Figuras da Torcida: revoltado com Grupo City, Binha virou sinônimo de ser Bahia
Torcedor-símbolo do Tricolor, Binha conta sua história em entrevista ao Lance!

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Sou um torcedor simples, humilde e modesto. Mas tenho aqui, guardados, mais de 800 ingressos de jogos acompanhando o Bahia fora do estado. Eu desafio qualquer torcedor a ter 800 ingressos guardados, de viagens acompanhando o seu clube pelo Brasil e pelo mundo".
Binha de São Caetano
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Com muita irreverência e rapidez na fala, Flávio Alexandre, de 65 anos, faz questão de dizer que é um torcedor do Bahia como qualquer outro. Apesar das centenas de viagens, perrengues e provas de amor ao time do coração, ele poderia até ser mais um entre milhões de apaixonados pelas cores azul, vermelha e branca, mas a sua marca registrada é única e conhecida por toda Salvador como um sinônimo de ser tricolor: Binha de São Caetano.
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Uma das figuras das torcidas espalhadas pelo Brasil, Binha contou em entrevista ao Lance! que o apelido surgiu ainda na infância, durante sua peregrinação pelos bairros da capital baiana em busca dos babas em comunidades como Fazenda Grande, Boa Viagem, Ribeira e Liberdade, local onde nasceu.
Foi na juventude, inclusive, que ele despertou para o futebol. A paixão, que antes estava só nas brincadeiras, se espalhou pelas arquibancadas da Fonte Nova.
- Comecei a acompanhar mesmo lá pelos anos 70 e não parei mais: 79, 80, 81, 82, 83... e por aí vai. Tenho 65 anos agora, graças a Deus com saúde, paz e alegria - lembra com orgulho.
- Minha paixão começou muito cedo. Com 15 anos, fui pela primeira vez acompanhar o Bahia fora, em Fortaleza. E na Fonte Nova antiga, vi o Bahia botar mais de 150 mil pessoas. Era ingresso para mais de 110 mil pagantes, mas tinha muito mais gente: Bahia e Fluminense, Bahia e Santos... mais de 120 mil. Bahia e Internacional, em 88 e 89, era um mar de gente - contou.

Já na vida adulta, Binha passou a morar em São Caetano, bairro popular de Salvador que virou quase um sobrenome. Binha, sem dúvidas, é um dos moradores mais famosos do local. Quando desceu do seu apartamento para receber a reportagem do Lance!, em uma rua pouco movimentada, pessoas paravam para saudar o torcedor ilustre que estava com o escudo do Bahia da cabeça aos pés.
- São Caetano é simples, mas tem tudo. Não tem Nova Iorque, Rio de Janeiro, Europa... Aqui é o melhor lugar do mundo.

Torcedor que chega junto
Aposentado, Binha é aquele torcedor que respira o Bahia no dia a dia. O escudo do time do coração está por todos os lados, camisas e acessórios ocupam todo o espaço do guarda-roupa e até as TVs são em tamanho suficiente para se sentir dentro do estádio. Tanto a da sala quanto a do quarto aparentavam ter por volta de 60 polegadas, o suficiente para tomar a parede inteira.
Mas a televisão é o último recurso usado por Binha para ver um jogo do Bahia. O negócio dele é ir ao estádio e testemunhar o evento com os próprios olhos, independente do lugar. Hoje ele tem o suporte de pequenas e médias empresas locais que custeiam suas viagens em troca de divulgação nas redes sociais e exibição da marca em um bandeirão especial que ele leva para os jogos.
- Rapaz, o Bahia interfere em tudo. Eu uso a camisa do Bahia 24 horas. Quando você chegou aqui, eu estava com a roupa do Bahia. Minha vida é essa: bandeira do Bahia na parede, outra bandeira ali… e meus ingressos. Tenho mais de 800 ingressos de jogos fora do estado, fora do Brasil. Aqui tem Bahia e Juventude, Bahia e Inter, Bahia e Bragantino… Bahia e Cuiabá, Bahia e Palmeiras… Eu desafio qualquer torcedor que tenha isso - disse em tom efusivo e eufórico ao mesmo tempo.

Binha está presente na torcida do Bahia em quase todos os jogos. Dias antes da entrevista, o Tricolor enfrentou o Cruzeiro em Belo Horizonte sem seu torcedor ilustre nas arquibancadas, que não viajou por conta de um procedimento médico. Mas a viagem para a Colômbia já estava comprada para acompanhar Bahia e Atlético Nacional, pela Libertadores.
Ex-projetista industrial, ele trabalhava embarcado em Macaé, no Rio de Janeiro, e aproveitava a proximidade com o "principal eixo" do futebol brasileiro para assistir aos jogos do Bahia in loco. Foi assim que começou a tradição de acompanhar o time em todos os momentos, das glórias às quedas. Ele ainda faz questão de reafirmar sua fidelidade ao clube e critica alguns torcedores.
- Agora tem muito torcedor de "Fonte Nova Nova", né? Quando o Bahia estava na Série C, quem viajava era eu e outros poucos. Hoje, na Libertadores, todo mundo viaja. Mas quero ver quem foi a Patos, Cajazeiras, Linhares… Viajar para o Rio, São Paulo, Belém, Porto Alegre é fácil. Quero ver viajar na Série C.

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Grupo City que se cuide
Ex-candidato a vereador e a presidente do Bahia, Binha tem perfil explosivo e um forte extinto de mudança. É comum ver vídeos dele circulando pela internet em que ele se mostra indignado com a nova gestão do clube. A grande maioria desses conteúdos vira meme pela fala irreverente, rápida e por vezes confusa. Mas uma coisa que deu para perceber durante o papo com o torcedor ilustre é que a revolta parece ser verdadeira.
- Sou crítico ao City, sim, mas agora já foi vendido. A gente, como torcedor, tem que apoiar. Espero que o Bahia ganhe a Copa do Brasil, o Brasileirão, a Libertadores, o Mundial e a Copa do Nordeste, que é obrigação - diz Binha, em menos de 10 segundos.
Desenfreado, ele continua o desabafo.
- Quando não tinha dinheiro, fomos campeões brasileiros, fomos pra Libertadores, para a Sul-Americana, ficamos em quarto no Brasileiro. Hoje temos dinheiro e brigamos pra não cair? Estamos cansados! Esse papo de "projeto City para daqui a 20 anos" não dá. Se eu fosse diretor, contratava os melhores jogadores do mundo.

O Grupo City oficializou a compra de 90% da SAF do Bahia no início de 2023 e passou a administrar integralmente o futebol da instituição. O acordo é para que sejam investidos R$ 1 bilhão em 15 anos, com aquisição de jogadores, pagamento de dívidas e infraestrutura. Mas o vínculo entre o conglomerado e o time baiano permanecerá em vigor por 90 anos, com possibilidade de ser prorrogado.
Por isso, o Grupo City trabalha com um crescimento a médio e longo prazo, que deve resultar em um maior protagonismo do Bahia no cenário nacional e continental. Os resultados, inclusive, começaram a aparecer, a exemplo da classificação para disputar a Libertadores de 2025 depois de ficar 36 anos fora da competição.
Mas, para Binha, esse discurso não é suficiente. Ele quer ver o Bahia campeão o quanto antes.
- Se o City comprou, e é bilionário, tem que montar um time campeão, igual o Botafogo: foi comprado e, em dois anos, ganhou Brasileiro e Libertadores. Por que o Bahia vai esperar 20 anos? - questiona.

E Binha tem uma sugestão de time na ponta da língua, escalação nada modesta que ele repetiu rapidamente e quase sem pausa pelo menos três vezes ao longo da entrevista.
- A única equipe do Brasil que pode ser campeã a qualquer momento é o Bahia City, porque o City tem dinheiro que nunca acaba. Pode contratar quem quiser: Arrascaeta, Pedro, Gerson, Bruno Henrique, os dois zagueiros da Holanda, Alemanha, os meias do Marrocos... Mané, os meias da Argentina, goleiros da Alemanha e da Holanda - aponta o torcedor, que sinaliza Abel Ferreira como o treinador ideal.
As críticas são pesadas, os memes na internet, inúmeros... mas o Bahia define muito o dia a dia de Binha. É o termômetro da vida de um dos moradores ilustres de São Caetano, conhecido, acima de tudo, por ser um dos mais fanáticos tricolores. E ele tem o maior orgulho disso.
- O Bahia é minha vida, meu orgulho, meu amor. Não importa a divisão, sou Bahia de coração!
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