paradoxalmente, com a mesma razão que explica a força do sistema esportivo dos Estados Unidos em geral.
Está no fato de que o esporte nos Estados Unidos é baseado sobretudo em sua imensa rede de escolas públicas.

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Ao contrário de outros países, como o Brasil, em que o esporte é baseado em clubes, nos Estados Unidos o esporte é baseado em escolas. Morando aqui há mais de 30 anos, posso assegurar que as competições esportivas das High Schools da rede pública são frequentes, imensas, notáveis, assistidas por um público
fervoroso e delas saem atletas do mais alto nível.

Foi o que vi ainda ontem, com atletas de diversas raças - e muitos negros se destacando. Devemos atentar para algo importante: as High Schools dependem muito do dinheiro dos impostos das cidades em que estão situadas. Aí está o mistério da separação: as cidades ricas são aquelas dos chamados “subúrbios”. Nelas vive a população “afluente” - a população branca que, apesar da passagem dos anos,
apesar da eleição de um presidente negro, como Barack Obama, é a que predomina.

As escolas em tais cidades tem não apenas campos de futebol e ginásios de basquete, mas piscinas ou fácil acesso a piscinas em sua vizinhança. Esses centros de educação chamados “inner cities”, com grande população negra, tem instalações muito mais deficientes e entre suas dificuldades está a de achar piscinas para o treinamento de seus alunos

Mas vejam: uma família negra com mais posses, residindo nos chamados “subúrbios” - e volto a enfatizar que “subúrbio” aqui é o oposto de “subúrbio” no Brasil - oferece a seus filhos as oportunidades que lhes são negadas nas “inner cities”.

Comprovo isto com um fato muito simples: a melhor representante de uma equipe chamada Tsunami, reunindo alunos de diversas escolas secundárias desta parte do estado de Connecticut, onde moro, é uma negra, cujo nome prefiro não divulgar. Melhor tanto entre as moças quanto entre os rapazes.

Não é verdade que os negros nadem mal. O que lhes falta é oportunidade.

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